DEZ ANOS SEM EMÍLIO SANTIAGO

“Emílio tinha uma das vozes mais lindas do mundo, uma voz pura e verdadeira, nós não podemos deixar que a história dele termine com uma grande mentira” (Evandro Júnior).

Um homem elegante, discreto, reservado, amoroso, generoso, brincalhão, de sorriso fácil e honesto, muito honesto! Essas são as maiores virtudes do dono do mais belo timbre vocal da Música Popular Brasileira. Emílio Vitalino Santiago nasceu no dia 6 de dezembro de 1946 e faleceu no dia 20 de março de 2013, vítima de um acidente vascular cerebral - AVC.

Fruto de um relacionamento não ortodoxo, Emílio fora adotado por um casal e teve a oportunidade de cursar a Faculdade de Direito. Seu desejo era ser um diplomata, ele se formou, mas nunca exerceu a profissão, muito menos serviu ao Itamaraty, porém fora muito diplomático em suas relações sociais.

Foi na universidade que Emílio teve a oportunidade de exibir o seu talento musical. Os amigos, encantados com a sua habilidade artística, inscreveram-no para um festival universitário de música, sem que ele soubesse. Emílio ganhou o concurso, chamou a atenção dos jurados e, a partir daí, a sua voz ecoou para o mundo. Foi um artista premiado e muito respeitado, nacional e internacionalmente. Em nome desse respeito e carinho, amigos e familiares prestam uma homenagem nos seus dez anos de falecimento, lembrando o legado do cantor.

O músico tinha uma grande amiga em Recife, uma amizade pública sobre a qual o próprio artista fazia questão de falar em reportagens.

Fã “número 1”, Célia Mendes Correia orgulha-se de ter sido, além de fã, a primeira amiga do Emílio Santiago, em Recife. Célia fala com exclusividade ao Brazilian Times sobre o seu vínculo de amizade com o artista. Uma amizade que perdurou por 45 anos.

Ela nos conta que ele adorava que ela fizesse galinha ao molho pardo, mais conhecido como galinha à cabidela. A honestidade é a virtude que Célia ressalta em seu fiel amigo.

Sobre a vida particular, revela: “Emílio tinha um comportamento muito reservado. Ele nunca conversou comigo sobre a vida íntima dele. Jamais faria isso. Era como se eu fosse uma mãe para ele, um respeito exagerado comigo. Às vezes, quando estávamos com um grupo de amigos dele, e os amigos diziam algum palavrão, ele fazia um sinal, mostrando que eu estava presente. A nossa amizade era de muito respeito. Ele nunca falava de seus relacionamentos comigo, mas um dia ele trouxe um rapaz em minha casa, e qualquer pessoa experiente perceberia que não era apenas uma amizade, parecia uma amizade de namoro. Era um rapaz jovem, não chegava a 30 anos”.

Perguntamos à Célia se ela conhecia Márcio Tadeu, e ela responde: “Confesso que fiquei surpresa quando Márcio Tadeu apareceu na revista dizendo que tinha um relacionamento de 18 anos com Emílio. Fiquei muito surpresa porque, por mais que Emílio me poupasse de saber da vida dele, era impossível que eu não soubesse, em 45 anos, se ele tivesse um relacionamento com alguém durante 18 anos. Era impossível eu não perceber, porque a pessoa pelo menos falaria o nome dele sempre, por qualquer situação. E Emílio nunca me falou no nome de Márcio Tadeu. A única pessoa de quem eu escutei ele falar por várias vezes foi o Soca. Era uma pessoa que o acompanhava em shows, viagens, e chegou até a vir aqui na minha casa uma ou duas vezes com Emílio. Eu já ouvi o Emílio ligando para o Soca daqui da minha casa, pedindo para resolver alguma coisa para ele. Eu ouvia o Emílio falar em Soca, mas de Márcio Tadeu eu nunca escutei”.

Após a morte do cantor, Márcio Tadeu foi a Recife se apresentar como inventariante de Emílio Santiago.

“Eu vi o Márcio Tadeu quando ele veio aqui em Recife há pouco tempo, depois que Emílio faleceu. Emílio tinha um apartamentozinho em cima do meu, e ele veio como inventariante para olhar este imóvel. É um imóvel que nem estava no nome de Emílio. Mas ele veio retirar os objetos pessoais do Emílio. Eu achei estranho essa história de Emílio namorar alguém como Márcio Thadeu, já que ele sempre namorava pessoas mais jovens. O que mais me fez desacreditar nesta história é que seriam 18 anos de um relacionamento e eu, amiga de Emílio há 45 anos, sem saber.

Começou como meu ídolo e virou uma amizade, como se ele fosse um parente meu. Ele tinha mais cuidado comigo do que qualquer outra pessoa. Ele ligava pra mim para saber como eu estava. Quando ele estava aqui, às vezes se sentindo um pouco mal, ele me ligava e pedia um chazinho. Era uma amizade de irmãos. Muito difícil pra mim essa perda!” Lamenta Célia.

