Publicado em 10/11/2023 as 7:00pm
Comitiva de executivos e gestores brasileiros participa de palestras sobre sistema de saúde em Cambridge
Durante a primeira semana de novembro, uma comitiva formada por 43 executivos e gestores...
Durante a primeira semana de novembro, uma comitiva formada por 43 executivos e gestores brasileiros da área da saúde veio especialmente a Boston com o intuito de participar do Immersion in an ACO System, evento que ofereceu palestras ministradas por médicos oriundos principalmente do CHA (Cambridge Health Alliance), também conhecido como Hospital de Cambridge. O objetivo do evento consistiu em informar os participantes sobre como funciona o ACO (Accountable Care Organization), tipo de sistema de saúde integrado que atende a milhares de pacientes em Cambridge.
A iniciativa da visita foi promovida pelo grupo UNIDAS (União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde), entidade associativa que representa operadoras de autogestão em saúde no Brasil, em parceria com o CHA, principalmente representado pelo médico Robert Jannet, profissional renomado tanto em Cambridge quanto entre os membros da comunidade brasileira. Robert, que há mais de 43 anos atua como médico primário (ou de família, como o termo é mais conhecido no Brasil), dentre outras qualificações, também é especialista em Medicina Interna, além de atuar como professor de Medicina na Harvard Medical School.
A parceria já vinha sendo estabelecida há vários meses ainda no Brasil, por meio de estudos ministrados em módulos por professores americanos que periodicamente se fizeram presentes no país. Lá, os convidados se encarregaram de compartilhar os detalhes teóricos sobre o sistema ACO, o que facilitou a proposta de imersão no sistema organizada durante a semana do evento. A programação, além de incluir palestras apresentadas no Charles Hotel, em Harvard Square, levou os profissionais a visitar setores do complexo de hospitais em Cambridge para conhecer tanto os serviços de atenção primária quanto o funcionamento dos atendimentos de alta e baixa complexidade, além de incursões a locais de funcionamento de planos de saúde na região. Todo esse esforço foi empreendido com o principal objetivo de levar a compreensão de como funciona um sistema integrado de saúde, a fim de identificar quais aspectos do sistema poderiam servir de modelo para o sistema de saúde brasileiro.
De acordo com Anderson Mendes, presidente da Unidas Autogestão em Saúde, mesmo considerando que o modelo geral do sistema de saúde nos Estados Unidos precise ainda de aperfeiçoamento, existem algumas “ilhas” de atendimento à população que são dignas de destaque, como acontece com Cambridge e seu sistema ACO. “Sabemos que em termos de indicadores de saúde os Estados Unidos talvez não sejam a melhor referência, contudo, existem algumas ilhas de excelência considerando-se quesitos como inovação em saúde e em atendimento. No Brasil, a saúde tem ficado cada vez mais cara e está ficando mais difícil manter o plano de saúde, por isso, precisamos encontrar modelos que nos ofereçam mais eficiência no atendimento ao público e fazer com que esse setor seja mais sustentável”, avaliou Anderson.
Em meio aos executivos e gestores que compuseram a comitiva, a Agência Nacional de Saúde (ANS) foi representada por cinco membros do órgão, dentre eles o Diretor Presidente Paulo Rebello. Avaliando os desafios inerentes ao setor no Brasil, Paulo ressaltou a importância de reavaliar o atual modelo assistencial praticado pelas operadoras de saúde, baseado em um formato onde o atendimento é precipuamente projetado em hospitais. Segundo o diretor, esse é um modelo que se ocupa em tratar somente a doença, deixando de lado a prevenção e a promoção da saúde. “Embora saibamos que a ANS não possui a capacidade de regular as questões do mercado, pois isso compete às próprias operadoras, podemos exercer, dentro da nossa política, uma regulação indutiva, promovendo programas que nós adotamos para que o mercado venha aderir. Nesse sentido, diante dos custos de saúde que estão aumentando por diversos fatores no Brasil, é preciso que observemos modelos como o ACO para que possamos implantar uma mudança que promova uma revisão no nosso sistema”, afirmou Rebello.
Personagem relevante do Immersion in an ACO System, o Dr. Robert Jannet falou aos convidados sobre o tema Como o Trabalho Abrangente da Atenção Primária apoia o funcionamento adequado da ACO. Sendo um profundo conhecedor do sistema de saúde brasileiro, Robert tem visitado o Brasil há mais de 20 anos ao longo de sua carreira médica. Ele pontua que atualmente é difícil lidar com o desafio de conciliar custo e qualidade quando o assunto é saúde. No entanto, ele complementa: “Aqui em Cambridge estamos reorganizando nosso sistema para deixá-lo com uma rede integrada de saúde. Trabalhamos no sentido de diminuir a fragmentação do atendimento, ao mesmo tempo que atuamos para aumentar a coordenação do cuidado. A Unidas está se empenhando em compreender como estamos fazendo isso e como se deu nosso processo de transição do antigo sistema, que era fragmentado, até este modelo que temos hoje, funcionando de forma integrada e pró-ativa.”
Anna Tygrezza Rodrigues