"Não falo mais português em público", relata brasileira após ataque em Boston

A brasileira Cíntia Rodrigues, de 23 anos, tornou-se mais uma vítima da onda de xenofobia que assola os Estados Unidos. Ela revelou que tem evitado falar português em público após ser agredida verbal e fisicamente por uma americana enquanto andava de trem em Boston, Massachusetts.

Nascida em Brasília, Cíntia vive nos EUA há três anos, onde trabalha como babá e aguarda a emissão de seu green card, o cartão de residência permanente. Ela revelou durante uma entrevista ao UOL News nesta terça-feira (25), que incidente ocorreu poucas semanas antes da posse do presidente Donald Trump, cuja retórica anti-imigração tem alimentado um clima de hostilidade contra estrangeiros no país.

Cíntia contou que estava enviando uma mensagem de áudio em português ao namorado quando foi abordada por uma passageira. "Ela me perguntou de onde eu era. Quando disse que era do Brasil, ela começou a me atacar gratuitamente", relatou. A agressora acusou Cíntia de "roubar empregos" e "roubar homens", em um discurso carregado de preconceito e ódio.

Apesar da gravidade do episódio, a maioria dos passageiros permaneceu passiva. "Apenas uma pessoa veio falar comigo quando eu descia do vagão, dizendo para eu não me importar, que 'pessoas assim existem, mas não são todos os americanos que pensam dessa forma'", disse Cíntia.

O trauma do ataque deixou marcas profundas. Cíntia admitiu que, desde então, evita falar português em locais públicos. "Peguei uma 'trava'. Percebi que não estou mais falando português em público", confessou. Apesar de não temer abordagens de autoridades — já que seus documentos estão em dia —, ela adotou a medida como forma de precaução.

O caso de Cíntia não é isolado. Desde o início de sua gestão, Donald Trump tem promovido uma ofensiva contra imigrantes ilegais, o que tem gerado um clima de tensão e hostilidade. No final de janeiro, um voo com 88 brasileiros deportados chegou a Belo Horizonte (MG). Os repatriados foram algemados, causando mal-estar diplomático entre Brasil e EUA e levando a protestos formais do governo Lula (PT).

Apesar das dificuldades, Cíntia mantém a esperança de que a situação melhore. "Espero que as pessoas comecem a se respeitar. Os Estados Unidos foram feitos por imigrantes, e essa deportação em massa só prejudica a economia", afirmou. Determinada a permanecer no país, ela planeja viajar assim que receber seu green card.

A história de Cíntia é um alerta sobre os desafios enfrentados por imigrantes brasileiros nos EUA. Seu relato expõe não apenas a violência da xenofobia, mas também o silêncio e a indiferença que muitas vezes a acompanham. Enquanto políticas anti-imigração continuam a ganhar força, histórias como a dela lembram que a luta por respeito e inclusão é mais urgente do que nunca.