Duas pessoas são condenados por tráfico humano após família indiana morrer congelada na fronteira EUA-Canadá

Na sexta-feira, um júri condenou dois homens por envolvimento em uma operação internacional de tráfico humano que levou à morte trágica de uma família indiana durante uma tempestade de neve em 2022, na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá.

Harshkumar Ramanlal Patel, de 29 anos, cidadão indiano conhecido como “Dirty Harry”, e Steve Shand, de 50 anos, americano da Flórida, foram considerados culpados por quatro acusações relacionadas ao tráfico humano, incluindo conspiração para entrada ilegal de migrantes nos EUA.

O procurador federal de Minnesota, Andy Luger, destacou a crueldade da operação, que colocou vidas em risco por lucro. “Por alguns milhares de dólares, esses traficantes submeteram homens, mulheres e crianças a perigos extremos, culminando nas mortes horríveis de uma família inteira. Um pai, uma mãe e dois filhos congelaram até a morte em temperaturas abaixo de zero na fronteira,” afirmou.

A Tragédia na Fronteira

As vítimas — Jagdish Patel, de 39 anos, sua esposa Vaishaliben, na casa dos 30, e os filhos Vihangi, de 11, e Dharmik, de 3 anos — morreram congelados em 19 de janeiro de 2022, enquanto tentavam cruzar a fronteira em um esquema liderado por Patel e Shand. A família foi encontrada sem vida no lado canadense, após Shand supostamente planejar resgatá-los no lado americano com outros sete migrantes indianos que sobreviveram.

A família Patel, segundo relatos, vivia confortavelmente na Índia, mas buscava uma vida melhor nos EUA. Especialistas apontam que a imigração ilegal de indianos é impulsionada por repressão política, dificuldades econômicas e a promessa de melhores oportunidades de emprego no Ocidente, mesmo em ocupações de baixa remuneração.

Rede de Tráfico e Lucros Milionários
O julgamento, realizado em Fergus Falls, Minnesota, revelou detalhes da rede de tráfico humano. Rajinder Singh, de 51 anos, testemunhou que lucrou mais de US$ 400 mil ao contrabandear mais de 500 pessoas, principalmente do estado indiano de Gujarat. Ele afirmou que os migrantes pagavam até US$ 100 mil por uma jornada que incluía conexões na Índia, Canadá e EUA, com pagamentos realizados por meio do sistema informal de transferências conhecido como "hawala".

As autoridades afirmaram que Shand atuava como motorista e Patel coordenava a operação. Embora a defesa alegasse que Shand foi manipulado por Patel e que a identidade de “Dirty Harry” era de outra pessoa, as evidências e testemunhos fortaleceram a condenação.

Aumento da Imigração Ilegal na Fronteira Norte
Casos como esse refletem o aumento significativo da imigração ilegal de indianos pela fronteira EUA-Canadá. Em 2023, mais de 14 mil indianos foram detidos tentando cruzar a fronteira, um aumento de dez vezes em relação a dois anos atrás. Esse número representou 60% de todas as detenções nessa região.

Impacto e Reflexão
Para as autoridades, o caso é um alerta sobre os perigos do tráfico humano. Jamie Holt, agente especial de Investigações de Segurança Interna, ressaltou que o tráfico humano explora os mais vulneráveis. “O sofrimento dessa família é inimaginável. Nossa obrigação é garantir que esses crimes sejam punidos com todo o rigor da lei,” afirmou.

O julgamento trouxe à tona a brutalidade enfrentada pelas vítimas. Kevin Paul, um dos jurados, descreveu as imagens dos corpos congelados como devastadoras. “Eu cresci em Dakota do Norte e conheço bem essas condições. É difícil imaginar o que eles passaram no meio do nada,” disse.

Agora, Patel e Shand aguardam suas sentenças, que podem chegar a 20 anos de prisão para as acusações mais graves. Enquanto isso, as autoridades reforçam os esforços para combater o tráfico humano e evitar novas tragédias.

Fonte: Da redação