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Publicado em 10/12/2024 as 10:00am

Brasileiro participa de experimento na Califórnia para reduzir arrotos de vacas

A intenção é desenvolver soluções para reduzir a emissão desse gás, que tem um impacto climático significativo.


Dr. Paulo De Méo Filho

O cientista brasileiro Paulo de Méo Filho, pesquisador de pós-doutorado da Universidade da Califórnia (UC) em Davis, está à frente de um projeto inovador que busca reduzir as emissões de metano, um gás de efeito estufa liberado pelas vacas durante o processo de digestão. A pesquisa, que envolve experimentos com bezerros, visa combater um dos principais fatores que contribuem para as mudanças climáticas.

Em um dos testes, de Méo Filho introduz um tubo longo na boca do bezerro "Thing 1", de apenas dois meses, para coletar amostras do líquido do rúmen – a primeira parte do estômago dos bovinos. A partir dessas amostras, os cientistas estudam os micróbios responsáveis pela produção de metano, que é um subproduto do processo digestivo das vacas. A intenção é desenvolver soluções para reduzir a emissão desse gás, que tem um impacto climático significativo.

O impacto do metano nas mudanças climáticas

De acordo com Ermias Kebreab, professor de Ciências Animais da UC, o metano é o segundo maior fator que contribui para o aquecimento global, depois do dióxido de carbono. Embora se decomponha mais rapidamente que o CO2, o metano tem um efeito muito mais potente no aquecimento da Terra. "Quase metade do aumento da temperatura global que experimentamos até agora se deve ao metano", afirma Kebreab.

As vacas, que arrotam grandes quantidades de metano, são uma das principais fontes desse gás. Uma vaca pode liberar até 100 kg de metano por ano, o que representa uma significativa contribuição para as emissões globais. O desafio, então, é encontrar formas de reduzir essa emissão sem comprometer a saúde dos animais ou a produtividade da pecuária.

Soluções em estudo: algas e micróbios modificados

O experimento está testando diferentes abordagens para reduzir a produção de metano. Uma das estratégias é a suplementação da dieta dos bezerros com algas marinhas, uma solução que tem mostrado eficácia na diminuição das emissões. Outra alternativa está sendo o uso de micróbios geneticamente modificados para absorver o hidrogênio presente no rúmen das vacas, bloqueando a produção de metano. A equipe de pesquisa também está testando essas soluções em biorreatores, dispositivos que simulam as condições do estômago dos animais para analisar como os micróbios interagem.

Contudo, os pesquisadores tomam cuidados com as possíveis consequências de mudanças drásticas no ecossistema intestinal dos bovinos. "Não podemos simplesmente eliminar as bactérias produtoras de metano, pois isso pode afetar a saúde do animal", alerta Matthias Hess, diretor do laboratório da UC em Davis. Segundo ele, os micróbios no rúmen das vacas são interdependentes, e qualquer alteração no equilíbrio poderia prejudicar a digestão e a saúde geral dos animais.

Objetivo: um tratamento único para todos os bovinos

O grande objetivo dos pesquisadores é desenvolver um tratamento que possa ser administrado aos bezerros ainda nas primeiras fases de vida, para que o gado não precise de suplementos diários ao longo da vida. Com esse tratamento, a expectativa é não apenas reduzir as emissões de metano, mas também melhorar a eficiência alimentar dos bovinos, o que resultaria em uma produção mais sustentável.

O projeto, que conta com um financiamento de 70 milhões de dólares (aproximadamente R$ 419 milhões), envolve equipes da Universidade da Califórnia em Davis e do Instituto Genômica Inovadora (IGI) da UC em Berkeley. O prazo para obter resultados significativos é de sete anos.

Pecuária sustentável como alternativa à redução do consumo de carne

O professor Kebreab, que estuda práticas pecuárias sustentáveis há anos, também se opõe à ideia de reduzir o consumo de carne como solução para combater as mudanças climáticas. Ele argumenta que, em países em desenvolvimento, como a Indonésia, onde a produção de carne e laticínios é essencial para combater a desnutrição infantil, pedir às pessoas que abandonem o consumo de carne não é uma opção viável. "Não podemos simplesmente dizer às pessoas para não comerem carne", conclui.

Com a pesquisa em andamento, a expectativa é que, ao reduzir as emissões de metano e melhorar a eficiência alimentar, seja possível equilibrar a produção de alimentos com a necessidade urgente de combater as mudanças climáticas.

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