Viagem que brasileiro fez de Uno do Brasil e NY é retratada em documentário

Há três anos, Luiz Torelli, morador de Nova Odessa, no interior de São Paulo, enfrentava um dos momentos mais difíceis de sua vida. Após perder a avó, passar por uma cirurgia de risco e entrar em depressão, ele decidiu transformar sua dor em uma aventura ousada: viajar pelas Américas em um Fiat Uno 2002 adaptado como motorhome, batizado carinhosamente de "Sandro". Agora, essa história inspiradora ganha as telas no documentário "Meu Amigo Sandro, o filme", que estreia nesta sexta-feira (21) no Teatro Municipal de Nova Odessa.

A ideia de transformar o carro em um motorhome surgiu de forma quase improvisada. Luiz cortou uma chapa de madeira para criar uma cama e um baú no Uno, e, pouco tempo depois, o veículo estava equipado com eletrodomésticos e pronto para a estrada. O que começou como uma fuga da rotina e da dor pessoal se transformou em uma jornada épica de 60 mil quilômetros por 15 países, incluindo desafios como solidão, falta de ar em altitudes extremas e até riscos em áreas controladas por traficantes.

Entre as conquistas está a de chegar a New York, um sonho que ele cultivava há muitos anos.

"O principal desafio foi estar sozinho. A gente, na maioria das vezes, não olha muito para si mesmo. Estar comigo me ensinou muitas coisas que eu nunca tinha sentido, alguns monstros adormecidos, mas também bons momentos de autoconhecimento", reflete Luiz.

A viagem não foi fácil. Em Tampico, no México, Luiz teve uma crise de ansiedade tão forte que precisou ser hospitalizado. "Foi uma explosão de tudo o que vinha sentindo. Consegui controlar, mas faz parte. Sozinho, você está sujeito a essas coisas", relembra. No Peru, enfrentou altitudes de 5.200 metros, com o carro falhando, gelo na pista e falta de ar. Já na Colômbia, passou por uma área em conflito devido a uma rebelião de traficantes, situação que o fez lembrar da série "Narcos", da Netflix, e o obrigou a fugir rapidamente.

Mas os momentos de dificuldade foram superados por experiências transformadoras. Luiz destaca o aprendizado de valorizar cada minuto da vida, viver com simplicidade e respeitar as diferenças culturais. "Aprendi a aproveitar cada dia, a viver com pouco e a dar valor às culturas. Me tornei um ser mais aberto ao mundo", afirma.

Além disso, ele ressalta o acolhimento das pessoas que conheceu pelo caminho. "Numa viagem, você vê lugares maravilhosos, mas quem te transforma mesmo são as pessoas. Conheci gente do mundo inteiro, fiquei na casa de famílias no Peru, na Costa Rica... Hoje, posso dizer que tenho lugar para ficar no mundo inteiro, de tanta amizade que fiz."

A jornada de Luiz e Sandro ganhou notoriedade nas redes sociais. Sua página @um.a.uno, que começou com 19 mil seguidores, hoje conta com mais de 693 mil. A popularidade chamou a atenção do diretor Dario Honório, que decidiu transformar a história em um documentário. O filme foi produzido de forma independente e utiliza mais de 1 terabyte de vídeos gravados por Luiz durante a viagem.

"Gravei muita coisa durante o percurso. Foi um trabalho intenso de decupar esse material, roteirizar e transformá-lo num filme", explica Luiz. O documentário traz tanto os momentos de dificuldade e medo quanto as paisagens paradisíacas e as conquistas emocionantes da viagem.

Novos desafios no horizonte

Após a aventura pelas Américas, Luiz e Sandro cruzaram a Europa, visitando cartões-postais como a Torre Eiffel, em Paris. Agora, ele se prepara para uma nova expedição, que considera a "última viagem longa" do Uno. O destino? O Alasca, um lugar que ainda não conheceu. "Da primeira vez, cheguei à fronteira dos Estados Unidos em quatro meses. Dessa vez, quero fazer isso entre 45 e 60 dias", planeja.

Mas Luiz já pensa em novos desafios. "Depois, tem a parte de Ushuaia [na Argentina], que seria a ponta das Américas, que eu não fiz. Mas isso vai ficar para o próximo capítulo. Não sei se será com Sandro ou com outro veículo", revela.

Estreia do documentário

O lançamento de "Meu Amigo Sandro, o filme" ocorre nesta sexta-feira (21), às 19h30, no Teatro Municipal de Nova Odessa, com entrada gratuita. O público é convidado a doar um quilo de alimento não perecível ou um litro de leite, que serão destinados a uma instituição de caridade. Além disso, o documentário terá uma sessão nos cinemas da PlayArt, em São Paulo, e a intenção é inscrevê-lo em festivais de cinema e disponibilizá-lo em plataformas de streaming.

A história de Luiz Torelli e seu Fiat Uno é um exemplo de como a superação e a coragem podem transformar vidas. Mais do que uma viagem, é uma lição de resiliência, autoconhecimento e amor pela vida.