Governo anuncia centro de acolhimento em Minas Gerais para deportados dos EUA

O governo federal anunciou a criação de um centro de acolhimento em Minas Gerais para receber brasileiros deportados dos Estados Unidos. A medida surge em resposta ao aumento das deportações promovidas pelo governo norte-americano, sob a administração de Donald Trump, que implementou políticas rigorosas contra a imigração irregular.

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, apresentou a iniciativa após a recente repatriação de 88 brasileiros, que relataram terem sido transportados algemados e acorrentados, gerando críticas sobre possíveis violações de direitos humanos.

"Conversamos com o presidente e fomos autorizados a iniciar as tratativas para estabelecer em Confins um posto de acolhimento humanitário, tendo em vista que poderemos ter mais voos previstos”, afirmou a ministra.

O centro será instalado na cidade de Confins, onde está localizado o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, um dos principais pontos de chegada de deportados ao Brasil. Segundo Evaristo, o objetivo é garantir que os deportados recebam assistência adequada, evitando a separação de famílias e assegurando condições dignas de recepção, incluindo alimentação e infraestrutura apropriada.

O anúncio ocorreu após uma reunião no Palácio do Planalto, na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu estratégias com ministros, representantes da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Polícia Federal. O encontro foi motivado pelo recente desembarque de um grupo de deportados em Manaus, que alegaram ter sido submetidos a condições degradantes e agressões durante o voo de repatriação.

A Polícia Federal informou que o uso de algemas é um procedimento padrão em voos fretados pelos EUA para deportação, mas que elas são retiradas ao desembarcar no Brasil, uma vez que os deportados não são considerados prisioneiros.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, destacou que o voo enfrentou problemas técnicos, como a falha no sistema de ar-condicionado, o que agravou a situação dos passageiros. Ele também ressaltou que o governo brasileiro não pretende disponibilizar aeronaves da FAB para buscar deportados nos EUA.

O recente voo de deportação que aterrissou em Manaus ganhou repercussão após um incidente envolvendo os passageiros. Devido ao calor dentro da aeronave, um grupo de brasileiros abriu uma porta de emergência e desembarcou por uma ponte inflável ainda algemado. Após a chegada ao Brasil, as algemas foram removidas por ordem do governo, e a FAB providenciou o transporte dos deportados até Belo Horizonte.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, reforçou que a questão do tratamento dado aos deportados é um tema de soberania nacional e que o governo busca garantir a dignidade dos cidadãos brasileiros em processos de repatriação.

Posicionamento do Itamaraty

O Ministério das Relações Exteriores cobrou explicações da embaixada americana sobre o uso generalizado de algemas, classificando a prática como inaceitável e contrária aos acordos bilaterais. Apesar da tensão diplomática, o governo brasileiro enfatizou que deseja manter boas relações com os Estados Unidos, mas sem abrir mão da proteção aos seus cidadãos.

Além do acolhimento emergencial, o governo avalia formas de financiamento para programas de assistência a imigrantes deportados, especialmente diante da recente suspensão dos repasses dos EUA para a Organização Internacional para as Migrações (OIM), que apoia iniciativas humanitárias no Brasil.

A criação do centro de acolhimento em Minas Gerais representa um passo na busca por garantir condições dignas aos brasileiros que retornam ao país, ao mesmo tempo em que o governo federal trabalha para negociar melhores condições nos processos de deportação junto às autoridades americanas.

Fonte: Da redação