Especialista brasileiro em IA tem visto para os EUA negado

Rodrigo Nogueira, pesquisador brasileiro especializado em inteligência artificial (IA), teve o visto para os Estados Unidos negado após uma série de questionamentos sobre sua carreira e viagens internacionais. O caso, que chamou a atenção da comunidade científica e de tecnologia, ocorreu após uma entrevista no consulado americano em São Paulo, no final de fevereiro.

A embaixada dos EUA e o consulado não se pronunciaram sobre o motivo da negativa, mas Nogueira acredita que a decisão pode estar relacionada à sua atuação em uma área estratégica e sensível, alvo de disputas globais entre as principais potências.

Durante a entrevista no consulado, Nogueira relatou que tudo transcorria normalmente até que mencionou trabalhar com inteligência artificial, principalmente para clientes brasileiros. Após a conversa, ele foi informado de que o visto seria concedido, mas, no dia seguinte, recebeu um pedido de esclarecimentos adicionais sobre uma viagem que fez a Taiwan em 2023 e sobre sua pesquisa na Universidade de Nova York (NYU), onde viveu por seis anos e concluiu o doutorado. Nogueira integrou o mesmo laboratório do renomado cientista francês Yann LeCun, uma das maiores autoridades mundiais em computação e IA.

No dia 10 de março, o consulado solicitou o currículo completo do pesquisador, uma cópia de sua tese de doutorado e outros artigos científicos publicados. Dois dias depois, Nogueira foi informado de que o visto havia sido negado, sem a possibilidade de solicitar um novo até que se completassem 12 meses. A decisão impediu que ele participasse presencialmente do painel “Inteligência Artificial no Brasil”, em Harvard, onde falaria sobre os avanços da Maritaca AI, empresa da qual faz parte e que atende mais de 100 clientes no Brasil.

A palestra foi transferida para o formato online, mas Nogueira ainda não confirmou se participará, em protesto à negativa do visto.

O pesquisador, que costuma se manifestar nas redes sociais sobre a importância de o Brasil desenvolver sua própria infraestrutura de inteligência artificial e reduzir a dependência de tecnologias estrangeiras, vê o ocorrido como um reflexo das tensões geopolíticas envolvendo a IA. “A inteligência artificial é uma área estratégica e sensível, e minha atuação pode ter sido interpretada como um ponto de atenção”, afirmou Nogueira ao site InfoMoney, que apurou o caso.

A negativa do visto ocorre em um momento em que os EUA têm reforçado o controle sobre a entrada de estrangeiros em áreas consideradas críticas, como tecnologia e ciência, especialmente aqueles com histórico de viagens a países como Taiwan, que enfrenta disputas geopolíticas com a China.

Apesar de não haver confirmação oficial sobre os motivos da decisão, o caso de Nogueira levanta questões sobre os impactos dessas políticas na colaboração científica internacional e no livre trânsito de pesquisadores.