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Publicado em 31/07/2024 as 12:00am

Carreira Artística: Atriz Brasileira Revela Como Brilhar Perto e Longe dos Holofotes

Num segmento do artigo “Manhattan: O Lugar de Realizar Sonhos e Ganhar Milhões”,...

Carreira Artística: Atriz Brasileira Revela Como Brilhar Perto e Longe dos Holofotes Vida de Ator

Num segmento do artigo “Manhattan: O Lugar de Realizar Sonhos e Ganhar Milhões”, discutimos o desejo de vir para cidades como Nova Iorque em busca do sonho de uma carreira no teatro ou no cinema. Assim como a falta de apoio das famílias que consideram tais aspirações não realistas, e das oportunidades que os que almejam alcançar esta meta não podem desperdiçar. Será que vale a pena investir anos em algo altamente competitivo que pode não dar em nada? Pareceria mais seguro se houvesse outras possibilidades de carreira dentro do universo do ator?

Esta semana, num vôo internacional, tive o prazer de conversar com atletas brasileiros viajando para as olimpíadas. Mas eles não foram os únicos compatriotas a brilhar em Paris. Entrevistei Marcela Moura, uma atriz versátil, que migrando e imigrando, conseguiu conciliar carreiras distintas, e tornar-se uma renomada artista, pesquisadora e professora. Ela traz perspectivas novas e promissoras para os que consideram sua profissão.

Marcela, como se iniciou sua carreira no teatro?

Na minha cidade Natal. Na Fundação de Artes Cênicas de Goiás, sob a direção de Hugo Zorzetti. Por mais que a gente sonhe alto e queira ver outros lugares, é importante ter uma boa base onde se está. Como acontece com muitos profissionais da minha área, no início, o tempo para a arte precisa ser dividido com outro trabalho. Eu tive uma primeira formação em Ciência da Computação, e trabalhei 10 anos como analista de sistemas na Empresa de Eletricidade de Goiás. Na época, eu fazia parte de outra companhia teatral, a Martim Cerêrê, e vivia na fronteira entre arte e tecnologia. Estes dois grupos foram extremamente importantes para a cultura de Goiás, e para a formação de jovens artistas fora do eixo Rio-São Paulo, num momento em que ainda não existia uma universidade para o estudo do teatro. Foi uma experiência fundamental que me deu certeza de que eu deveria prosseguir.

E quais foram seus próximos passos para se tornar uma artista? 

No Rio de Janeiro, estudei na renomada CAL— Casa das Artes de Laranjeiras—de onde saem muitos dos atores Globais. Fiz Mestrado em Artes Cênicas pela UNIRIO, e então, resolvi voar mais alto e estudar no exterior. Fiz meu Doutorado em teatro e performance pela Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris.

Impressionante. E para quem está pensando em investir na carreira de ator, mas teme não conseguir trabalhar 24 horas na profissão, quais são as alternativas ligadas à área?

Além de atuar no palco e na frente das câmeras, há uma infinidade de aplicações que mantêm o profissional no segmento, com realização pessoal e amparo financeiro. Eu possuo experiência em teatro, cinema e televisão, atuando como encenadora, atriz e performer. E me dedico também à pesquisa: teatro, ecologia e sistemas complexos; performance; processos de criação; pesquisa-criação; e pedagogia do ator. Como expert é possível também escrever livros e artigos para publicações de renome.

Nos conte um pouco mais sobre a sua atuação acadêmica.

Atualmente, sou professora na CESGRANRIO e faço parte de associações locais e internacionais como a FETEG, a ABRACE, a EASTAP e a FIRT. Como fruto desta rede de encontros artísticos e acadêmicos, colaboro e participo de congressos no mundo todo, e estou feliz em coorganizar o primeiro congresso artístico e cultural da Faculdade Cesgranrio.

Indivíduos interessados em cinema e teatro que não possuam experiência artística, podem assistir/participar deste evento? 

Sem dúvida. Vai ser nos dias 24, 25 e 26 de julho, e basta fazer as inscrições no site da Cesgranrio pra participar ao vivo ou à distância. Quem é estudante, profissional ou simplesmente apaixonado por teatro e cinema não pode perder essa chance. O evento será uma oportunidade única para conhecer gente do ramo, trocar conhecimentos e pra quem desejar, colaborar em projetos inovadores. O objetivo é descentralizar o conhecimento e promover a colaboração. Acreditamos que todos têm voz e a interdisciplinaridade é a palavra de ordem. Vamos romper com os modelos tradicionais e explorar novas perspectivas que vão ampliar horizontes e impulsionar carreiras.

