Autoridades denunciam graves acusações de abuso sexual contra crianças imigrantes em abrigos nos EUA

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos iniciou uma ação judicial contra a Southwest Key Programs, a principal provedora de moradia para crianças imigrantes desacompanhadas no país. Funcionários da organização são acusados de cometer "severos abusos sexuais" contra menores sob seus cuidados.

A ação, protocolada no dia 17 no Distrito Oeste do Texas, abrange mais de 100 incidentes de abuso ocorridos entre 2013 e 2023, envolvendo crianças de 5 a 17 anos. Segundo os promotores, os funcionários da sede da organização no Texas tinham conhecimento dos abusos, que incluíam estupros e coerção para obtenção de fotos nuas, mas falharam em proteger as crianças, apesar de receberem bilhões do governo federal para esse fim.

"O assédio sexual alegado na queixa destruiria o senso de segurança de qualquer criança, transformando o sonho americano em um pesadelo", afirmou o procurador Alamdar S. Hamdani, do Distrito Sul do Texas.

A ação judicial ocorre em um momento de crescimento exponencial do financiamento federal para a Southwest Key, que se tornou a principal parceira do governo na provisão de moradia para dezenas de milhares de menores desacompanhados que cruzam anualmente a fronteira. A organização opera 29 abrigos que acolhem 6.350 crianças nos estados do Texas, Arizona e Califórnia, e recebeu mais de $3 bilhões do Departamento de Saúde e Serviços Humanos nos últimos nove anos.

O objetivo da ação judicial é garantir uma penalidade civil para as vítimas do alegado abuso e uma ordem judicial exigindo que a Southwest tome medidas para prevenir futuros abusos, conforme autoridades do Departamento de Justiça.

"O assédio sexual de crianças em abrigos residenciais, onde deveriam estar seguras e protegidas, é abusivo, desumanizante e ilegal", enfatizou Kristen Clarke, assistente do procurador-geral da Divisão de Direitos Civis do Departamento de Justiça.

A ação judicial detalha uma série de alegações contra funcionários não identificados da Southwest Key, incluindo "severos abusos sexuais e estupros", além de solicitação de atos sexuais e fotos nuas. Em Channelview, Texas, um funcionário "repetidamente estuprou, abusou e ameaçou uma adolescente" durante sua estadia no abrigo Casa Montezuma em 2019, segundo a ação judicial. Em outra ocasião, um trabalhador teria "repetidamente abusado sexualmente" de uma menina de 5 anos, uma de 8 anos e outra de 11 anos no abrigo Casa Franklin em El Paso, Texas, em 2022, ameaçando matar suas famílias caso falassem, conforme a ação judicial.

Um funcionário do abrigo Casa Kokopelli no Arizona se declarou culpado por tentativa de conduta sexual com um menor em 2022 no condado de Maricopa, após fugir com um adolescente de 15 anos para um hotel, onde pagou ao adolescente por atos sexuais, de acordo com documentos judiciais.

Os abusos foram cometidos por funcionários em quase todos os níveis das operações da Southwest, desde professores que tocavam inadequadamente as crianças até funcionários médicos que faziam perguntas gráficas sobre sexo.

Anais Biera Miracle, diretora de comunicações da Southwest Key, contestou as conclusões da ação judicial, afirmando que "a ação judicial não apresenta a imagem precisa do cuidado e compromisso que nossos funcionários proporcionam à juventude e às crianças".

A Southwest Key Programs aumentou significativamente seu papel como parceira federal nos últimos anos, à medida que o número de menores desacompanhados cruzando a fronteira aumentou drasticamente. Mais de 90.000 menores desacompanhados cruzaram a fronteira no ano fiscal de 2024, segundo dados do U.S. Customs and Border Protection, e mais de 137.000 anualmente nos anos fiscais de 2023, 2022 e 2021.

Após serem detidas pela Patrulha da Fronteira, as crianças desacompanhadas são transferidas para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que é responsável por encontrar cuidados até que possam ser reunidas com suas famílias ou atinjam a maioridade.

Os abrigos da Southwest Key se tornaram parceiros fundamentais do Departamento de Saúde e Serviços Humanos para acomodar as crianças, variando de 20 a 1.200 menores por abrigo, segundo a ação judicial. As crianças comem, dormem e frequentam a escola nessas instalações. De acordo com um relatório de 2021 da empresa, até 27.000 crianças podem passar pelas instalações da Southwest Key Programs em um ano, com uma estadia média de 28 dias.

O governo federal tem apoiado esses abrigos sem fins lucrativos com subsídios desde pelo menos 2003, conforme dados de subsídios publicados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos.

Fonte: Da redação