Publicado em 26/03/2024 as 11:00am
Especialistas estudam implantes cerebrais para aliviar sintomas de Epilepsia e TOC
Pesquisadores utilizaram tratamento já consolidado para a epilepsia para aliviar sintomas do TOC
Da redação
Você já imaginou poder aliviar sintomas de doenças como Epilepsia e Transtorno Obsessivo Compulsivo com um implante cerebral? Especialistas têm estudado diferentes tipos de técnicas para lidar melhor com diversos tipos de distúrbios originados no cérebro. Isso é o que aconteceu com a norte-americana Amber Pearson, de 34 anos, que recebeu um implante cerebral para tratar tanto o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) quanto a epilepsia.
De acordo com o neurocirurgião Dr. Bruno Burjaili, o TOC é um distúrbio mental caracterizado por pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos que interferem na vida diária de uma pessoa. Esses pensamentos são intrusivos e persistentes, levando a uma sensação de ansiedade e desconforto, enquanto os comportamentos compulsivos são ações repetitivas realizadas para aliviar a ansiedade. Alguns dos sintomas comuns incluem obsessões, compulsões, ritualização, ansiedade, interferência na vida diária, falta de controle e resistência a mudanças.
No caso da Amber, ela tinha obsessão por limpeza, fazendo com que ela lavasse as mãos até sangrar, por medo de se contaminar com germes e bactérias. “Pessoas como ela, que tem esse ímpeto de se limpar ininterruptamente, têm esse comportamento com o objetivo traiçoeiro de atenuar a sensação desagradável de que as coisas estariam sujas”, afirma Bruno.
Já a epilepsia é uma condição neurológica caracterizada por convulsões recorrentes, causadas por atividade elétrica anormal no cérebro. Os sintomas podem variar de acordo com o tipo de convulsão e a área do cérebro afetada. Alguns comuns incluem desmaio, contrações musculares rítmicas ou espasmos musculares, formigamento, confusão mental e convulsões “Isso acontece porque o cérebro se comunica internamente através da eletricidade. A epilepsia é entendida como hiperatividade elétrica, como se a comunicação se transformasse em uma gritaria de uma região específica do sistema nervoso”, acrescenta Burjaili.
Ou seja, de acordo com o especialista, essa região acaba se tornando predominante. Se temos uma hiperatividade da região que comanda os movimentos, teremos movimentos intensos e fora do controle, gerando crises epiléticas.
A tecnologia utilizada para tratar os sintomas da paciente é chamada de RNS - uma sigla em inglês que significa Sistema de Neuroestimulação Responsivo. Durante o procedimento um eletrodo é inserido através de um pequeno orifício em uma região do cérebro onde inicialmente é gerado a crise convulsiva. Esse eletrodo é conectado a um tipo de pequeno computador implantado embaixo da pele. A partir disso, ele consegue captar as alterações cerebrais sugestivas de uma crise convulsiva antes que ela se manifeste clinicamente “Já realizamos implantes cerebrais para tratamento de doenças há muitas décadas. A tecnologia RNS é capaz de não somente estimular como captar informações do sistema nervoso, e utilizar as informações captadas para atenuar os sintomas da doença, permitindo, assim, uma estimulação mais sofisticada”, esclareceu o neurocirurgião.
A mulher possuía sintomas de ambas as doenças, por isso, o neurocirurgião optou em também posicionar o eletrodo próximo a uma região chamada núcleo accumbens, uma área do cérebro que é associada à ação e comportamentos compulsivos.
Segundo Bruno, o grupo da universidade aproveitou que ela sofria de duas doenças e utilizou o tratamento já consolidado para a epilepsia para ajudá-la no TOC. Os sinais cerebrais relacionados à sensação de estar suja foram captados, então o sistema implantado pode realizar estímulos cerebrais sofisticados para impedir que essas sensações gerassem os comportamentos de limpeza exagerados.
Os principais riscos de procedimentos assim são infecções, sangramento e mal posicionamento, mas podem ser evitados com a técnica cirúrgica adequada.
Essa tecnologia vem justamente para auxiliar casos mais graves. O RNS foi criado para auxiliar em crises convulsivas de pessoas que não obtiveram resultados com intervenção medicamentosa e não são candidatas a outros tipos de procedimentos cirúrgicos. Para essas pessoas, o implante é a chance de viver uma vida mais saudável. Há efeitos adversos, mas a probabilidade melhoria de qualidade de vida anima muito. Além disso, a tecnologia será cada vez mais aprimorada nos próximos anos. “A Universidade da Pensilvânia é referência em implantes cerebrais e tecnologias como ultrassom focalizado. É motivo de alegria para nós vermos um brasileiro envolvido no estudo e sabermos que em breve iremos aumentar o arsenal de opções de tratamentos”, pondera Burjaili.
Outros procedimentos já são utilizados no tratamento de doenças similares, como a estimulação cerebral, onde a técnica pode ser feita de forma magnética, com ímãs que agem através dos ossos do crânio e também com os implantes cerebrais profundos, já conhecidos para aliviar os sintomas de Parkinson, tremor essencial e outras condições. Há cirurgias também onde são realizadas micro lesões controladas em regiões milimétricas do cérebro, utilizando radiofrequência, radiação e ultrassom focalizado.
Sobre o Dr. Bruno Burjaili
Neurocirurgião especializado no tratamento de doenças da cabeça, nervos e coluna vertebral, com experiência em doença de Parkinson, tremores, distonia, dores crônicas e fibromialgia.