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Publicado em 16/12/2024 as 4:00pm

Site destaca o desafio imobiliário da comunidade brasileira em Allston e Brighton, Massachusetts

Em 2021, Zilda e sua família, composta por seu irmão e dois filhos, chegaram aos Estados...

Em 2021, Zilda e sua família, composta por seu irmão e dois filhos, chegaram aos Estados Unidos com a esperança de uma vida melhor. No entanto, logo se viram em uma situação desesperadora de superlotação. Eles passaram a dividir um pequeno apartamento de três quartos em Brighton, um bairro de Boston, com outras cinco pessoas. O espaço era apertado e compartilhado com um total de nove sublocatários, alguns dos quais dormiam na sala.

A única cama disponível para Zilda e seus filhos era uma cama de solteiro. A privacidade e a dignidade estavam ausentes, mas o medo constante de ser descoberta pela proprietária do imóvel aumentava ainda mais o estresse diário.

A região de Allston-Brighton, onde a comunidade brasileira se concentra, tem sido historicamente associada a unidades superlotadas, especialmente entre estudantes. No entanto, enquanto as autoridades municipais têm focado na superlotação estudantil, as condições precárias e ilegais enfrentadas por imigrantes, principalmente os brasileiros e centro-americanos, vêm se agravando. O problema, embora antigo, se intensificou após a pandemia, com a crise econômica forçando ainda mais imigrantes a buscar moradias ilegais e precárias.

De acordo com Heloisa M. Galvão, diretora do Grupo Mulher Brasileira, uma organização sem fins lucrativos de Brighton, "80%, talvez mais, das ligações que recebemos são de famílias que moram em um único quarto". Para muitos, essas condições são a única forma de sobreviver, já que os altos custos dos aluguéis em Boston tornam impossível para imigrantes recém-chegados arcar com um apartamento inteiro. Além disso, a falta de documentos formais, como identificação e comprovante de renda, impede que esses imigrantes façam contratos de aluguel convencionais.

Geilson, um pintor brasileiro que chegou em 2021, descreve sua experiência: "Eu não podia usar a cozinha, só uma vez por semana, e o aquecedor não podia ser ligado, mesmo no inverno rigoroso". Ele, como outros imigrantes, vivia sob uma sublocação informal, com um contrato às vezes escrito à mão e sem garantias legais. A falta de acesso a espaços comuns, junto ao medo constante de represálias por parte dos sublocadores, gera um estresse mental e emocional significativo.

As condições precárias não afetam apenas os adultos. Crianças em apartamentos superlotados enfrentam sérios impactos no seu desenvolvimento. Mirliane Mendes, uma faxineira que mora em Brighton, compartilha sua preocupação: "Afeta a socialização das crianças. Eles ficam presos dentro de casa, sem poder brincar e interagir com outras pessoas". Para muitos pais, viver em espaços tão pequenos significa escolher entre levar os filhos para o trabalho ou deixá-los sob a vigilância de pessoas estranhas.

O medo de ser despejado é constante. Como a maioria das superlotações ocorre sem o conhecimento dos proprietários, as famílias vivem em uma situação de vulnerabilidade, com receio de serem descobertas e despejadas a qualquer momento. A situação piora quando surgem problemas estruturais nos apartamentos, como vazamentos, mofo ou infestações de pragas, que muitas vezes ficam sem solução, pois os inquilinos temem chamar a atenção do proprietário.

A superlotação em Allston-Brighton não é um fenômeno recente. A comunidade brasileira começou a se estabelecer no bairro na década de 1980, atraída pela proximidade com serviços e empresas que atendem a falantes de português. No entanto, as barreiras financeiras, junto com a falta de opções de moradia acessíveis, forçam muitos imigrantes a viverem em condições precárias.

Enquanto a cidade de Boston oferece alguns serviços de assistência habitacional, a escassez de moradias e a longa espera por unidades acessíveis dificultam a melhoria das condições de vida. As políticas públicas existentes não parecem ser suficientes para resolver o problema. O Departamento de Serviços de Inspeção de Boston (ISD) realiza inspeções e oferece algum suporte, mas as limitações nos recursos disponíveis significam que muitos apartamentos, especialmente os informais, não são adequadamente monitorados.

A comunidade de Allston-Brighton continua a ser um reflexo das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes brasileiros e centro-americanos em Boston. Embora as condições de superlotação tenham aumentado nos últimos anos, o problema remonta à própria imigração, quando os primeiros brasileiros chegaram à cidade. A falta de habitação acessível e a pobreza persistente mantêm as famílias presas em um ciclo de precariedade, afetando não apenas a qualidade de vida, mas também o futuro de seus filhos.

Para os defensores de direitos habitacionais, como Carlos Siqueira, professor da Universidade de Massachusetts Boston, e Heloisa Galvão, o desafio é claro: enquanto as famílias não se sentem seguras o suficiente para denunciar suas condições, o medo e a invisibilidade continuarão a perpetuar a superlotação e a exploração. "O principal problema que vejo é o medo", afirma Galvão. "Quando você está com medo, você não levanta a voz."

(fonte: www.thecrimson.com)

Fonte: DA REDAÇÃO

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