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Publicado em 13/02/2021 as 1:30pm

Brasil: missionários "influenciam tribos indígenas contra a vacina do coronavírus"

Profissionais de saúde teriam sido atacados com arcos e flechas após visitar uma comunidade indígena no Amazonas

As equipes médicas que trabalham para imunizar as remotas aldeias indígenas do Brasil contra o coronavírus encontraram forte resistência em algumas comunidades onde os missionários evangélicos estão alimentando o medo da vacina, dizem os líderes tribais e defensores. Na reserva de São Francisco, no estado do Amazonas, os moradores de Jamamadi atacaram agentes de saúde com arcos e flechas quando eles os visitaram de helicóptero este mês, disse Claudemir da Silva, um líder Apurinã que representa as comunidades indígenas no rio Purus, um afluente do Xingu.

“Isso não está acontecendo em todas as aldeias, apenas naquelas que têm missionários ou capelas evangélicas onde os pastores estão convencendo as pessoas a não receberem a vacina, que vão virar crocodilo e outras ideias malucas”, disse ele por telefone.

Isso aumentou os temores de que a Covid-19 possa atingir os mais de 800 mil indígenas do Brasil, cuja vida comunitária e saúde muitas vezes precária os tornam uma prioridade no programa nacional de imunização.

Os líderes tribais culpam o presidente de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, e alguns de seus ávidos apoiadores na comunidade evangélica por atiçar o ceticismo sobre as vacinas contra o coronavírus, apesar do número de mortos no Brasil ficar atrás apenas dos EUA.

“Fundamentalistas religiosos e missionários evangélicos estão pregando contra a vacina”, disse Dinamam Tuxá, líder da APIB, a maior organização indígena do Brasil.

A Associação dos Antropólogos Brasileiros denunciou grupos religiosos não especificados em nota na terça-feira (9)  por espalharem falsas teorias da conspiração para “sabotar” a vacinação de indígenas. Muitos pastores das mega igrejas evangélicas urbanas do Brasil estão pedindo aos seguidores que sejam vacinados, mas dizem que os missionários em territórios remotos não receberam a mensagem.

“Infelizmente, alguns pastores que carecem de sabedoria estão espalhando informações erradas para nossos irmãos indígenas”, disse o pastor Mário Jorge Conceição, da Igreja Tradicional Assembleia de Deus em Manaus, capital do estado do Amazonas. A agência de saúde indígena do governo, Sesai, informou em um comunicado que está trabalhando para aumentar a conscientização sobre a importância da imunização contra o coronavírus.

Bolsonaro minimizou a gravidade do vírus e se recusou a tomar a vacina ele mesmo. Ele desprezou especialmente a vacina mais amplamente disponível no país, feita pela chinesa Sinovac Biotech, citando dúvidas sobre suas origens. Em um evento em dezembro, o Presidente ridicularizou a Pfizer porque disse que a empresa se recusou a assumir a responsabilidade por efeitos colaterais nas negociações com seu governo.

“Se você tomar a vacina e virar crocodilo, o problema é seu. Se você se transformar em Superman ou se as mulheres deixarem crescer a barba, não tenho nada a ver com isso ”, disse Bolsonaro sarcasticamente.

A Pfizer disse que propôs garantias contratuais padrão ao governo brasileiro que outros países aceitaram antes de usar sua vacina. A mídia social espalhou falsos rumores sobre as vacinas contra o coronavírus, mesmo em cantos remotos do Brasil. Por exemplo, o chefe tribal Fernando Katukina, de 56 anos, do povo Nôke Kôi, perto da fronteira com o Peru, morreu no dia 1º de fevereiro de parada cardíaca relacionada a diabetes e insuficiência cardíaca congestiva. A notícia se espalhou rapidamente na mídia social e no rádio de que a vacina Covid-19 que ele recebeu em janeiro havia causado sua morte.

O centro biomédico do Butantan, que está produzindo e distribuindo a vacina Sinovac, se esforçou para convencer os indígenas de que não era o caso. “As mensagens da mídia social dizendo que Fernando Katukina morreu após tomar uma vacina contra Covid-19 são notícias falsas”, escreveu o Butantan em uma postagem no Twitter.

A Covid-19 matou pelo menos 957 indígenas, de acordo com a APIB, de cerca de 48.071 infecções confirmadas entre metade dos 300 grupos étnicos nativos do Brasil. Os números podem ser bem maiores, porque a Sesai só monitora indígenas que vivem nas reservas.


 

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