Publicado em 28/06/2024 as 10:00am
Dumpster Diving: Brasileiros fazem sucesso e dinheiro mexendo no lixo dos EUA
Na ensolarada tarde de junho, o Parque Villa Lobos, área nobre de São Paulo, testemunhou um...
Na ensolarada tarde de junho, o Parque Villa Lobos, área nobre de São Paulo, testemunhou um fenômeno incomum: uma fila serpenteava entre árvores e bancos. A expectativa era grande, e não era para menos. Os presentes aguardavam ansiosos a chance de encontrar pessoalmente Adeline Camargo, uma youtuber brasileira radicada nos Estados Unidos, cujos vídeos sobre "dumpster diving" conquistaram uma legião de seguidores ávidos por descobrir tesouros entre o lixo.
O termo em inglês, literalmente traduzido como "mergulhar na lixeira", descreve exatamente isso: o ato de explorar caçambas em busca de produtos ainda utilizáveis, uma prática comum nos Estados Unidos que despertou enorme curiosidade no Brasil. Adeline, conhecida por trazer à tona produtos encontrados dessa maneira, organizou o encontro para sortear dezenas de itens, desde maquiagens até objetos de decoração, entre seus seguidores.
Esse fascínio brasileiro pelos vídeos de dumpster diving não é isolado. No país, dezenas de canais no YouTube e perfis no Instagram dedicam-se a mostrar essa atividade, muitas vezes expondo o desperdício ostensivo de produtos novos descartados por americanos. Alessandra Gomes, capixaba que reside em Massachusetts, explica que o choque inicial dos brasileiros ao verem a quantidade e qualidade dos produtos descartados é compreensível: "Os americanos esbanjam muita coisa, é um desperdício que te deixa alucinado. Tem muita coisa nova."
Embora nos Estados Unidos essa prática não seja estritamente ilegal, existem nuances e regulamentos específicos que podem torná-la questionável, dependendo da jurisdição local. Em alguns casos, invadir propriedades privadas ou mexer em lixeiras trancadas pode resultar em penalidades legais.
Nos vídeos gravados por brasileiros, geralmente não fica claro se essas regras são seguidas à risca, o que adiciona uma dose de suspense e adrenalina à prática. André da Silva, que acumula uma grande base de seguidores nas redes sociais com seus vídeos, compartilha suas experiências de "ser pego no flagra" por funcionários de lojas ou autoridades, um elemento que aumenta a audiência de seus conteúdos.
Jeff Ferrell, sociólogo renomado e estudioso do dumpster diving, observa que essa prática é muito mais do que uma simples busca por produtos descartados. Para alguns, como os freegans, representa uma forma de boicote ao consumo desenfreado e uma redistribuição de recursos. Para outros, é uma necessidade econômica, como no caso de imigrantes em situação irregular nos Estados Unidos, que encontram nos itens descartados uma forma de subsistência.
Para Alessandra Gomes, que começou a explorar o dumpster diving após chegar a Massachusetts em busca de melhores oportunidades, a prática não é apenas um meio de entretenimento ou curiosidade, mas uma maneira de sustentar sua família. Ela e seu marido agora se dedicam a resgatar alimentos e produtos descartados por supermercados, muitas vezes em condições perfeitamente utilizáveis, o que os levou a doar parte do que encontram para comunidades carentes.
Apesar das críticas sobre o consumo e desperdício associados ao dumpster diving, para muitos brasileiros, esses vídeos são uma janela para um mundo de produtos que de outra forma seriam perdidos. O debate sobre o que constitui lixo e o que é luxo continua a atrair atenção, conforme mais pessoas se perguntam sobre o impacto ambiental e social dessa prática.
Em suma, o dumpster diving não é apenas uma atividade peculiar, mas um fenômeno cultural e social que desafia as fronteiras entre o consumo, o desperdício e a sustentabilidade, alimentado pela curiosidade e pela necessidade de reinventar o valor do que é descartado.
Para assistir aos vídeos, procure no You Tube pelos influenciadores com os termos: “Alessandra Gomes”, “Adeline Camargo”, “Mais 1 Silva por Aí”, “Família Schinemann”.
(com informações: BBC News Brasil)
Fonte: Da redação