O cantor Sérgio Buq, amigo íntimo que conviveu por mais de 20 anos consecutivos com Emílio Santiago, procurou o jornal Brazilian Times para falar sobre essa possível fraude arquitetada por um grupo de supostos amigos e de pessoas que rodeavam o cantor. Eles arquitetaram um plano para a justiça reconhecer Márcio Tadeu como companheiro afetivo de Emílio Santiago, para eles receberem a fortuna. Porém, o plano, que aparentemente estava dando certo, falhou, porque um dos componentes do grupo, Arcindo conhecido como Soca que era o secretário particular e camareiro de Emílio Santiago, delatou.

Sérgio Buq relata a sua convivência com Emílio Santiago: “Fui um dos grandes amigos do Emílio durante 25 anos. Eu o conheci quando tinha meus 20 anos e viajei com ele pelo mundo, até praticamente dois anos antes de seu falecimento. Desconheço essa questão do Márcio Tadeu, porque, na verdade, ele fazia parte de uma turma de amigos do Rio de Janeiro. Quando Emílio fazia algum evento ou alguma festa, o Márcio sempre ia com uma turma, e o Emílio nunca foi muito simpatizante do Márcio Tadeu, ele sempre comentava comigo. Eu sei a realidade: o Márcio Tadeu nunca foi companheiro do Emílio em nenhum momento durante todos esses anos. Depois ele foi se achegando para fazer amizade com Dona Ercília (curiosamente tem o mesmo nome da irmã de Emílio), a mãe de criação do Emílio, o qual não ficava confortável com a presença do Márcio, mas não podia dizer não por causa da sua mãe.

Essa história de que havia fotos deles no apartamento do Emílio não é verdade, porque Emílio nunca teve fotos do Márcio Tadeu dentro do apartamento. Eu convivi no apartamento do Emílio até pouco tempo antes de seu falecimento, e eu nunca vi uma foto do Márcio Tadeu lá. Foram fotos levadas após a sua morte, assim como esse documento de união estável foi feito também após a morte do Emílio. Eu sou de Recife, Emílio passou muitos anos de sua vida indo para Recife. É uma das cidades de que ele mais gostava e aqui no Recife foi onde ele encontrou, assim ele dizia, os seus verdadeiros amigos. Tanto que os seus últimos aniversários todos foram feitos em Recife. E eu participei de quase todos. Viajei o mundo com ele, eu era o seu “braço direito” . Ele sempre me teve como um apoio. Fomos ao Japão, fui ao Grammy com ele em Los Angeles em 2001. Fiz várias viagens de shows com ele, por Nova York, Miami. Montei junto com ele um apartamento na Flórida, desde o começo até o final, e aqui em Recife, onde eu e ele compramos todas as coisas. É uma pena isso tudo que foi feito em relação ao processo. Eu acho que a pessoa mais correta para entrar neste processo de herança é a Hercilia Vitalino Santiago, que é a irmã de sangue. Afirma o cantor Sérgio Buq.

Elaine Maia, que é prima em 3º grau de Emílio Santiago, denuncia a suposta fraude da união estável: “Queremos a anulação deste processo de união estável, porque Emílio e Márcio Tadeu nunca foram companheiros. Tanto é que Emílio suportava o Márcio Tadeu por causa da mãe dele, a Dona Ercília. Nas fotos que ele usou nos autos não tem uma de Emílio e Márcio Thadeu juntos, ele usou algumas fotos para montar este esquema falso. Vale lembrar que Márcio sempre morou em Copacabana e Emílio no Flamengo”.

Quanto ao Soca, secretário, Elaine ressalta que ele era o homem de confiança de Emílio e que pode ter sido manipulado para colaborar com este esquema fraudulento: “Eu tenho certeza que ele foi manipulado por Márcio por causa do projeto Emilio Santiago, projeto já estava pronto e era um desejo do meu primo. Emílio confiava muito em Soca, e eu também confio e respeito muito ele porque ele é muito trabalhador”. Elaine diz que deixou bem claro para Márcio Tadeu e Soca que sempre iria defender a memória e a imagem de Emílio.

Sobre a presença da família no velório, ela esclarece: “Em 2013 fomos representar a família no velório do Emílio. Eu, prima por parte do pai, Valmir e Simone por parte da Sônia, mãe biológica do Emílio. Eu já estava percebendo um clima estranho naquele dia. Na coletiva de imprensa, Márcio Tadeu se apresenta como amigo de Emílio. Depois ele vai a juízo e fala que tinha uma união estável. Como o processo corria em segredo da justiça, eles achavam que ninguém nunca ia saber desta fraude. Eu sabia que os amigos iriam brigar entre si e que na hora certa tudo viria à tona”.

Hercília Santiago é irmã por parte de pai. “Ele era filho do meu pai. Nós fomos criados juntos e depois cada um foi para o seu lado”.

