Chicago reforça proteções a imigrantes, enquanto cidades do interior de Illinois se dividem sobre leis santuário

Enquanto o governo federal intensifica as deportações em massa, Chicago e outras cidades de Illinois têm reforçado suas políticas de proteção a imigrantes. No entanto, a questão divide opiniões no estado, com municípios do interior adotando medidas contrárias às chamadas "leis santuário".

O prefeito de Chicago, Brandon Johnson, e o governador de Illinois, JB Pritzker, prometeram usar a legislação estadual para limitar as deportações. A postura levou o governo federal a processar o estado, o condado de Cook e a cidade de Chicago na semana passada, contestando suas leis santuário. A principal delas, a TRUST Act, aprovada em 2017, impede que autoridades locais cooperem com a Imigração e Alfândega (ICE) em ações civis de imigração ou questionem indivíduos sobre seu status migratório.

No entanto, fora da região metropolitana de Chicago, a situação é mais complexa. Desde 2023, mais de uma dúzia de condados e cidades no interior de Illinois aprovaram leis ou resoluções contrárias às políticas santuário, declarando explicitamente que não pretendem acolher imigrantes indocumentados. Muitas dessas localidades reforçaram sua posição após o anúncio de deportações em massa pelo ex-presidente Donald Trump.

"Tivemos um mandato claro de nossos eleitores para lidar com essas questões de imigração de uma forma mais alinhada com a abordagem de Trump", disse Drew Muffler, presidente do Conselho do Condado de Grundy, em entrevista. "Não queríamos nos ver financeiramente responsáveis por fornecer acomodações para migrantes."

Grundy foi o primeiro município do estado a aprovar uma lei contrária ao santuário, em dezembro de 2023. A decisão foi motivada por um referendo realizado em 2020, no qual 64% dos residentes do condado apoiaram uma abordagem mais conservadora em relação à imigração.

A medida foi tomada após o governador do Texas, Greg Abbott, começar a enviar ônibus com migrantes para Illinois. Autoridades locais esperavam enviar uma mensagem clara de que não receberiam esses ônibus, especialmente após alguns migrantes serem deixados em subúrbios sem aviso prévio.

No entanto, com a TRUST Act em vigor em todo o estado, as resoluções contrárias ao santuário têm pouco poder legal. "As pessoas perguntam o que Grundy fará diante das novas políticas federais, e a resposta do xerife é simples: temos que seguir a TRUST Act", explicou Muffler.

A lei proíbe que policiais estaduais e locais auxiliem a ICE em ações de imigração civil, desde que não impeçam o trabalho dos agentes federais. Essa regra se aplica a todo o estado, mesmo em comunidades que apoiam a abordagem de Trump.

"Condados ou cidades onde o governo local pode não estar inclinado a resistir à aplicação da lei de imigração ainda não podem participar dessas atividades", afirmou Fred Tsao, conselheiro sênior da Illinois Coalition for Immigrant and Refugee Rights.

Nas primeiras semanas do governo Trump, o impacto das deportações foi sentido principalmente na região de Chicago, onde a população imigrante é maior. Segundo a ACLU de Illinois, cerca de 100 das 1.000 prisões realizadas nacionalmente até a semana passada ocorreram em Chicago e seus subúrbios. Não há registros de prisões da ICE fora dessa área.

Ainda assim, a oposição partidária à TRUST Act tem ganhado força em Springfield. Em janeiro, legisladores republicanos apresentaram um projeto de lei para revogar a legislação, exigindo que autoridades locais cooperem com a ICE quando necessário.

"Na minha visão, a segurança pública está em maior risco quando você restringe a capacidade de autoridades federais e estaduais de se comunicarem", disse o senador Andrew Chesney, republicano de Freeport e principal autor do projeto.

No entanto, a supermaioria democrata na Assembleia Legislativa de Illinois — liderada pelo presidente do Senado, Don Harmon, e pelo presidente da Câmara, Emanuel "Chris" Welch — dificilmente apoiará qualquer desafio à lei santuário, segundo Tsao.

Enquanto isso, cidades como Skokie, Berwyn e Oak Park têm fortalecido suas políticas de proteção a imigrantes. Em Evanston, o conselho municipal aprovou recentemente medidas adicionais para reforçar sua lei santuário, incluindo proteções extras e a proibição de compartilhamento de dados sobre o status migratório dos residentes.

"Essas medidas visam manter os valores de confiança e segurança da comunidade, garantindo que todos os residentes tenham a oportunidade de prosperar", disse a prefeitura em comunicado.

Algumas cidades do interior, como Normal e Urbana, também adotaram políticas de acolhimento a imigrantes em resposta às medidas mais duras do governo Trump. Em Normal, onde uma lei de proteção a imigrantes foi aprovada em 2018, o chefe de polícia Stephen Petrilli afirmou que o departamento segue a TRUST Act e não questiona o status migratório durante investigações de rotina.

"Temos reforçado à comunidade que estamos cumprindo a lei estadual", disse Petrilli.

Fonte: Da redação