Parece um espaço para a arte de atuar, onde as barreiras entre teatro e cinema desaparecem.

Exatamente. Permitiremos que idéias e práticas fluam livremente. Haverá mesas de debates, palestras e workshops, e as pessoas podem se inscrever para participarem presencialmente ou de forma virtual. Vamos discutir temas super contemporâneos, como as novas tendências do mercado artístico, a entrada de novos talentos e as inovações que estão moldando o futuro das artes cênicas e audiovisuais. Haverá especialistas de várias áreas, com tradução simultânea.

De volta à sua experiência pessoal, você parece ter criado uma rede internacional de contatos, sendo professora da Cesgranrio, dando aulas como professora convidada em universidades francesas e agora coorganizando congressos internacionais. Mas você nunca perde a ligação com a sua terra.

Sim, continuo fazendo filmes e dirigindo espetáculos em Goiás. 

E como é pra você a experiência de ser uma imigrante?

Eu sou uma “migrante” que não estabelece casa, mas ocupa fronteiras. Acho que ser migrante é um estado d’alma. Me sinto migrante na vida, sempre em estado de curiosidade e descoberta. O importante no meu caso é que tenho a grande chance de sempre manter o contato com minhas raízes. Na verdade, vou incorporando outras culturas, adotando outras formas de ver o mundo e tento reatualizar constantemente e amorosamente a minha visão sobre minha cultura local, meus conterrâneos e antepassados. Sou muito grata à trajetória que percorri e aos companheiros que encontrei e encontrarei pelos novos caminhos. Acho que é importante neste momento fazermos um exercício de busca de um pensamento holístico, que ultrapasse as noções de fronteiras para estabelecer diversas formas de cooperação. Precisamos pensar em novas formas de constituir mundos diversificados e amorosos.

E falando em ultrapassar fronteiras, você está preparando o lançamento de um livro interdisciplinar sobre teatro e inteligência artificial, não é?

Sim, meu livro deve sair em agosto e faz parte da divulgação de minhas pesquisas. O título é “Sistemas Teatrais Complexos: Uma Modelagem dos Processos Colaborativos de Enrique Diaz”. Foi aqui que minha formação em Ciência da Computação veio a calhar. Quando comecei o meu doutorado na França, percebi que alguns laboratórios de tecnologia e robótica tinham interesse em colaborar com artistas visando compreender melhor a expressividade humana. Visto isso, decidi fazer o caminho inverso e compartilhar meus conhecimentos sobre os sistemas computacionais inteligentes com os artistas. Proponho uma metodologia de estudo do teatro inspirada nos sistemas inteligentes, chamados sistemas nebulosos.

E quais são os seus projetos futuros?

Continuar construindo networks e aproximando entidades de diversos campos e de naturezas diferentes, tanto humanas como não humanas. Também tenho me interessado bastante pela interação entre teatro e ecologia. Aliás, estes são os temas das duas entrevistas do congresso da Cesgranrio nas quais estarei presente: “Teatro e Tecnologias” e “Teatro e Ecologia.”

Marcela Moura é um inspirador exemplo do imigrante que encarou as dificuldades, e não deu ouvidos se alguém disse que seus sonhos e planos poderiam dar errado. Tudo pode dar errado. O emprego de artista ou o mão-na-massa que você odeia. Não trabalhe apenas para pagar as contas. Principalmente se você é imigrante. Na juventude ou temporariamente, isso pode parecer viável. No entanto, há cada vez mais relatos do aumento dos vícios para encobrir frustrações. No longo prazo, uma vida preenchida apenas com obrigações —sociais ou financeiras —é a melhor receita para a depressão.

Se você teve a coragem de abandonar o aconchego de seu país, idioma e cultura para “fazer mais”, não se limite ao aspecto financeiro. A ganhar mais do que ganharia em seu país de origem, fazendo outra função que não lhe satisfaz. Concilie. Tenha um trabalho pra pagar as contas, e em paralelo, sonhe, e procure pessoas da área que lhe interessa. Mesmo que não tenha apoio dos que o cercam. A vida é sua e trabalho ocupa tempo demais dela para não fazer sentido, ou pior: lhe fazer infeliz. Encontre, mesmo que parcialmente, uma carreira que você ame.

 



 

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