ICE divulga investigação sobre morte de imigrante após meses de atraso

Um relatório recentemente divulgado que examina a morte de um imigrante sob custódia do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, sigla em inglês) concluiu que o governo não cumpriu vários padrões destinados a proteger a saúde dos detentos. Os investigadores escreveram que a instalação não concluiu uma avaliação de saúde exigida a tempo e ignorou uma leitura de pressão arterial anormalmente elevada, e o relatório sugere que a equipe de enfermagem pode ter perdido os sinais de um coágulo sanguíneo fatal.

Embora a morte tenha ocorrido no ano passado e a investigação tenha sido concluída há mais de sete meses, o ICE recusou-se a divulgar o seu relatório e só cedeu após pressão de membros do Congresso, advogados de imigração e pedidos de registos públicos de organizações de comunicação social.

A investigação do ICE não atribui a morte do imigrante às falhas identificadas no relatório. Ainda assim, as descobertas levantam questões adicionais sobre problemas antigos dentro dos centros de detenção do ICE, numa altura em que a administração Biden está a prender um número crescente de imigrantes num contexto de aumento de passagens de fronteira.

Os próprios inspetores do governo encontraram condições “bárbaras” e “negligentes” na detenção do ICE, de acordo com um conjunto de mais de 1.600 páginas de relatórios secretos.

Melvin Ariel Calero-Mendoza, um homem de 39 anos da Nicarágua em busca de asilo nos EUA, morreu no dia 13 de outubro de 2022 enquanto estava sob custódia no Centro do ICE em Aurora, no Colorado. O relatório de um legista descobriu que o súbito ataque do imigrante, o colapso e a morte foram causados ​​por uma embolia pulmonar – um bloqueio do fluxo sanguíneo para os pulmões que se originou nos membros inferiores.

Calero disse três vezes à equipe médica do centro que sentia fortes dores nas pernas e nos pés antes de morrer. Mas os seus cuidados médicos na detenção do ICE foram prestados quase inteiramente por auxiliares de enfermagem licenciados (LPNs), que são geralmente qualificados para prestar cuidados básicos.

“Na maioria dos casos, os LPNs são pessoas que passaram por um ou dois anos de escolaridade após o ensino médio e estão realmente lá para medir a pressão arterial e verificar os sinais vitais”, disse o Dr. Parveen Parmar, professor de medicina clínica de emergência na Universidade do Sul da Califórnia. Ele revisou a investigação do ICE. “Eles não são realmente pessoas que deveriam prestar cuidados definitivos e tomar decisões clínicas finais”.

Durante um exame realizado duas semanas antes de sua morte, uma enfermeira notou que Calero relatou fortes dores, sua pressão arterial estava elevada, seu nível de oxigênio no sangue estava abaixo do normal e a área dolorida de sua perna estava “quente ao toque”. Esses sintomas são consistentes com a presença de um coágulo sanguíneo potencialmente perigoso, de acordo com Dr. Parmar.

Mas a investigação do ICE não indica que a enfermeira que examinou Calero tenha solicitado exames adicionais. Parmar, que estudou dezenas de mortes sob custódia do ICE, disse que os médicos têm mais treinamento para reconhecer a importância do tipo de sintomas que o imigrante teve e poderia ter tomado medidas potencialmente salvadoras de vidas.

“Se esse paciente tivesse chegado a um pronto-socorro, por exemplo, e se alguém tivesse feito um ultrassom, ele poderia ter recebido anticoagulantes e sua vida poderia ter sido salva”, afirmou.

O diretor médico da instalação explicou mais tarde a tomada de decisão da enfermeira aos investigadores, em parte, dizendo que níveis mais baixos de oxigênio no sangue são “comumente vistos em locais de grande altitude como Denver”. O relatório, notavelmente, não aborda uma ligação para o 911 feita a partir da instalação depois que Calero caiu, bateu a cabeça na parede e começou a espumar pela boca.

Nessa ligação, o oficial de detenção nas instalações do ICE parecia incapaz de responder a perguntas básicas do atendente do 911. Ele disse que não sabia o endereço da instalação ou como a ambulância poderia acessar o prédio; ele não sabia qual era a emergência médica; deu a idade errada de Calero; e colocou o atendente em espera várias vezes.

A NPR e a Rádio Pública do Colorado relataram pela primeira vez o conteúdo da ligação para o 911, que foi obtida mediante solicitação de registros públicos. Especialistas em resposta médica de emergência disseram que a ligação parecia indicar lacunas no treinamento e uma resposta desorganizada.

“O fato de o ICE ter omitido a ligação para o 911 de seu relatório investigativo põe em questão a integridade e a metodologia que usaram durante a investigação”, disse Elizabeth Jordan, advogada que representa a família de Calero.

Um porta-voz do ICE não respondeu às perguntas sobre se os investigadores da agência analisaram a ligação para o 911 e, se não, por quê.

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