Democratas ameaçam retirar fundo milionário de organização que defende imigrantes em Maryland

Alguns senadores estaduais democratas em Maryland está ameaçando retirar o financiamento estatal de um grupo de direitos dos imigrantes depois que este pediu um cessar-fogo imediato em Gaza e condenou a "utilização de dólares de impostos dos Estados Unidos para promover a violência contínua".

Os nove legisladores que representam o Condado de Montgomery, o condado mais populoso de Maryland, afirmaram em um comunicado na semana passada que os comentários do grupo CASA eram "ofensivos, divisivos e antissemitas".

O CASA é uma organização de defesa sediada em Maryland que também presta serviços às comunidades de imigrantes do estado, recebendo milhões de dólares dos governos estadual e local para realizar esse trabalho.

A delegação democrata, cujos membros integram comissões influentes na legislatura estadual, sugeriu que pode interromper o apoio à organização. "Este pode ser um momento apropriado para reavaliar o mecanismo do estado para fornecer ajuda financeira e apoio à nossa comunidade imigrante", escreveram os senadores. "Mais especificamente, devemos garantir que fundos públicos não estejam sendo usados para promover o antissemitismo e o ódio a judeus", destacaram.

A ameaça dos democratas segue ações de outros funcionários estaduais e federais que instigam repressões contra aqueles que apoiam o povo palestino e criticam a guerra de Israel em Gaza. O senador Josh Hawley liderou uma resolução condenando "organizações estudantis radicais" que protestam nos campi universitários, enquanto o senador Tom Cotton pediu a deportação de estrangeiros considerados a favor do Hamas.

O procurador-geral da Virgínia, Jason Miyares, abriu uma investigação sobre uma organização sem fins lucrativos pró-palestina, enquanto estudantes e funcionários em todo o país enfrentaram retaliação profissional por seu apoio à Palestina.

"A segmentação sistemática e o silenciamento de organizações e indivíduos que defendem um cessar-fogo e o fim da ocupação precisam parar", disse Yasmine Taeb, diretora legislativa e política do MPower Change Action Fund, uma organização de justiça liderada por muçulmanos. "É particularmente vergonhoso que os senadores estaduais do Condado de Montgomery tentem silenciar o grupo CASA, uma organização que luta em nome de nossas comunidades imigrantes, ameaçando retirar seu financiamento", seguiu.

Tudo começou com uma declaração do CASA divulgada no dia 06, expressando "solidariedade resoluta e firme com o povo da Palestina" e pedindo um "cessar-fogo imediato para salvar toda vida preciosa e interromper a limpeza étnica sistemática do povo palestino".

A declaração, assinada pelo Diretor Executivo do CASA, Gustavo Torres, condenou o ataque do Hamas em 7 de outubro e rejeitou a ideia de que qualquer violência poderia justificar os ataques de "terror" de Israel, incluindo o direcionamento de campos de refugiados e trabalhadores médicos e da ONU.

O grupo, fundado por ativistas que se opunham à interferência dos EUA na América Latina, também destacou seu forte apoio à descolonização e aos povos indígenas e historicamente colonizados. "A luta palestina espelha a nossa própria; muitos membros do CASA fugiram de governos e países arruinados pelos danos da intervenção econômica e política dos EUA".

A organização também postou uma série de tweets espelhando a linguagem da declaração, mas excluiu as postagens no mesmo dia em que as emitiu. Ainda assim, enfrentou uma reação rápida, incluindo do Vice-Presidente do Conselho do Condado de Montgomery, Andrew Friedson, que chamou a declaração de "inflamatória e imprecisa" e instou o grupo a retratá-la formalmente.

Na mesma noite, o grupo publicou um pedido de desculpas. "Escrevemos para reconhecer que nossas palavras causaram mágoa", twittou o CASA. "Recebemos feedback de nossos queridos e confiáveis parceiros, que expressaram suas preocupações sobre o impacto de nossa linguagem";

De acordo com as declarações fiscais de 2021 do CASA, o grupo recebeu US$ 4,89 milhões em subsídios do governo e mais US$ 11,3 milhões em contratos do governo, de um total de US$ 25,7 milhões em receitas.

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