Publicado em 27/06/2021 as 1:00pm
Ex-imigrante nos EUA, Deputado Luís Miranda afirma que "rolava esquema de corrupção" na compra de vacinas
Em 2019, uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, relatou que o legislador federal era acusado de pegar dinheiro de usuários da internet quando vivia nos EUA
Apoiador ferrenho do governo do Presidente Jair Bolsonaro, o Deputado Luís Miranda (DEM-DF) afirmou ter comunicado a denúncia sobre um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin ao próprio dirigente do país, há 3 meses. A reunião, relatou Miranda, ocorreu em março de 2021, no Palácio da Alvorada (DF), pouco menos de 30 dias após o contrato ter sido assinado. Segundo ele, Bolsonaro afirmou que encaminharia o caso à Polícia Federal (PF). Apesar do aviso, o governo seguiu com o negócio no qual prevê pagar por cada dose da vacina um preço 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante 6 meses antes.
"No dia 20 de março, eu denunciei o esquema para Bolsonaro. Os indícios de corrupção são pesados e muito claros", afirmou o Deputado ao canal Estadão/Broadcast. "O presidente viu a gravidade e, naquele momento, falou para a gente: ‘Vou acionar agora o DG (diretor-geral) da Polícia Federal para cuidar do caso’". A PF informou que "não comenta e nem confirma" a existência de investigações.
Horas antes de se encontrar com Bolsonaro no Alvorada, Miranda trocou mensagem pelo aplicativo WhatsApp com um ajudante de ordens do presidente. Afirmou que estava "rolando esquema de corrupção pesado" na Saúde. "Tenho as provas e as testemunhas", postou o Deputado Federal.
O aviso foi enviado às 12:54 pm de 20 de março. O auxiliar de Bolsonaro respondeu com uma bandeira do Brasil. Uma hora depois, Miranda insistiu: "Não esquece de avisar o PR (presidente da república). Depois não quero ninguém dizendo que eu implodi a República. Já tem PF e o caralho no caso. Ele precisa saber e se antecipar". A resposta dada foi outra bandeira do Brasil.
Às 4:00 pm, Miranda informou ao ajudante presidencial que estava "a caminho" do palácio. Passadas 48 horas, ele voltou a procurar o auxiliar de Bolsonaro. "Pelo amor de Deus... isso é muito sério!", postou o Deputado em 22 de março. Sem resposta, ele voltou ao assunto no dia seguinte. "Bom dia irmão, o PR está chateado comigo? Algo que fiz?". O auxiliar do presidente respondeu: "Negativo, Deputado. São muitas demandas. Vou relembrá-lo".
O deputado enviou ao ajudante de ordens uma fatura de compra, em nome da empresa Madison Biotech, no valor de US$ 45 milhões, referente à importação da Covaxin. O pagamento, porém, dependia da assinatura de seu irmão Luis Ricardo, que se recusou a subscrever o documento sob a alegação de que havia ali várias irregularidades.
O servidor disse ter sido "pressionado" a assinar um contrato de compra da Covaxin com uma quantidade menor do que o previsto. Pela sua versão, seriam 4 milhões de doses, que viraram 300 mil, com pagamento antecipado de US$ 45 milhões (R$ 222,6 milhões). "No contrato fala que são 4 milhões de doses a 1ª entrega, mas no Invoice (nota fiscal internacional) já não é (sic) 4 milhões, é um quantitativo bem menor", afirmou Luís Ricardo em áudio enviado por WhatsApp ao irmão Miranda.
Alvo de investigação:
O contrato de compra de 20 milhões de doses da Covaxin, no valor de R$ 1,6 bilhão, é alvo de investigação do Ministério Público Federal. O preço unitário da dose foi fechado em US$ 15, quando, 6 meses antes, havia sido estimado em US$ 1,34. Miranda disse ter ido ao encontro de Bolsonaro, acompanhado de seu irmão, Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, justamente para falar dessa "situação esdrúxula". Ele chegou a publicar em suas redes sociais, naquele sábado, uma foto da reunião com o Presidente, afirmando ter ido tratar de combustíveis e vacinas.
Em depoimento ao MPF, Luís Ricardo reforçou que recebeu "pressões anormais" para a compra da Covaxin e disse não ter visto esse comportamento em relação às outras vacinas. O coordenador-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, tenente-coronel Alex Lial Marinho e o coronel Marcelo Pires, então coordenador logístico do Plano Nacional de Operacionalização de Vacinas contra Covid-19 foram apontados como responsáveis pela pressão. Os dois eram auxiliares do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Acusado nos EUA:
Eleito em 2018, Miranda está no 1º mandato e é um parlamentar polêmico. Ele já foi acusado de estelionato, em golpes que teriam sido aplicados no Brasil e nos EUA. Antes de ser eleito, ele morou em Miami (FL) e ensinava, nas redes sociais, como ganhar "dinheiro fácil". Em 2019, uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, mostrou que Miranda era acusado de pegar dinheiro de usuários da internet. O caso foi destaque na mídia nacional, incluindo o jornal O Estado de São Paulo.
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