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Publicado em 30/04/2017 as 8:00pm

Ex-indocumentado descobre que pai foi seu sequestrador

Alfredo Ramírez, que vive em Boston (MA), é um sobrevivente de um massacre ocorrido em 1982 na aldeia Dos Erres, uma das piores matanças durante a guerra civil da Guatemala

Quando Óscar Alfredo Ramírez abriu aquele e-mail, seu mundo começou a desmoronar. Até aquela manhã de 2011, ele vivia relativamente tranquilo em um bairro de classe média de Boston, Massachusetts, e acreditava ser filho de um guatemalteco de quem herdou o nome.

Aos 31 anos, ele havia conquistado uma vida estável: tinha dois empregos de período integral com os quais mantinha sua esposa, Nidia, e os três filhos.

Mas tudo começou a desmoronar quando ele descobriu sua verdadeira identidade e a razão pela qual ele tinha vivido, desde que podia se lembrar, como um imigrante ilegal nos Estados Unidos.

Pelo e-mail, ele soube que era um sobrevivente de um massacre ocorrido em 1982 na aldeia Dos Erres, uma das piores matanças durante a guerra civil da Guatemala (1960-1996).

E depois de se submeter a exames de DNA, descobriu ainda que o homem que até então era considerado seu pai, e que faleceu em um acidente de carro quando ele tinha quatro anos, Óscar Ovidio Ramírez Ramos, foi na verdade seu sequestrador.

Ramírez Ramos foi um kaibil - membro da tropa de elite das Forças Armadas da Guatemala treinada pelos Estados Unidos para combater o comunismo. Ele participou do massacre e, ao ver aquele menino de três anos, pele clara e olhos verdes, decidiu poupar sua vida e criá-lo como filho.

O caso inspirou o famoso diretor de cinema Steven Spielberg que produziu o documentário Finding Oscar ("Encontrando Oscar", em tradução livre), recém lançado nos EUA, que conta a história e pede por Justiça no caso.

Prova viva

"Você não me conhece". Era assim que começava o e-mail que mudaria a vida de Óscar Alfredo Ramírez e é também dessa forma que começa o documentário.

A mensagem havia sido enviada por Sara Romero, da Unidade de Casos Especiais do Conflito Armado Interno da Procuradoria de Direitos Humanos da Guatemala, depois de anos de investigação.

No e-mail, ela explicou a razão do contato e afirmou que, caso ele fosse realmente quem ela pensava, aquele homem de 31 anos seria "a prova viva da participação do governo militar no massacre".

A matança ocorreu entre os dias 6 e 8 de dezembro de 1982 na comunidade Dos Erres de Petén, um estado ao norte da Guatemala, na fronteira com o México. O clima já estava tenso na região desde setembro, após a morte de 17 soldados porguerrilheiros das Forças Armadas Rebeldes em uma emboscada. O então presidente Efraín Ríos Montt, que assumiu após um golpe de Estado, respondeu ao ataque intensificando a presença militar.

Além disso, de acordo com testemunhos dos sobreviventes do massacre coletados em vários relatórios, incluindo o da Comissão para o Esclarecimento Histórico, nomeada pelas Nações Unidas, o exército pediu aos camponeses de Dos Errespara ajudar a patrulhar as redondezas.

Os camponeses se negaram a fazer o patrulhamento, e o governo os acusou de proteger os insurgentes. Na noite de 6 de dezembro, uma tropa de kaibiles atacou a aldeia.

Durante os três dias seguintes os soldados interrogaram os residentes, os torturam, abusaram de suas mulheres e terminaram por fuzilar dezenas de pessoas, inclusivecrianças, e lançaram os corpos em um poço de 12 metros de profundidade.

Foi o que demonstraram as escavações feitas 12 anos depois, em 1994, por um grupo de antropólogos forenses argentinos contratados pela Associação de

Familiares Detidos e Desaparecidos na Guatemala (Famdegua, na sigla emespanhol), sem nenhum apoio do governo guatemalteco. Somente no poço da aldeia, a equipe encontrou ossos de pelo menos 160 pessoas, 67 delas menores de 12 anos. Apesar disso, se acredita que o número de mortos seja superior a 200.

Fonte: Brazilian Times

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