Publicado em 27/07/2023 as 6:00pm
Diretora paulistana ganha prêmios para desenvolver peças brasileiras em NY
Atualmente Marina também trabalha na peça Riven, um show criado por Marina em colaboração com as atrizes brasileiras Laila Garroni e Josanna Vaz a partir de entrevistas conduzidas com catadores/as de material reciclável no Brasil.
Marina Zurita é diretora brasileira atualmente radicada em Nova Iorque. A diretora formada pela renomada University of North Carolina School of the Arts segue sua carreira com o objetivo de contar histórias que celebram as diversas realidades brasileiras. Entre seus projetos mais recentes estão Saudades, escrita por Fernando Segall, e apresentada nos palcos do Consulado Brasileiro em Nova York, Rough Draft Festival e JACK.
A peça conta a história de Laura, uma jovem americana que parte para o Brasil em uma busca das suas raízes perdidas. O processo criativo foi documentado pela rede Record TV Américas e a peça trouxe muita nostalgia para a comunidade brasileira em Nova Iorque. Além disso, a direção de Marina na peça Saudades foi premiada pelo edital Brooklyn Arts Council desse ano.
Atualmente Marina também trabalha na peça Riven, um show criado por Marina em colaboração com as atrizes brasileiras Laila Garroni e Josanna Vaz a partir de entrevistas conduzidas com catadores/as de material reciclável no Brasil.
A peça, que segue em desenvolvimento, tem recebido apoio de diversas instituições a partir de residências artísticas e financiamento. Entre estas instituições estão The Kennedy Center for the Performing Arts, Target Margin Theater e Lab at APE. Entre os prêmios e editais conquistados pela diretora estão: 23/24 NYC Women’s Fund, 2023 Creative Equations Fund e Brooklyn Arts Fund.
Riven foi apresentada pela primeira vez no dia 3 de junho deste ano no espaço BRIC Arts media em Nova Iorque, porém o objetivo principal da diretora é trazer a peça para o Brasil. Marina iniciou sua vida no teatro aos 12 anos, estudando na escola de teatro Célia Helena em São Paulo. Aos 18 anos, resolveu se aventurar e mudar para os Estados Unidos a fim de continuar sua formação.
Desde então, Marina teve a oportunidade de criar e dirigir peças em diversos teatros e festivais como: Brick Theater, HERE Arts Center, New York Theater Festival, ESTIA festival e SOOP to Nuts Festival. No último mês, Marina foi convidada a se tornar Diretora Artística da companhia The Bechdel Group, uma companhia de teatro que tem como objetivo nutrir vozes de mulheres, a partir do financiamento de produções gratuitas de histórias com personagens dinâmicos femininos.
Marina diz ser muito grata a todas as oportunidades que recebeu nos últimos anos e tem como objetivo continuar a desenvolver e dirigir histórias que investiguem as diversas realidades que compreendem o Brasil.
Por que sair de Brasil para os EUA? O desejo foi apenas por uma faculdade nos EUA ou já era uma escolha pela carreira Internacional?
Sempre tive interesse em viajar e morar fora do país. A escolha de ir para os Estados Unidos veio por conta da minha fluência no inglês. Mas a vontade mesmo era de conhecer a vida e o teatro em outros lugares. Enquanto no ensino médio eu cheguei a me formar no curso técnico de teatro no Célia Helena em São Paulo. Então, sempre senti que tive uma formação teatral bem forte no Brasil e quando chegou a hora de prestar vestibular resolvi me aventurar e buscar uma formação em um lugar novo. Tem sido muito importante pra mim poder comparar a minha formação teatral no Brasil e nos Estados Unidos. A cultura ao redor do teatro é muito diferente entre esses dois países, não só por conta do tamanho da indústria de entretenimento Americana que, como todo mundo sabe, é gigantesca, mas também as técnicas e linguagens utilizadas por artistas de teatro. E eu me sinto muito privilegiada por ter tido acesso a essas duas portas de referências.
Como você definiria a diferença entre o fazer teatral nos Estados Unidos e no Brasil?
O que todo mundo sabe é que os Estados Unidos têm uma verdadeira indústria de teatro. Existem milhares de companhias de teatro, muito público e financiamento privado. Pra além disso, existe uma cultura de especialização nos Estados Unidos muito forte e que influência essa indústria teatral. Existem funções e trabalhos muito delimitados dentro da estrutura de uma produção teatral, o que gera uma eficiência e organização muito grande. Mas ao mesmo tempo limita a energia de colaboração dentro das produções – o que no Brasil existe em abundância. No Brasil, a indústria é menor, existe uma escassez de recursos financeiros e justamente por isso também há mais colaboração e menos especialização de funções. Todo mundo faz um pouco de tudo porque muitas vezes não existe verba suficiente para contratar um time muito grande. No Brasil os atores estão mais acostumados a colaborar com escritores e diretores na própria criação de uma peça. Nos Estados Unidos atores são, na maior parte do tempo, simplesmente contratados para executar peças que já foram escritas. O que exemplifica muito essa diferença é a existência do termo ‘Devised theater’ utilizado nos Estados Unidos para falar sobre processos onde um espetáculo é criado de maneira colaborativa entre atores, escritores, diretores etc. É um termo recente usado para definir um tipo de processo que é o parâmetro geral no Brasil, mas não nos Estados Unidos.
