Publicado em 16/02/2025 as 12:00pm
Jornalista entra em coma por 40 dias e tem membros amputados após cirurgia para apneia do sono
Da redação O DJ e jornalista Julio Cesar Trindade, de 35 anos, não imaginava que uma...
Da redação
O DJ e jornalista Julio Cesar Trindade, de 35 anos, não imaginava que uma cirurgia de rotina para corrigir a apneia do sono mudaria radicalmente sua vida. Internado no Hospital Casa de Portugal, no Rio de Janeiro, em 22 de maio de 2024, Julio esperava receber alta no dia seguinte ao procedimento. No entanto, ele só retornou para casa mais de 70 dias depois, após passar 40 dias em coma e ter partes dos membros amputados devido a uma infecção hospitalar grave.
“Eu perdi parte dos dedos da mão direita, os dedos do pé direito, que são responsáveis pelo equilíbrio, e a perna esquerda, além de ter ficado surdo do ouvido esquerdo”, relata Julio, que agora busca reparação na Justiça contra o hospital e a Bradesco Saúde, sua operadora de plano de saúde.
A infecção que levou às amputações foi causada pela bactéria Klebsiella pneumoniae, comum em ambientes hospitalares. Julio e sua família acreditam que houve negligência por parte da equipe médica. “Eles alegam que mediram meus sinais vitais de hora em hora, mas meu pulmão evoluiu de 100% de oxigenação para 80% muito rápido. Quando eu reclamava de falta de ar, me davam Rivotril, dizendo que era ansiedade. Eu nunca tomei remédio controlado na vida”, desabafa.
A situação crítica levou a família a contratar uma médica particular, que recomendou a transferência imediata de Julio para outro hospital e o uso de um pulmão artificial. No entanto, segundo a advogada Maria Isabel Tancredo, que representa o caso, foi necessário entrar com uma ação judicial para que a Bradesco Saúde autorizasse a transferência.
“Infelizmente, esse é um cenário que se repete e faz múltiplas vítimas como Julio. As famílias pagam planos de saúde para, no momento que mais precisam, encontrarem portas fechadas e instituições precárias”, critica a advogada.
Em nota, o Hospital Casa de Portugal negou as acusações, afirmando que os fatos apresentados “não condizem com a realidade” e que as complicações foram decorrentes da cirurgia realizada por uma equipe odontológica externa. O hospital também destacou que Julio permaneceu em suas dependências por apenas três dias e que todos os procedimentos adequados foram realizados. A Bradesco Saúde, por sua vez, optou por não se pronunciar sobre o caso, que está em andamento na Justiça.
A dor de não estar presente no nascimento do filho
Além das sequelas físicas, Julio carrega a dor de não ter podido estar ao lado da esposa, Maíra, no nascimento do filho do casal, João. O parto ocorreu durante um dos momentos mais críticos de sua internação, quando ele ainda estava colonizado pela bactéria. “Acompanhei por videochamada, e isso é algo que me dói”, compartilha.
Agora, Julio enfrenta os desafios da paternidade e da adaptação à nova realidade. Ele usa uma prótese na perna esquerda e precisou fazer modificações em casa, com gastos que já ultrapassam R$ 150 mil. “A prótese tem prazo de validade e precisa ser trocada a cada 4 ou 5 anos. Além disso, estou desempregado e vivendo de auxílio-doença. Perdi qualidade de vida, mas quero Justiça”, afirma.
O caso de Julio Cesar Trindade levanta questões sobre a qualidade dos serviços de saúde no Brasil e a responsabilidade de hospitais e operadoras de planos de saúde. Enquanto aguarda o desfecho judicial, ele segue reconstruindo a vida ao lado da família, com a esperança de que sua história sirva de alerta para evitar que outras pessoas passem por situações semelhantes.
Nota do Hospital Casa de Portugal na íntegra:
"O Hospital Casa de Portugal esclarece que os fatos apresentados não condizem com a realidade, sendo certo que serão amplamente discutidos e comprovados na esfera judicial. Trata-se de paciente admitido para cirurgia eletiva realizada por equipe odontológica externa de sua preferência e escolha, que sofreu complicações decorrentes do procedimento, permanecendo nas dependências do nosocômio por 3 dias, com posterior transferência para outro hospital para realização de ECMO. Ressalte-se que todos os procedimentos cabíveis e adequados ao hospital foram realizados em prol do restabelecimento da saúde do paciente e lamentamos o desfecho de sua cirurgia eletiva. E que seguimos todas as normas de controle de infecção e cirurgia segura. Reiteramos ainda que, em respeito ao paciente e ao sigilo médico, maiores esclarecimentos serão prestados pela via adequada. O Hospital Casa de Portugal reafirma seu compromisso com todos os seus usuários, prestando um serviço de qualidade voltado ao restabelecimento da saúde de seus pacientes."