Estudantes brasileiros temem sair dos EUA após vitória de Trump e incertezas sobre políticas migratórias

A reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos reacendeu o temor entre estudantes brasileiros e outros imigrantes sobre possíveis mudanças nas políticas migratórias. Universidades americanas emitiram alertas recomendando que estudantes estrangeiros reconsiderem viagens durante o recesso de fim de ano, preocupados com potenciais dificuldades para retornar ao país após a posse de Trump, marcada para 20 de janeiro.

Renata, estudante de mestrado que preferiu não revelar seu sobrenome, é um dos casos. Há dois anos nos EUA, ela desistiu de passar as festas de fim de ano no Brasil por receio de não conseguir retornar e concluir sua tese. "Estou quase me formando e não quero arriscar", disse.

As instituições de ensino têm reforçado o tom cauteloso. Em Massachusetts, a Universidade Amherst (UMass) e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) recomendaram que alunos estrangeiros com viagem planejada garantam que toda a documentação esteja em dia. A preocupação remonta ao primeiro mandato de Trump, quando o republicano assinou decretos que restringiram a entrada de cidadãos de sete países predominantemente muçulmanos logo nos primeiros dias de governo.

Ana Paula Mesquita, doutoranda na Universidade Estadual do Oregon, também decidiu permanecer nos EUA. "Tenho colegas que sofreram com as proibições de 2017. Perderam semestres inteiros. Não quero correr o mesmo risco", afirmou. Além disso, ela teme as repercussões de possíveis cortes no financiamento de pesquisa, já que muitos acadêmicos internacionais dependem de bolsas provenientes do governo americano.

Mesmo brasileiros com dupla cidadania estão apreensivos. Natalie Afonso, estudante de Psicologia em Boston, teme por sua condição de filha de imigrantes indocumentados. "Trump já ameaçou retirar a cidadania por nascimento, o que poderia afetar minha permanência aqui", desabafou.

Com mais de 41 mil brasileiros matriculados em universidades americanas, a comunidade acadêmica teme que restrições migratórias dificultem ainda mais a permanência de estudantes internacionais no país. Apesar das incertezas, especialistas afirmam que medidas extremas contra imigrantes documentados seriam pouco prováveis. "É do interesse dos EUA manter esses cérebros aqui, especialmente em áreas como ciência e tecnologia", explicou o advogado Gustavo Nicolau.

Para muitos, no entanto, a apreensão fala mais alto. Entre o desejo de visitar familiares e a incerteza de um possível bloqueio para retornar, o medo está moldando o comportamento de brasileiros que veem seu futuro em território americano ameaçado pelas promessas de um governo que, historicamente, adota uma postura linha-dura contra a imigração.

Fonte: DA REDAÇÃO