Publicado em 10/02/2025 as 10:00am
Deportado dos EUA, pedreiro mineiro relata a dura jornada até o Brasil e a separação da esposa
Erionaldo Santana, um pedreiro de 50 anos, desembarcou no Brasil no dia 25 de janeiro de 2025...
Erionaldo Santana, um pedreiro de 50 anos, desembarcou no Brasil no dia 25 de janeiro de 2025 com um pesado fardo: o peso de um sonho americano desfeito e a angústia de uma separação dolorosa. Vestindo o mesmo macacão laranja com que foi preso no dia 6 de novembro de 2024, quando Donald Trump foi reeleito presidente dos Estados Unidos, Erionaldo chegou acorrentado aos pés e mãos, com apenas seu passaporte e documentos de deportação em mãos. Ele retornava sozinho ao Brasil, enquanto sua esposa, Rosineila Pimentel Moreira, ainda permanecia presa em uma penitenciária do ICE, na Califórnia, aguardando sua deportação.
A história de Erionaldo começou com um sonho: o desejo de uma vida melhor para ele e sua família. Em 2024, ele vendeu sua casa e seus bens em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, e juntou R$ 150 mil para pagar os coiotes, traficantes que transportaram ele e Rosineila ilegalmente para os Estados Unidos. Mas o sonho de uma nova vida na América logo se transformou em um pesadelo.
Na manhã do dia 6 de novembro, o mesmo dia em que Trump foi reeleito, Erionaldo e sua esposa estavam trabalhando quando foram surpreendidos por agentes do ICE. O pedreiro descreve o momento como violento, em que ele e Rosineila foram algemados e tratados como criminosos. “Eu não sabia o que fazer quando vi a gente ali naquela situação. A gente nunca teve problema com a Justiça no Brasil, somos trabalhadores, mas eles tratam a gente dessa forma", contou, com voz embargada.
Após a prisão, Erionaldo e Rosineila foram levados para diferentes centros de detenção, e o pedreiro ficou separado da esposa por longos períodos. Durante o primeiro mês, ficaram presos em Massachusetts, depois foram transferidos para Montana, e por fim, Erionaldo foi levado sozinho para uma penitenciária em Louisiana, onde permaneceu até sua deportação.
O voo de repatriação, que teve como destino final o aeroporto de Confins, em Minas Gerais, teve um trajeto tumultuado. Por problemas técnicos, o avião fez uma parada não planejada em Manaus, e os deportados, incluindo Erionaldo, permaneceram algemados durante todo o voo, até para ir ao banheiro.
Estávamos sendo tratados como bandidos. Nos algemaram para tudo. Alguns ficaram mal por causa do calor, e a tripulação jogou água nas nossas cabeças”, relatou, lembrando com tristeza o tratamento desumano.
Durante a escala em Manaus, a tensão aumentou. Revoltados com a situação, os deportados começaram a se agitar e a pressionar as autoridades e tripulantes para abrir a saída de emergência do avião. Imagens capturadas mostraram os brasileiros desembarcando do avião por uma ponte inflável, ainda sob vigilância.
Ao chegar a Confins, já desalgemado, Erionaldo sentiu o peso do recomeço. A saudade de sua esposa, ainda presa nos Estados Unidos, e a sensação de perda o acompanharam durante o voo de volta. “Larguei tudo por uma vida melhor e fiquei sem nada. Queria, pelo menos, que ela estivesse aqui”, disse, com a voz trêmula, enquanto olhava para a casa de sua avó, onde finalmente chegou sozinho, após meses de incerteza.
A família de Erionaldo, que não tinha notícias dele desde novembro, viveu meses de angústia. Sua avó, Heidy Ferreira, de 90 anos, contou com alívio e lágrimas nos olhos que, durante todo esse tempo, temia o pior. “Achávamos que ele estava morto. Ele não nos deu parabéns no meu aniversário. Não sabia mais nada dele nem da minha nora. A gente pensou que ele tinha morrido”, relatou Heidy, emocionada, sem conseguir segurar as lágrimas.
Agora, com a separação forçada de Rosineila, que ainda aguarda deportação, Erionaldo se vê diante de um novo recomeço, sem o apoio de sua companheira e sem a vida que sonhou nos Estados Unidos. A dor da separação e a sensação de derrota pesam, mas ele segue, ainda com a esperança de que um dia sua esposa retorne ao Brasil, para que, juntos, possam recomeçar suas vidas.
"Eu larguei tudo por um sonho, e agora tenho que recomeçar. Mas queria que ela estivesse aqui comigo", concluiu, com o olhar distante, a saudade e a dor de quem viu o sonho americano se desfazer diante de seus olhos.