Qual a diferença entre uma formação na área de teatro nas faculdades do governo e em uma universidade americana?
Nunca fiz faculdade de teatro no Brasil mas o que eu posso dizer é que o meu curso nos Estados Unidos foi extremamente prático e que desde sempre a universidade procurou me conectar ao mundo de trabalho dos Estados Unidos. Do pouco que sei sobre os cursos superiores de teatro no Brasil, sei que eles tendem a ser mais teóricos e com pouca conexão direta com oportunidades de trabalho. Estudei na escola de Drama da University of North Carolina School of the Arts, uma universidade que só aceita dois estudantes de direção teatral por ano. Pelo fato da escola ser pequena, eu senti uma abundância de oportunidades à minha disposição. Mas eu tenho a consciência de que isso não é a realidade de todas as escolas nos Estados Unidos.
Dentro dos meus 4 anos de ensino eu tive diversas oportunidades de trabalhar em produções dentro da escola, como assistente de direção e também como diretora dos meus próprios projetos. No total, durante o meu tempo na universidade, dirigi um total de 4 produções, sendo que duas delas (Love and Depositions e Mother Tongue) foram criações minhas. Ambos projetos foram financiados totalmente pela escola, envolvendo um time de mais de 40 estudantes de diversos departamentos como atuação, design cênico, design de som, design de luz, design de pintura cênica, stage management, produção etc. As produções foram tão grandes que atraíram a atenção de mídias locais como CVNC, Yes! Weekly e Observer. Nesse sentido, mesmo as produções sendo estudantis elas foram comercializadas para a o público da Carolina do Norte, o que gerou uma plateia muito real, ou seja não estudantil, mas sim repleta de moradores locais.
Os dados mostram que a taxa de desemprego entre os jovens brasileiros com idade de 18 a 24 anos é mais que o dobro da taxa da população em geral. Como foi a sua experiência de procurar emprego depois de formada?
Justamente pelo apoio que senti da minha universidade em me conectar com a indústria de teatro do país, não senti que foi difícil conseguir emprego depois de formada. Meu primeiro emprego foi um estágio em uma das maiores companhias de teatro dos EUA, chamada Manhattan Theater Club. Lá trabalhei com a Casting Director Kelly Gillespie na contratação de elenco para peças tanto na Broadway como Off Broadway. Logo depois de me formar também fui recrutada pelo Fellowship do Kennedy Center for The Performing Arts. Basicamente esse Fellowship me abriu as portas pra trabalhar com diversas companhias de teatro como Atlantic Thetaer Company e Coult Core Theater Company. Logo depois de me formar eu também me conectei com a companhia de teatro Et Alia Theater, formada por um grupo de mulheres internacionais. Eu dirigi a peça Saudades escrita pelo escritor Fernando Segall, produzida pela companhia no Consulado do Brasil em Nova Iorque, no Festival Rough Draft e no teatro JACK. Pra resumir, eu me senti muito privilegiada depois de me formar na faculdade porque senti que existiam muitas oportunidades à minha volta. E eu com certeza consigo traçar uma correlação entre essas oportunidades e as pessoas da minha universidade que me conectaram com elas.
Quais possibilidades se deslumbraram para sua carreira?
No momento o meu foco é continuar desenvolvendo um projeto que criei em colaboração com duas atrizes (Laila Garroni e Josanna Vaz) chamado Riven, ou, em português, Ruptura. Essa peça foi baseada em entrevistas com catadores de material reciclável do Brasil, porém por conta da minha trajetória artística, ela nasceu e segue se desenvolvendo nos Estados Unidos. Mas o meu intuito é levar ela pro Brasil o quanto antes possível.
Ainda em desenvolvimento, essa peça tem ganhado muito reconhecimento. Já prestigiada pelos editais NYC Women’s Fund, BAC Creative Equations e Brooklyn Arts Fund. Riven também segue sendo apoiada pelas residências artísticas no teatro Target Margin e galeria APE. Fico muito contente em ver como este projeto tem sido celebrado e isso me faz acreditar que não falta muito para eu conseguir levá-lo para o Brasil.