Publicado em 19/02/2025 as 4:00pm
Brasileiros usam WhatsApp e lockdown para evitar deportação em meio a operações do ICE
A comunidade de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos tem adotado estratégias extremas para...
A comunidade de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos tem adotado estratégias extremas para evitar a deportação em meio a operações intensificadas da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês). Com medo de serem detidos, muitos estão se escondendo em casa, mantendo crianças fora da escola e usando grupos no WhatsApp para monitorar em tempo real a movimentação dos agentes de imigração.
Um imigrante brasileiro que vive na Flórida e preferiu não se identificar relatou à BBC News Brasil que a situação está "muito tensa". Ele trabalha na construção civil e tem dois filhos nos EUA, mas está em situação irregular no país. "Tem dias que dá uma minimizada na polícia, tem dias que é 'caô'", descreveu, referindo-se à presença imprevisível do ICE. Ele contou que grupos de WhatsApp são usados para alertar a comunidade sobre operações nas redondezas. "Já parou [o ICE] na frente de um condomínio de um amigo meu e pegou uns dois, três lá", disse. "Está todo mundo com medo. Não tem como você andar, muito complicado."
O maior temor do imigrante é ser separado dos filhos caso seja deportado. "O medo é deixar as crianças para trás. Com quem vão ficar as crianças? São poucas as pessoas que a gente conhece. Se eu for pego, não dá para pedir um americano para pegar", explicou. Ele chegou a deixar de trabalhar por alguns dias para evitar riscos.
André Simões, gerente de projetos do Brazilian Worker Center, uma das maiores organizações de apoio a imigrantes em Boston, confirmou que a comunidade está em estado de alerta máximo. "As pessoas não estão indo trabalhar, e quando elas não vão trabalhar — porque a maioria dos trabalhos é por hora — isso afeta bastante toda a comunidade", disse.
Além do isolamento voluntário, organizações como o Brazilian Worker Center têm promovido sessões informativas chamadas "conheça seus direitos" (ou "know your rights", em inglês). Esses encontros, realizados em igrejas, escolas e centros comunitários — e muitas vezes transferidos para o formato online devido ao medo de sair de casa —, ensinam os imigrantes como agir em caso de abordagem pelo ICE. Advogados também participam para orientar sobre procedimentos legais.
Durante as reuniões, os imigrantes podem assinar um documento chamado "caregiver update", que autoriza outra pessoa a buscar seus filhos na escola caso sejam detidos. Há ainda discussões sobre a possibilidade de as crianças terem aulas remotas para evitar riscos. "São justamente esses documentos que ajudam a comunidade a se preparar", explicou Simões.
O impacto das operações do ICE já é sentido localmente. "Quando eu vou para os comércios, vejo que está muito mais vazio, tem muito menos imigrantes, e as crianças têm deixado de ir para a escola", relatou Simões. Ainda não se sabe o alcance total dessas ações, mas a comunidade brasileira nos EUA vive um momento de incerteza e medo, enquanto tenta se proteger da melhor forma possível.
(com informações do portal G1)
Fonte: Da redação