Procurador da Florida ameaça remover vereadores de Fort Myers por resistência à cooperação com ICE

Em um confronto que reflete a crescente tensão entre autoridades locais e estaduais sobre políticas de imigração, o Procurador-geral da Flórida, James Uthmeier, ameaçou remover três membros da Câmara Municipal de Fort Myers de seus cargos após se recusarem a cooperar com as autoridades federais de imigração. O impasse ocorreu na segunda-feira, dia 17, quando a Câmara Municipal votou 3 a 3 contra um acordo que permitiria que policiais locais participassem de esforços de fiscalização de imigração em parceria com o Departamento de Imigração (ICE, sigla em inglês).

Uthmeier, que assumiu o cargo há um mês, enviou uma carta à Câmara na terça-feira alertando que o governador Ron DeSantis poderia remover os membros se não revertessem sua decisão. A carta citou leis estaduais recentes que exigem que entidades locais cooperem com a aplicação das leis de imigração federal. “A falha em corrigir as ações da Câmara resultará na aplicação de todas as penalidades civis e criminais aplicáveis, incluindo, mas não se limitando a, ser considerado em desacato, medidas declaratórias ou injuntivas, e remoção do cargo pelo governador”, escreveu Uthmeier.

O acordo em questão, conhecido como 287(g), treina policiais locais para auxiliar o ICE na identificação e detenção de imigrantes sujeitos a deportação. Nos últimos meses, todos os 67 xerifes da Flórida e pelo menos 40 municípios adotaram o programa, superando amplamente o número de acordos em qualquer outro estado.

No entanto, Fort Myers se tornou um ponto de resistência, com três membros da Câmara votando contra a medida após horas de testemunhos públicos e debate.

Diana Giraldo, uma das vereadoras que votou contra o acordo, emocionou-se durante a reunião ao compartilhar sua experiência como imigrante. “Não posso apoiar isso como imigrante, a única imigrante nesta câmara”, disse. “Porque, embora isso não seja sobre mim, especificamente, eu já estive nessa posição, e não consigo expressar o quanto isso pesa no meu coração e na minha mente, sabendo que a maioria de nós que vem como imigrante não vem aqui para cometer crimes.”

Outra vereadora, Darla Bonk, afirmou que estava disposta a cooperar com o escritório do Procurador-geral, mas não comentou sobre o voto. Terolyn Watson, a terceira vereadora que se opôs ao acordo, não comentou as ameaças.

O governador DeSantis, que assinou duas leis no mês passado para reforçar a cooperação com as políticas de imigração da administração Trump, defendeu a medida em uma publicação no X (antigo Twitter). “O programa 287(g) treina a aplicação da lei local para auxiliar o ICE”, escreveu ele. “A Flórida garantirá que suas leis sejam seguidas, e, quando se trata de imigração, os dias de inação acabaram. Governem-se de acordo.”

A ameaça de remoção do cargo ecoa ações anteriores de DeSantis, que já afastou dois promotores estaduais democratas. Thomas Kennedy, porta-voz da Florida Immigrant Coalition, criticou a postura do governador, afirmando que cidades como Tallahassee adotaram os acordos por medo de retaliação. “Eles estão todos com medo do governador e do seu uso excessivo de autoridade constitucional para remover funcionários eleitos localmente”, disse Kennedy.

O impasse em Fort Myers destaca a divisão crescente no estado sobre políticas de imigração, com alguns defendendo a cooperação total com o governo federal e outros resistindo por preocupações com os direitos dos imigrantes e o impacto nas comunidades locais. Enquanto isso, a Câmara Municipal de Fort Myers enfrenta uma decisão crucial: ceder às pressões estaduais ou arriscar a remoção de seus membros.

Fonte: Da redação