Publicado em 30/08/2024 as 5:00pm
Mudança de residentes para os EUA afeta eleições em Governador Valadares e cidade não terá segundo turno
Fonte: Da redação
A cidade de Governador Valadares (Minas Gerais), localizada a 322 km de Belo Horizonte, enfrenta um cenário eleitoral incomum este ano: a ausência de um segundo turno nas eleições municipais. Esse fenômeno se deve a uma redução significativa no número de eleitores, atribuída principalmente à combinação de dois fatores: a pandemia de covid-19 e a emigração de seus habitantes para o exterior, especialmente para os Estados Unidos e Portugal.
Dados de julho de 2024 revelam que o município conta com 198.486 eleitores, número insuficiente para possibilitar um segundo turno nas eleições, conforme as exigências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A legislação estabelece que é necessário ter pelo menos 200 mil eleitores para considerar a realização de um segundo turno, se necessário.
A diminuição no número de eleitores é um reflexo direto das mudanças demográficas provocadas pela pandemia e pela emigração. Em comparação com julho de 2019, antes da crise sanitária global, a cidade possuía 203.769 eleitores. Após um aumento temporário do eleitorado, que alcançou 216.504 em julho de 2023, a cifra caiu novamente para abaixo dos 200 mil, resultando na perda do segundo turno.
A saída de moradores para outros países, particularmente para os Estados Unidos, contribui para essa redução. Um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) aponta que mais de 30% dos brasileiros nos Estados Unidos se mudaram para lá há no máximo cinco anos, coincidindo com o período em que Governador Valadares perdeu parte de sua população. Em 2023, cerca de 2,1 milhões de brasileiros viviam nos EUA, um aumento significativo em relação aos anos anteriores.
A pandemia também exerceu um impacto profundo na demografia da cidade. Entre 2010 e 2022, a população de Governador Valadares caiu de 263.689 para 257.171, uma redução de mais de 6.500 habitantes. Este declínio inclui a perda de 1.494 vidas devido à covid-19. Especialistas indicam que a combinação da pandemia com a diminuição na taxa de natalidade e a contínua emigração são fatores chave para o cenário atual.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda está aguardando dados finais do censo para analisar detalhadamente o impacto da emigração sobre a população de Governador Valadares. O estudo "Migração Interna e Internacional", previsto para novembro, deve fornecer insights mais claros sobre o fenômeno.
Além dos fatores de saúde e demográficos, o contexto econômico também desempenha um papel crucial. A crescente dificuldade para entrar nos EUA após o 11 de setembro e o aumento das restrições ao longo dos anos não interromperam o fluxo migratório, que se adaptou com novas redes de suporte para os emigrantes.
A alteração no perfil migratório também é evidente. A migração para Portugal tem se tornado mais proeminente nos últimos anos, à medida que as restrições nos EUA se intensificaram. Essa mudança no destino dos emigrantes, juntamente com a melhoria econômica em alguns setores dos EUA, mantém o fluxo constante de brasileiros buscando melhores oportunidades.
A perda de eleitores e a ausência de um segundo turno nas eleições municipais refletem um complexo panorama demográfico e migratório que afeta Governador Valadares. A cidade, conhecida por sua tradição em exportar mão de obra qualificada, enfrenta novos desafios que destacam a interconexão entre migração, saúde pública e dinâmica eleitoral.