Publicado em 11/08/2024 as 8:00pm
Famílias das vítimas do acidente aéreo no Brasil se reúnem enquanto especialistas tentam identificar os 62 mortos
Da redação
No domingo, familiares das vítimas de um acidente aéreo no Brasil se reuniram em um necrotério e em hotéis de São Paulo, enquanto peritos forenses se empenhavam em identificar os restos mortais das 62 pessoas que perderam a vida na tragédia.
As autoridades locais informaram que os primeiros corpos identificados foram os do piloto, Danilo Santos Romano, e do copiloto, Humberto de Campos Alencar e Silva. A imprensa brasileira relatou que mais quatro corpos foram identificados no necrotério de São Paulo, mas essa informação não foi confirmada oficialmente.
O governo do estado de São Paulo divulgou um comunicado na manhã de domingo informando que as buscas terminaram às 22h45 de sábado, 33 horas após o acidente, com a recuperação dos restos mortais de todos os 34 homens e 28 mulheres que estavam a bordo. Os destroços permanecem no local para que os investigadores continuem seu trabalho.
O ATR 72, um turboélice bimotor operado pela companhia aérea brasileira Voepass, estava a caminho do aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, com 58 passageiros e quatro tripulantes a bordo, quando caiu na sexta-feira em Vinhedo, a 78 quilômetros ao norte da capital paulista. A Voepass informou que três passageiros, embora portassem documentos brasileiros, também tinham identificações venezuelanas, e um possuía documentos portugueses.
O governador do Paraná, Ratinho Júnior, afirmou que pelo menos oito médicos estavam a bordo. Além disso, quatro professores da Unioeste, uma universidade localizada no oeste do Paraná, também foram confirmados entre os mortos.
Liz Ibba dos Santos, de três anos, era a única criança entre os passageiros e estava viajando com seu pai. Os restos mortais de Luna, um cachorro que acompanhava uma família venezuelana, também foram encontrados nos destroços.
O necrotério de São Paulo começou a receber os corpos na noite de sexta-feira, e solicitou que os parentes das vítimas trouxessem registros médicos, radiografias e registros dentários para ajudar na identificação. Testes de sangue também foram realizados para auxiliar no processo de identificação.
Os poucos familiares que se manifestaram sobre a tragédia o fizeram por meio das redes sociais.
Tânia Azevedo, que perdeu seu filho Tiago no acidente, está hospedada em um dos hotéis de São Paulo, mas relatou em uma postagem que ainda aguarda para ir ao necrotério.
"Acredito que Tiago está em algum lugar tentando ajudar outras pessoas feridas, que também precisam de luz e amor", escreveu ela. "Eu não consegui ir ao necrotério. Estou aqui esperando. Está escuro, eu mesma preciso de um pouco de luz e amor."
Imagens registradas por testemunhas mostraram a aeronave girando em um movimento plano e caindo verticalmente antes de se chocar contra o solo em um condomínio fechado, deixando a fuselagem completamente destruída e consumida pelo fogo. Felizmente, não houve feridos em solo.
Este foi o acidente aéreo mais fatal do mundo desde janeiro de 2023, quando 72 pessoas morreram em um voo da Yeti Airlines no Nepal, que estolou e caiu durante a aproximação para o pouso. Aquele avião também era um ATR 72, e o relatório final apontou erro do piloto como a causa.
Na sexta-feira, a Metsul, uma das empresas meteorológicas mais respeitadas do Brasil, informou que havia relatos de forte formação de gelo no estado de São Paulo na época do acidente. A mídia local citou especialistas que sugeriram que o gelo pode ter sido uma possível causa do acidente.
No sábado, um vídeo compartilhado nas redes sociais mostrou um piloto da Voepass explicando aos passageiros de um voo de Guarulhos para Cascavel que o ATR 72 tem operado com segurança em todo o mundo há décadas. Ele pediu que os passageiros respeitassem a memória dos colegas e da empresa, e solicitou orações.
"Essa tragédia não atinge apenas aqueles que faleceram nesse acidente. Ela afeta todos nós", disse o piloto, cuja identidade não foi revelada. "Estamos fazendo o nosso melhor, colocando todo o nosso coração, para cumprir nossa missão de levar vocês em segurança e conforto ao destino."
A polícia restringiu o acesso à entrada principal do necrotério de São Paulo, onde os corpos das vítimas estavam sendo identificados. Alguns familiares chegaram a pé, enquanto outros vieram em vans. Nenhum deles falou com os jornalistas, e as autoridades pediram para que não fossem filmados ao entrar.
Um voo trazendo mais familiares do estado do Paraná pousou no sábado à tarde no aeroporto de Guarulhos. A companhia aérea disponibilizou uma van para transportá-los até o necrotério.
O governo do estado de São Paulo informou que 26 famílias já compareceram ao necrotério para ajudar na identificação dos corpos, e mais são esperadas no domingo.
Um acidente envolvendo um ATR 72-200 da American Eagle, em 31 de outubro de 1994, resultou na morte de todas as 68 pessoas a bordo, quando o avião caiu devido ao acúmulo de gelo enquanto estava em um padrão de espera. O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Unidos determinou que a causa provável foi a formação de gelo. A Administração Federal de Aviação dos EUA posteriormente emitiu procedimentos operacionais para ATRs e aviões semelhantes, orientando os pilotos a evitar o uso do piloto automático em condições de congelamento.
O especialista em aviação brasileiro Lito Sousa advertiu que as condições meteorológicas, por si só, podem não explicar completamente o motivo pelo qual o avião da Voepass caiu da forma que caiu na sexta-feira.
"Analisar um acidente aéreo apenas com base em imagens pode levar a conclusões errôneas sobre as causas", disse Sousa à Associated Press por telefone. "Mas podemos ver um avião em perda de sustentação, sem velocidade horizontal. Nessa condição de giro plano, é praticamente impossível recuperar o controle da aeronave."
A Força Aérea Brasileira informou no sábado que os dois gravadores de voo da aeronave foram enviados ao laboratório de análise em Brasília, a capital. Os resultados das investigações deverão ser divulgados em até 30 dias, segundo a Força Aérea.
Marcelo Moura, diretor de operações da Voepass, declarou aos jornalistas na noite de sexta-feira que, apesar das previsões de gelo, elas estavam dentro dos níveis aceitáveis para a aeronave.
Em uma declaração anterior, o centro de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos da Força Aérea Brasileira informou que os pilotos do avião não solicitaram ajuda nem relataram que estavam operando em condições meteorológicas adversas.
O ATR 72, construído por uma joint venture da Airbus na França e pela italiana Leonardo SpA, é normalmente utilizado em voos de curta distância. Desde os anos 1990, acidentes envolvendo vários modelos do ATR 72 resultaram em 470 mortes, de acordo com um banco de dados da Aviation Safety Network.