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Publicado em 11/04/2025 as 10:00pm

Professora de universidade em Boston lança livros sobre barreiras no acesso à saúde para brasileiros

Apesar da fama de excelência do sistema de saúde de Massachusetts e dos avanços trazidos...


Apesar da fama de excelência do sistema de saúde de Massachusetts e dos avanços trazidos pela reforma estadual e pelo Obamacare, muitos imigrantes continuam enfrentando dificuldades significativas para acessar cuidados médicos na região de Boston. Essa é a conclusão da professora Tiffany Joseph, da Northeastern University, que acaba de lançar o livro “Not All In: Race, Immigration, and Healthcare Exclusion in the Age of Obamacare” (“Nem Todos Inclusos: Raça, Imigração e Exclusão na Saúde na Era do Obamacare”).

A obra é fruto de oito anos de pesquisa sobre as experiências de imigrantes no sistema de saúde do estado. Joseph começou a investigar o tema em 2011, após ouvir de brasileiros que enfrentaram obstáculos no acesso à saúde mesmo vivendo em Massachusetts, estado com políticas de cobertura consideradas modelo nacional.

“Ter acesso ao seguro não significa ter acesso ao cuidado de saúde”, afirma Joseph, que é professora associada de sociologia e assuntos internacionais. Para ela, reformas como a do Affordable Care Act (Obamacare) foram importantes, mas não eliminam barreiras como idioma, transporte, burocracia e medo da deportação.

Entre 2011 e 2019, Joseph entrevistou mais de 200 pessoas, entre imigrantes do Brasil, El Salvador e República Dominicana, profissionais de saúde, ativistas e funcionários de organizações comunitárias. Ela também participou de reuniões públicas, audiências no parlamento estadual e atuou como voluntária em entidades ligadas à saúde e imigração.

Um dos entraves destacados pela pesquisadora é a dificuldade que imigrantes indocumentados enfrentavam para obter documentos exigidos para acessar planos de saúde, como comprovante de residência. Na época, Massachusetts não emitia carteira de motorista para pessoas sem status imigratório, o que dificultava deslocamentos para consultas médicas, especialmente fora das áreas com acesso ao transporte público.

Além disso, Joseph observou que muitos dos materiais de inscrição em planos de saúde estavam disponíveis apenas em inglês, limitando o acesso de quem não domina o idioma. Alguns pacientes chegavam aos consultórios apenas para conseguir um tradutor que os ajudasse a agendar uma consulta, já que não conseguiam se comunicar por telefone.

A insegurança causada pelo clima político também impactava o comportamento dos imigrantes. “Alguns evitavam consultas médicas após operações de imigração nos bairros, com medo de serem detidos, mesmo estando legalmente no país”, relata.

Joseph também destacou as dificuldades de adaptação ao sistema de saúde norte-americano, considerado complexo até mesmo para quem domina o inglês. Muitos imigrantes vinham de países onde era possível ir diretamente a um especialista, enquanto nos EUA precisavam antes consultar um clínico geral e lidar com termos técnicos como franquias e planos PPO.

A escolha de focar nos imigrantes brasileiros, salvadorenhos e dominicanos se deu pela expressiva presença dessas comunidades em Massachusetts e pela diversidade de experiências, documentações e racializações. “Muitas vezes, o rótulo ‘latino’ nos Estados Unidos é tratado como homogêneo, mas há diferenças marcantes entre esses grupos”, explica.

A obra de Tiffany Joseph lança luz sobre uma realidade invisibilizada no debate público: a exclusão estrutural que persiste mesmo diante de políticas de inclusão. “O acesso à saúde não termina com a obtenção de um seguro — é preciso garantir que as pessoas consigam, de fato, usar esse sistema”, conclui a professora.

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