COLUNA CONNECTICUT & NEW YORK by Arilda Costa

Daniele Dell'uomo, um  mundo mágico cheio de cores

Entro no seu atelier e a primeira sensação é a de ser contagiado pela cor: cada centímetro da sala e dos objectos nele contidos é caracterizado por cores verdadeiras, fantásticas, quentes, frias, emocionais, desapegadas, figurativas e abstractas! Daniele Dell'Uomo, que sempre viveu em Alatre/Itália, me recebe com aquele carinho que rompe imediatamente a distância entre o artista e o entrevistador. Sua produção de quarenta anos oferece muito o que pensar e perguntas surgem espontaneamente, sobre o artista e o homem.

Qual foi a sua formação artística? 

Tenho muito orgulho do meu processo de formação como autodidata: continuo adorando experimentar novas técnicas, novos materiais e novas tintas. E estou convencido de que a renovação de qualquer trabalhador depende das experiências de vida, da capacidade de captar novas emoções e de as infundir no trabalho. 

Recolho evidências desta última afirmação em cada canto do seu atelier e, olhando em volta, vejo materiais e ferramentas inusitados: é mesmo verdade, a sua experiência permitiu-lhe ousar, vaguear, sonhar. E a sua obra pictórica, embora não onírica, faz sonhar o espectador porque estimula os fios mais emocionais da nossa alma. 

Qual era a sua ocupação principal?

Fui polícial por muitos anos e, talvez, nunca deixei de o ser por dentro: a farda deu-me o orgulho de poder ajudar a nossa sociedade e ir ao encontro das pessoas mais frágeis. Aposentado, realizei meu sonho de me dedicar integralmente à arte. Com efeito, entre os milhares de quadros de minha autoria e estudo, faço pesquisas e neles contém as dificuldades do povo. Surge frequentemente um motivo social: um grupo de migrantes, um símbolo cristão, um grupo de mulheres, um rosto sofredor. Mas é um momento. As cores dos palhaços é que me distraem das minhas reflexões e me levam de volta às perguntas para fazer a eles. 

O que é arte para você?

A expressão mais rápida do pensamento! É o meio pelo qual posso expressar minhas ideias mais rápido, sempre. Não é por acaso que o tempo de execução das minhas pinturas é muito curto. “Hic Rhodus, hic salta”. (Do latim... "Rhodes é aqui, é aqui que você salta")

Dell'Uomo aproxima-se do cavalete e, com algumas pinceladas hábeis, cria uma marinha muito cativante. Ele me revela muitos truques do ofício, apenas me implorando para não publicá-los. Uma coisa, porém, posso dizer: Daniele usa com maestria uma cor muito difícil, tão incômoda quanto funcional para a maioria dos pintores, que costumam misturá-la com outras cores para obter a materialidade desejada. O artista, ao contrário, também o utiliza de forma absoluta, muitas vezes no final do processo criativo, para obter uma explosão de emoções através do contraste cromático. As velas brancas dos barcos emergem do quadro, agora concluído, e o meu instinto é proteger-me do vento…

A sua marinha é muito mais do que o tempo que leva a fazê-la e permite-me perceber: porquê? Estudei por conta própria as técnicas dos maiores artistas, amo Van Gogh, Gauguin, Cézanne e Afro Basaldella, entre os italianos. Todos me ensinaram algo. Às vezes, uma linha horizontal é suficiente para "sustentar" todo o andaime de uma pintura. Ou uma pincelada fugaz (de branco, obviamente) para realçar um contexto cromático que parecia anónimo. 

Como você constrói uma pintura? 

Pode parecer estranho para você, mas para mim foi crucial fazer a túnica dos palhaços: na verdade, essa vestimenta me ensinou a técnica fundamental de todos os meus trabalhos. Começo com salpicos de cores, que na minha opinião ficam bem juntas, e depois traço linhas que dão forma, profundidade, significado e, acima de tudo, ritmo. A pintura é uma arte muito próxima da música. 

O que você acha dos jovens que se formam nas academias de artes plásticas?

Acho que esta escola só pode ser utilizada como ponto de partida para o conhecimento da técnica: então deve sair o espírito livre do indivíduo, com a sua experiência de vida. A verdadeira arte não é produzida pela técnica, mas pela mente. 

Qual é o seu sonho secreto? 

Com certeza fazendo o próximo quadro. Será sempre o mais bonito. 

A modéstia e a simplicidade de um grande artista me acompanham ao sair de um pequeno mundo que enriqueceu meu espírito. 

Texto: Roberto Castellucci