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Publicado em 16/08/2024 as 10:00am

Zé Pereira, o mineiro de Sabinópolis que manda cartas todos os dias para a Casa Branca

Conheça a história do José Pereira, um mineiro que dá uma lição de persistência. Todos os...

Conheça a história do José Pereira, um mineiro que dá uma lição de persistência. Todos os dias ele envia uma carta à Casa Branca, já foram mais de três mil cartas. Ele já recebeu várias respostas do Obama, várias do Joe Biden, além de centenas de cartas vindas da Casa Branca durante o governo Trump. O sonho do Zé Pereira é uma reforma imigratória abrangente.


“Meu nome é José Pereira, mas pode me chamar de Zé Pereira, é assim que as pessoas me conhecem. Eu adoro falar sobre esta história, é importante pra mim, cada vez que falo sobre isso na imprensa me dá mais força, me dá mais garra, mais ânimo para seguir em frente, porque não é fácil acreditar numa coisa que não está nas nossas mãos, isso depende de um sistema, mas eu continuo perseverante”.
Assim começou a conversa com o Zé Pereira, um mineiro sorridente, reservado e muito comunicativo, que nasceu em uma tímida cidade de Minas Gerais chamada Sabinópolis, onde a principal atração é a Festa de Nossa Senhora do Rosário. Zé Pereira concedeu uma entrevista ao Brazilian Times e nos contou um pouco da sua história e da sua jornada de imigrante.


“Sempre fui um sonhador, sempre acreditei em buscar meus sonhos, eu só era meio preguiçoso para estudar, não estudei muito, mas a mente sempre estava ligada nos sonhos, sempre sonhando alto. Eu vivi até os 14 anos naquela cidade. Aos 14, me mudei para Belo Horizonte, vivi 21 anos em BH, eu tentei estudar um pouco, mas tive que trabalhar muito. Eu era um garoto que saiu do interior e foi para a cidade grande e lá tive que sobreviver sozinho. Depois de 20 anos, veio a ideia de sair pelo mundo, e os amigos me aconselharam a vir conhecer os Estados Unidos. Pedi o visto e me foi concedido por 10 anos, fiquei até surpreso. Não tinha informação nenhuma sobre como seriam os Estados Unidos. Quando pedi o visto, eles não me perguntaram nada, não fizeram entrevista comigo, simplesmente me concederam um visto de 10 anos. Foi no ano de 1999, preparei a viagem, cheguei aqui só na companhia de Deus. Não tinha conhecimento de nada aqui, tinha apenas um casal de amigos do interior, Tião e Marlene, que me receberam tão bem aqui. Eles me apoiaram muito, me colocaram dentro da casa deles, foi aí que comecei a minha vida nos EUA”.
José emigrou para os Estados Unidos como milhares de Josés. Ao chegar aqui, o sonho de se legalizar o fez passar por uma experiência amarga: foi vítima de um falastrão que o colocou em uma situação difícil junto à imigração. Um suposto contador preparou documentos falsos, elaborou um processo fraudulento e enviou para a imigração. Mas, com a ajuda de um advogado, o processo foi arquivado. Por falta de informações, José perdeu a oportunidade de se legalizar no governo Clinton. Mediante essas frustrações, ele resolveu externar a sua indignação e o seu desejo de adquirir residência legal nos Estados Unidos, escrevendo cartas aos presidentes norte-americanos.


A primeira carta que escreveu foi para o Barack Obama. Depois que ele recebeu uma resposta da Casa Branca, encorajou-se e passou a escrever mais cartas. Com o passar dos anos, ampliou o seu pedido de legalização, externando a dor de mais de 15 milhões de imigrantes que vivem indocumentados nos Estados Unidos.  
Com esse gesto simbólico de escrever cartas à Casa Branca, José clama por justiça social não somente para si e para os seus, mas para todos os imigrantes. José anseia por uma ampla reforma imigratória, a qual vai descrita nas poucas linhas de uma singela carta, onde enaltece o trabalho do imigrante no desenvolvimento desta nação.


Zé Pereira é um ativista e um lobo solitário, como se autodefine. Ele saiu do Brasil há 24 anos, lá deixou os pais, amigos, familiares e uma namorada, uma paixão de infância, um amor correspondido, mas nunca vivido em sua plenitude.
“Quando saí da minha cidade natal, com apenas 14 anos, deixei uma menina pra quem eu já olhava. Depois, já morando em Belo Horizonte, comecei a namorar essa menina, e a gente não estava levando muito a sério. Quando falei que viria para os EUA, eu disse que poderíamos nos casar e vir juntos, ou eu viria para ver no que ia dar, se não gostasse, voltaria. Nós nos correspondemos por cartas por um longo tempo, mas chegou um momento em que eu não podia sair daqui, nem ela sair de lá, porque ela cuida da tia dela que a criou, e a tia já está com idade avançada. A moça está lá, linda e solteira, e eu aqui, ‘um lobo solitário’. Eu preferi ser fiel à história dela, pelas dificuldades que ela passou, pela dedicação à tia. Eu conto isso a ela por carta, mas ela não acredita e me diz: ‘Se fosse assim, você já teria pegado o avião e vindo embora para o Brasil’. Eu falei com ela que só pessoalmente ela vai me entender. Por essa dedicação a ela, eu me mantive solteiro, abdiquei da vida de casado, abdiquei de ter filhos, porque o tempo passou e a gente foi envelhecendo. Eu falo que, pelo fato dela não ter filho, a minha parcela de culpa é muito grande, porque eu tenho certeza de que, em muitos momentos, passou pela cabeça dela arrumar outro. Mas ela deve ter pensado que este maluco aqui poderia voltar de repente e a gente voltaria a namorar. Então, por ela, eu continuo solteiro. Esta é a minha história maluca de vida que parece mais um conto de fadas”.


A história do Zé Pereira representa a experiência de milhares de brasileiros imigrantes, que deixaram os seus familiares, a sua terra natal em busca de um sonho. O tempo passa, os entes queridos se vão, como a mãe do José, Dona Mariquinha, que faleceu sem ele poder se despedir. É também mais uma história de amor interrompida pela distância, por circunstâncias políticas e por um sonho de dias melhores. José continua a sonhar...
“Eu penso: quando isso se tornar público, eu vou ter mais pessoas me apoiando e a gente vai fazer uma grande corrente, uma concentração de ativistas buscando uma coisa em comum, que é uma reforma imigratória, uma legalização em massa. Esse continua sendo o meu sonho, que parece uma utopia. Nós queremos apenas o reconhecimento do governo de um lugar que a gente escolheu para viver”.
Contatos: @zepereiraboston

Fonte: Eliana Marcolino

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