Sobre a união estável, ela afirma que é uma farsa: “Tudo foi mentira, quem tinha a chave do apartamento era o Soca. A Elaine, que é a minha prima, tem provas contra eles. Eles fogem de mim, para não conversar sobre o assunto. Quero que a justiça corrija esse erro, porque a fraude foi muito grande. Tem muita gente misturada, tem artistas envolvidos. As nossas provas estão todinhas no processo”.

Ao ser questionada sobre a herança, Hercília esclarece: "Eu tenho todos os direitos porque sou a única irmã viva, tenho duas filhas, cinco netos e três bisnetos”.

Evandro Júnior, por sua vez, é artista plástico carioca e vive em Petrópolis. Foi estilista de moda no Rio de Janeiro durante 20 anos. Trabalhou com figurino de teatro e shows, foi estilista do Emílio Santiago. Ele conheceu o artista em 1982 e tornaram-se amigos “irmãos”. “Ele é o irmão que eu nunca tive e eu sou o irmão que ele nunca teve. Fomos grandes amigos confidentes, porque os amigos verdadeiros se confessam um para o outro”.

O Emílio era muito honesto, bonito, tinha muita classe. Os dois maiores intérpretes do mundo, Johnny Mathis e Emílio Santiago, foram reconhecidos pelo jornal americano The New York Times.

Ao ser questionado sobre o conhecimento da união estável entre Márcio Thadeu e Emílio Santiago. Evandro responde:

“Não tem a menor chance de eles terem um namoro. Eu considerava o Márcio Tadeu como um fiel escudeiro. Aquele fã que se aproxima demais, ele era conhecido do Emílio. Ele se aproximou da mãe do Emílio. Não faz sentido essa união estável. Ele era do círculo de amizades. Dizem que a casa dele está cheia de fotos do Emílio, lógico, ele era fã.

Emílio sempre foi muito educado, na dele. Assim como era elegante de ver, era elegante como pessoa. Ele já foi muito apaixonado por um rapaz, e esse menino faleceu e ele ficou muito mal na época.”

Sobre a herança, Evandro diz que orientou o amigo várias vezes a fazer o testamento: “Eu vivia insistindo com Emílio para fazer um testamento. No início ele hesitava e dizia que eu estava gorando ele. De tanto insistir, ele fez o testamento, aqui na minha casa. Escrito pelo próprio punho e gravado. Eu sou viúvo e levantei essa bandeira para os meus amigos homossexuais, para eles fazerem o testamento. Como eu perdi o amor da minha vida, ele deixou tudo certinho, ele fez o testamento, por isso não tive problemas. Mas existem pessoas que passam por humilhações”.

“O Emílio nunca gostou de falar sobre pai e mãe consanguíneos. Naquele tempo as pessoas davam os filhos. Os pais morreram e ele ficou sozinho. Se a Hercília for realmente irmã dele, ela é que tem direito. A não ser que apareça o testamento dele, e aí vale o que está no testamento.

Afirmo que ele tem testamento porque fez na minha casa. Onde está o testamento de Emílio Santiago? Ele fez! Disse que iria mandar registrar, tempos depois, ele faleceu. Precisamos ver o testamento para saber a vontade do Emílio.” Conclui Evandro de forma enfática. Quanto à união estável, Evandro questiona: “Emílio estava em coma, como pode ter sido reconhecida a união estável?”

Outra pessoa que fala sobre o caso é a advogada Socorro Lapenda, amiga do Emílio Santiago que o conheceu na residência do Chef César Santos, onde ele se encontrava hospedado. “Era um

Carnaval no ano de 2009 e, a partir de então, mantivemos encontros, chegando a hospedá-lo na minha casa de Gravatá/PE, assim como eu e meu marido fomos hóspedes dele em Araras/RJ”.

Ao ser questionada se reconhece a união estável de Márcio Tadeu com Emílio, Socorro responde: “Durante o período em que mantivemos contatos, entre eles, vários pessoalmente, nunca ouvi do Emílio declaração de que teve ou tinha união estável com qualquer pessoa. Só fiquei sabendo da existência de Márcio Tadeu pela imprensa. Depois fui procurada por ele nesta cidade do Recife, sendo por ele apresentada declaração pública de união estável com Emílio. Vi logo que foi declaração unilateral e formalizada após morte, e, neste documento, ressaltou o senhor Márcio que não havia por ele interesse na herança ou meação porque seria destinada à criação do Instituto Emílio Santiago, para ajudar crianças carentes na área musical”.

A amiga reitera que, desde 2009 até o óbito do Emílio, ela jamais ouviu falar de companheiro e lamenta que a disputa pela herança venha impedindo a realização do grande sonho do cantor, que era a criação do Instituto Emílio Santiago. Esclarece ainda que “tudo isso seria evitado com o simples ato de um planejamento sucessório destinando sua herança para tal fim, já que, segundo ele, não havia companheiro meeiro e sobre herdeiros igualmente desconhecia a existência”.

O jornal Brazilian Times tentou contato com Márcio Tadeu e Soca Silva, mas até o fechamento desta matéria eles não responderam. O jornal está à disposição para ouvir as partes envolvidas na matéria.

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Fonte: ELIANA MARCOLINO