Publicado em 15/03/2025 as 6:00pm
Luciene Carneiro, mulher forte e resiliente, organiza evento para celebrar empreendedorismo feminino nos EUA
A mulher que organizou um evento para fortalecer outras mulheres também precisa se reconstruir. Mas uma coisa é certa: sua história, sua dor e sua resiliência jamais serão esquecidas Fonte: Da redação
No dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher a comunidade brasileira em Woburn, Massachusetts celebrou a força e a resiliência feminina no "Coquetel Mulheres Empreendedoras", organizado por Luh Carneiro. O encontro reuniu mais de 200 pessoas e contou com 17 estandes de empresárias brasileiras, promovendo um espaço de apoio, conexão e divulgação de negócios.
"Minha intenção sempre foi criar um espaço onde as mulheres pudessem encontrar tudo relacionado à beleza em um só lugar, otimizando o tempo e fortalecendo a rede de apoio entre empreendedoras", explicou Luh, que é proprietária do Studio Luh Carneiro.
Além das exposições, o evento também contou com palestras informativas, incluindo uma sobre como se proteger em abordagens do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA), ministrada por representantes de um programa de imigração de Boston. O tema, infelizmente, se tornou ainda mais relevante para a anfitriã do evento, que, dias antes, havia vivido o drama de ser presa pelo ICE.
Empresária foi denunciada, e presa pelo ICE por não ter permit de trabalho
Na manhã do dia 11 de fevereiro, o que parecia um dia comum de trabalho para Luh se transformou em um episódio de terror. Enquanto ela organizava seu escritório no salão de beleza, dois agentes do ICE entraram. Gentil e educada, Luh os recebeu com cortesia, oferecendo água e café, sem imaginar o que estava por vir.
"A gente sempre ouve falar, mas nunca acha que vai acontecer com a gente. Eu nunca fiz nada de errado, nunca tive problema com a lei, tenho todas as licenças municipais para trabalhar e pago meus impostos. Só estava fora de status migratório", relembra, com a voz embargada.
Os agentes informaram que estavam ali por uma denúncia contra ela. Luh prontamente apresentou toda a documentação do salão e das funcionárias, mas eles queriam apenas saber se ela possuía permissão de trabalho. Quando respondeu que não, ela logo questionou: vocês vão me prender? e a sua pergunta ficou sem resposta naquele momento. Os agentes pediram para ela esperar, eles se retiraram minutos depois, outros agentes chegaram. Uma policial, visivelmente emocionada, chorava e disse: "Isso não é certo, nós deveríamos prender criminosos, não uma mãe de família trabalhadora". Mesmo assim, a ordem superior era clara: levar Luh.
O desespero tomou conta. Ela mandou uma mensagem para o marido tentando acalmá-lo, mas seu corpo reagiu antes da mente. A pressão subiu, o nariz começou a sangrar e sua visão ficou turva. Clientes e colegas tentaram interceder, uma cliente americana disse aos agentes que seria sponsor dela, mas não havia nada a ser feito. Ela só teve a oportunidade de pegar apenas o seu casaco porque lá fora estava frio, foi a única permissão dada a ela antes de sair do salão.
Luh Levou apenas um papel e uma caneta no momento em que foi colocada no carro. Durante o trajeto,Luh chorava, os agentes tentavam amenizar o clima. Compraram água para ela e conversaram, mas a sensação de impotência crescia a cada minuto. Ao chegar à delegacia, a situação ficou ainda mais tensa.
As celas estavam lotadas de homens, e Luh foi colocada em um escritório isolado. Passou a tarde ao lado de uma agente que tentava confortá-la. Luh explicou sua história, mostrou que sempre pagou impostos, que batalhou para ser uma profissional legalizada. "Eu só queria uma oportunidade de ter meus documentos", disse. Mas não havia garantias de nada.
No fim do dia, disseram que seria solta. Seu coração quase desacelerou, mas foi um alívio passageiro. A oficial que a acompanhava saiu para conversar e, minutos depois, Luh escutou os gritos e o choro dela. "Isso não é justo! Ela é mãe, trabalhadora. Amanhã é o aniversário da filha dela!". O chão sumiu. Seu destino havia mudado: seria transferida para um presídio em Vermont.
Um novo agente se aproximou, trazendo uma sacola verde e laranja. "Coloque todos os seus pertences aqui", ordenou. "Alguém pode vir buscar, porque você vai permanecer encarcerada". Naquele momento, Luh sentiu o chão sair sob os seus pés. Era como uma sentença de morte. Amanhã é o aniversário da minha filha, eu só queria estar com ela, disse chorando.
Ela retirou o relógio, os brincos, a aliança. Tudo foi colocado na sacola, como em uma cena de velório quando entregam os pertences do ente querido à família. A agente que havia ficado ao seu lado o tempo todo chorava, pedindo desculpas por não poder fazer mais. "Não terei mais comunicação com ninguém. Meu destino agora não é mais meu", está nas mãos de Deus, pensou.
O Milagre da Liberdade
Horas intermináveis se passaram. A sensação de estar sendo tragada pelo tempo, de estar presa a um destino sem controle, era sufocante. Quando foi ao banheiro, aquelas portas pesadas se fecharam e a falta de resposta ao bater desesperadamente a fizeram sentir-se engolida por um buraco sem saída. “Era tudo muito estranho, como em uma cena de filme”.
Mas, contra todas as expectativas, algo mudou. Um agente veio até ela com um papel. "Você quer que o consulado brasileiro saiba?", perguntou. "Eu não sei", respondeu, confusa.
Naquele momento, tudo parecia estar nas mãos do acaso – mas ela tinha certeza de que estava nas mãos de Deus. E então, a notícia: Luh seria solta. Ninguém entendeu exatamente como ou por que, mas a decisão veio.
Ela foi liberada quase 12 horas após sua prisão. Saiu daquela delegacia como alguém que renasce, sem forças para chorar, sem forças para sorrir. No dia seguinte, era o aniversário da filha, mas a casa não estava em festa. "Mamãe, nem parece meu aniversário", a menina sussurrou. A dor da noite anterior ainda pairava sobre a família.
Agora, livre, mas marcada por essa dura experiência, Luh decidiu não se consumir pelo ódio. "Eu não quero saber quem me denunciou. Não quero carregar esse peso. Eu entreguei tudo nas mãos de Deus, ele me permitiu passar por isso, acredito que tudo na vida tem um propósito, inclusive o sofrimento. Eu não precisei de advogado porque o maior advogado estava o tempo todo do meu lado, JESUS, irei honrar o nome dele para sempre, e para aquela pessoa que tentou me fazer o mal, eu vou orar por ela, não quero ter ódio”.
A mulher que organizou um evento para fortalecer outras mulheres também precisa se reconstruir. Mas uma coisa é certa: sua história, sua dor e sua resiliência jamais serão esquecidas.
Dizem que cada pessoa oferece o que tem, existem pessoas que semeiam o ódio, mas a Luh decidiu semear o amor. Luciene é enfermeira licenciada nos Estados Unidos e dedica parte de sua vida a um trabalho voluntário como doula, proporcionando apoio e acolhimento a mães no momento do parto. Com carinho e profissionalismo, ela auxilia gestantes a vivenciarem esse momento tão especial de forma mais tranquila e segura. Seu compromisso com o bem-estar das mães e bebês é um reflexo de sua paixão pela enfermagem e pelo cuidado humanizado. Interessados podem entrar em contato com Luciene para saber mais sobre seu trabalho e como receber esse suporte essencial durante o nascimento de um filho.
Contatos
@studio.luhcarneiro
922 Main St,Winchester MA