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Publicado em 21/11/2016 as 12:00pm

Trump assusta filhos de brasileiros ilegais

Trump assusta filhos de brasileiros ilegais

Filho de uma trabalhadora doméstica e um operário da construção civil, Brian Rosa fala português com sotaque, nunca colocou os pés no Brasil e tem sonhos típicos de uma criança americana: quer estudar no MIT e ser um engenheiro de computação no Google. Mas seus planos estão ameaçados pela promessa de Donald Trump de deportar milhões de imigrantes ilegais dos EUA, entre os quais, os pais de Brian.

O garoto nasceu há dez anos em Boston e é cidadão americano, assim como sua irmã, Maria Eduarda, de 4 anos. Quando acordou no dia seguinte à eleição americana e soube que Trump havia vencido, o garoto teve uma crise de choro. Como muitos outros filhos de imigrantes ilegais, ele teme ser obrigado a deixar o país em que passou toda sua vida e onde estão seus amigos e quase tudo que molda sua identidade.

“Foi um choque, porque todo mundo achava que a Hillary ganharia”, disse Brian, em referência à candidata democrata. “Eu fiquei com raiva e assustado. Meus colegas na escola também ficaram com medo.” Brian vive em uma região de grande concentração de imigrantes e tem amigos de diferentes países na escola pública que frequenta – muitos deles, filhos de pessoas em situação irregular nos EUA.

Sua mãe, Lucimara Rodrigues, chegou aos EUA há 13 anos, depois de cruzar clandestinamente a fronteira com o México. O pai, Edinaldo Rosa, havia trocado Belo Horizonte por Boston um ano antes. Como muitos dos milhões de imigrantes no país, eles conseguiram prosperar mesmo sem documentos: ambos trabalham, pagam impostos, andam na linha e evitam ao máximo encontros com agentes da lei.

Futuro incerto. A vitória de Trump e de sua retórica anti-imigrante ameaça a base precária em que a família construiu sua vida nos EUA. Cidadãos americanos, Brian e a irmã não podem ser deportados, mas não terão como ficar no país caso seus pais sejam expulsos. “O que o Brasil vai oferecer para essas crianças?”, perguntou Lucimara.

Em Boston, Brian frequenta uma escola pública de qualidade, onde aprende a tocar trompete e a falar espanhol. Neste ano, ele foi incluído em um programa que prepara alunos de baixa renda para a faculdade. Vizinho da Universidade Harvard, ele é beneficiado por programas comunitários da instituição. “Se tivermos de voltar, o governo brasileiro terá um desafio enorme para receber essas crianças. São milhares que cresceram aqui, muitas delas não sabem ler ou escrever em português”, afirmou Lucimara, que é ativista de organizações de defesa de imigrantes.

Não se sabe ao certo quantos brasileiros vivem nos EUA, mas a estimativa mais citada fica em torno de 1 milhão, a maioria sem documentos. A região de Boston tem a maior comunidade, com ao menos 200 mil.

Colônia. A 35 quilômetros da cidade, Framingham é um “pequeno Brasil” no Estado de Massachusetts, onde o português é falado nas ruas e brasileiros são donos de imobiliárias, salões de beleza, padarias, restaurantes e pelo menos quatro empresas de remessa de dinheiro para o exterior. A cada domingo, cerca de 1.200 pessoas se reúnem na Igreja de São Tarcísio para ouvir as missas do padre Volmar Scaravelli, que há cinco anos comanda a paróquia.

É em Framingham que mora a família de Josias Panta Jr., que já viveu 18 de seus 35 anos nos EUA. Seus filhos Maria Gabriela, de 14 anos, e Lucas, de 9, nasceram no país e são cidadãos americanos. “Sair do terceiro mundo e ir para o primeiro é mais fácil. O contrário é muito mais complicado. Meu filho não fala português. Como ele vai se adaptar no Brasil?”, perguntou Panta, que é gerente-geral da principal unidade de uma rede de lava a jato.

Segundo ele, Lucas teve uma crise de choro quando soube que Trump havia ganhado as eleições. “Ele ficou com medo de que os pais, os tios, as tias e a avó tivessem de sair daqui.” Diante de inúmeras crianças com sentimentos semelhantes, o superintendente das escolas públicas de Framingham enviou cartas em inglês, português e espanhol aos pais dos alunos, tentando tranquilizá-los e oferecendo aconselhamento às famílias.

Em linguagem diplomática, ele lembrou que o poder nos EUA é exercido não apenas pelo presidente, mas também pelo Congresso e a Suprema Corte. “Cada um desses ‘ramos’ do governo tem apenas os poderes que o povo lhes concede através da Constituição que guiou nosso país nos últimos 229 anos.”

A incerteza em relação ao governo Trump também levou a um aumento do número pessoas que registram seus filhos como brasileiros no consulado, disse Juliana Silva, que trabalha no Brazilian American Center (Brace), entidade de Framingham que dá assistência a imigrantes. Como as crianças têm dupla nacionalidade, a medida é uma tentativa de comprovar o vínculo com o Brasil na hipótese de os pais serem deportados. Se não tiverem parentes nos EUA e estiverem sozinhas, crianças podem ser colocadas sob custódia do Estado americano.

“Existe uma enorme ansiedade na comunidade”, disse Heloísa Galvão, uma das fundadoras do Grupo Mulher Brasileira, entidade de Boston que atua na defesa de direitos trabalhistas e na promoção do engajamento cívico dos imigrantes. Segundo ela, há relatos de crianças que estão deixando de ir à escola pelo temor de ser deportadas.

A esperança de pais como Lucimara e Panta é a de que Trump abandone suas propostas mais radicais e se concentre na deportação de criminosos, universo que ele estima em 2 milhões a 3 milhões de pessoas. Ainda assim, o horizonte é incerto. “Sempre vai gente boa no meio. O Obama deportou muito pai de família”, disse Lucimara.

Fonte: Da redação

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