Publicado em 15/12/2023 as 12:00pm
Brasileira é doula da morte e tanatóloga nos EUA
Maria Teresa Oliveira é natural de Fortaleza-CE, mas, arraigada em Brasília-DF. Essa é a sua...
Maria Teresa Oliveira é natural de Fortaleza-CE, mas, arraigada em Brasília-DF. Essa é a sua quarta vez morando nos EUA. Viveu duas vezes em Washington DC, outra em Houston e agora Atlanta, há um ano e meio. Maria Tereza tem uma profissão bem peculiar, ela atua como Tanatóloga desde 2019 e Doula da Morte desde 2020. Você já ouviu falar nessas profissões? sabe qual é a diferença entre ambas? Maria Tereza conta com exclusividade sobre a sua experiência nessas profissões.
Brazilian Times – BT: Qual é a diferente entre o trabalho de uma Doula Da Morte para o de uma Tanatóloga?
Maria Tereza Oliveira- MTO: “A Doula da Morte, é um indivíduo, independente, não-médico, treinado para oferecer cuidados de acolhimento para as pessoas em fim de vida de maneira holística (físico, emocional e espiritual), especialmente para idosos. A Doula da Morte veio para preencher as lacunas no cuidado e na comunicação entre as instituições, a família e todos envolvidos com os cuidados de um paciente no final de vida e de atenção para com o idoso. O Tanatólogo é aquela pessoa que vai lhe ajudar no seu processo de dor ou luto, ressignificando essa perda seja divórcio, mudança, trabalho ou a morte de um ente querido”.
BT: O que te motivou a exercer essa profissão?
MTO :Quando fui diagnosticada com uma doença degenerativa nos pés, tive que re-pensar a minha vida profissional. Fui Chef Profissional por 19 anos, e tive que deixar essa profissão depois que recebi o diagnóstico. Essa perda me motivou a procurar uma atividade que me permitisse encontrar um novo significado de vida diante de uma forte perda. Eu já havia trabalhado como voluntária no Japão em apoio ao suicídio, e em outros países (EUA, Filipinas, México, Guatemala e Nicarágua) em asilos e abrigos. Essa procura me fez descobrir a tanatologia, e posteriormente a Doula da Morte. Durante minha formação, descobri que ser Doula da Morte era o meu chamado para servir ao próximo, oferecer dignidade e companhia para qualquer ser humano na sua transição. Nenhum ser humano deveria morrer sozinho.
BT: Como é a dinâmica do seu trabalho, você atende às famílias em particular ou em clínicas para idosos?
MTO: A minha dinâmica de trabalho passa por residências privadas, asilos, abrigos, hospitais, clínicas e no meu escritório. Como Doula da Morte: Bedside (estar ao lado do paciente nas suas últimas horas; apoio à família durante e pós-morte; apoio administrativo com preenchimento de documentos, como diretivas avançadas de vontade, Testamento Vital; Legacy book,história do paciente; Planejamento do Funeral; Pet-doula; Death Café, reunião onde conversamos sobre morte e morrer; e a organização dos pertences do falecido (a). Como Tanatóloga, ajudo as pessoas em perda ou luto a conhecerem as etapas do luto, e oriento na ressignificação da vida. É um trabalho rentável. Poderia dizer que é um trabalho que está em ascensão. Ofereço meu trabalho, seja para única consulta ou por pacote dependendo da necessidade do paciente e da família. Nos Estados Unidos, por exemplo, o preço do atendimento pode variar entre US$ 30,00 e $ 120,00 a hora.
BT: Quais são as habilidades que uma pessoa precisa para desenvolver essas profissões?
MTO:A primeira é estar preparada para trabalhar com a morte. Ser uma pessoa empática, ter uma escuta ativa, ser paciente, compassivo, compreensivo. Isso acompanhado por capacitação específica em intuições sérias e profissionais que oferecem o Curso de Tanatologia e Doulas da Morte. Cito aqui onde fiz minha formação: Doulagivers Institute nos EUA, Elizabeth Kubler-Ross Cidade do México, The University of Vermont, e Quality of Life Care-Home-of the Certified Care Doula também nos EUA. Qualquer pessoa de qualquer profissão pode ser uma Doula da Morte, não está limitado só ao setor da saúde. E qualquer pessoa pode ser um Tanatólogo desde e quando seja treinada em uma instituição que ofereça um curso profissional. Minha formação como Tanatóloga foi pela Elizabeth Kubler-Ross México/Instituto Técnico de Salud de Monterrey, e Elizabeth Kubler-Ross Guatemala.
BT: Como você cuida do seu emocional para ajudar as outras pessoas?
MTO: Faço muitas caminhadas, yoga, meditação e boxe. Todas essas atividades me ajudam em todos os meus aspectos: mental, físico, espiritual e social. A natureza, também, é minha maior companheira.
BT: De qual nacionalidade é a maioria dos seus clientes?
MTO: Eu tenho uma clientela bastante variada. Por falar inglês, espanhol e português, acabo atendendo pacientes de muitas nacionalidades. Aqui em Atlanta, por exemplo, acabo também atendendo as comunidades latinas, inclusive, brasileira, da cidade. Atendo também via zoom pacientes que se encontram em outros países. A tecnologia me ajudou a levar meu trabalho de apoio a outros lugares.
BT: Qual é amensagem que você gostaria de deixar para o leitor?
MTO: Que voltemos a falar da morte e morrer, que voltemos a ter uma relação mais íntima e familiar com a morte e o morrer, como era antigamente. É importante que a sociedade, escolas, universidades, hospitais, igrejas, prisões, centros de imigrantes, centros de apoio a adições, comunidade LBGTQ+, família, amigos, falem e se eduquem sobre a morte e o morrer, assim como o luto.
Fonte: Eliana Marcolino