Publicado em 7/08/2024 as 8:00pm
Brasileiro vítima de tráfico se torna defensor dos imigrantes
Valdir Solera Jr., residente em Maui (Havaí), compartilha uma história de adversidade e...
Valdir Solera Jr., residente em Maui (Havaí), compartilha uma história de adversidade e resiliência. Em 2013, ele e 21 outros estudantes brasileiros foram levados para a ilha com a promessa de um estágio em biologia agrícola. O que parecia uma oportunidade de crescimento profissional rapidamente se transformou em uma situação de exploração e tráfico de trabalho.
“Empresas atraem os estudantes com a promessa de estágios”, explicou Valdir. “Mas, na realidade, era apenas um trabalho de mão de obra barata”, acrescentou.
Em vez de um estágio acadêmico, os estudantes foram forçados a trabalhar longas horas em uma fazenda, recebendo salários baixos e sem benefícios. Quando a situação se tornou insustentável, Valdir e seus colegas denunciaram a empresa ao Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos e colaboraram com a investigação federal. Graças a essas ações, ele recebeu um visto T para vítimas de tráfico e, três meses depois, teve seu pedido de asilo concedido.
A advogada Esther Yoo destaca que a situação vivida por Valdir é comum entre imigrantes vítimas de tráfico. “Os traficantes prometem vistos temporários e forçam os trabalhadores a trabalhar longas horas, com pouco ou nenhum pagamento”, disse Yoo. “Quando o trabalhador ultrapassa o prazo do visto e se torna indocumentado, o empregador ameaça denunciá-lo ou deportá-lo”, destacou.
Alguns trabalhadores conseguem escapar e recebem ajuda de organizações locais sem fins lucrativos, enquanto outros permanecem presos em situações precárias.
Além dos sobreviventes de tráfico, imigrantes com vistos legais podem solicitar asilo nos EUA se estiverem fugindo de perseguições ou situações de vida ameaçadora em seus países de origem, como Ucrânia, Mianmar e certas nações africanas. No entanto, o processo pode levar de sete a dez anos para uma entrevista com os Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA, e até lá, muitos dependem de parentes e instituições de caridade para sobreviver. Aqueles que enfrentam a deportação precisam argumentar seu caso perante um juiz, e no Havaí, os tribunais de imigração enfrentam um atraso de dois anos devido à falta de pessoal e juízes.
Yoo descreve o tribunal de imigração como um “tribunal de trânsito com consequências de vida ou morte”.
No Havaí, mais de 8.000 refugiados vivem e contribuem com pelo menos US$ 100 milhões em impostos anualmente. Yoo ressalta que a visão comum de que os imigrantes estão aqui apenas para explorar recursos dos EUA é equivocada. “Quase todos os meus clientes, se pudessem voltar ao seu país de origem com segurança, o fariam, mas não podem.”
Após 11 anos desde sua chegada a Maui, Valdir agora possui um green card e trabalha como conservacionista na indústria do turismo. Ele também atua como conselheiro de políticas públicas como delegado do Havaí no Congresso dos Refugiados e ajuda sobreviventes do incêndio de Lahaina a acessar recursos.
“Para muitos trabalhadores da Front Street nos restaurantes, muitos são indocumentados”, contou Valdir. “Eles perderam seus empregos, carros e casas, e muitos têm medo de buscar a ajuda adequada devido ao seu status.”
Enquanto o discurso anti-imigrante aumenta à medida que as eleições se aproximam, Valdir observa que o Havaí é uma exceção. “Temos sorte por termos pessoas que não são tão polarizadas. Acredito que estamos em uma situação melhor do que outros estados”, afirmou ele.
Ele conclui com uma reflexão sobre a integração dos imigrantes na comunidade: “Eles são parte de nossa comunidade. São pessoas que encontramos todos os dias no supermercado, que trabalham em nossas casas, que cuidam de nossos filhos. Não podemos classificá-los apenas como indocumentados. É difícil julgar as pessoas apenas pelo status dos documentos”.
Fonte: Da redação