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Publicado em 21/04/2025 as 8:00am

Brasileira recorre à barriga de aluguel nos EUA para realizar sonho da maternidade

Após anos de tentativas frustradas, advogada investe em gestação por substituição fora do Brasil; processo exige planejamento, paciência e investimento que pode ultrapassar US$ 100 mil


Marcelo e Taíse Reyes com Arthur

Durante quase uma década, a advogada brasileira Taíse Rayes, 44, enfrentou um longo e doloroso percurso em busca da maternidade. Mesmo sem diagnóstico de infertilidade, acumulou mais de 13 tentativas de fertilização in vitro (FIV), além de tratamentos com embriões e óvulos doados, esperma doado e até a entrada na fila da adoção. Nenhuma das alternativas se concretizou.

A decisão de buscar a gestação por substituição — popularmente conhecida como "barriga de aluguel" — nos Estados Unidos surgiu após um episódio traumático no processo de adoção. A resposta de uma juíza, ao marido de Taíse, marcou um ponto de virada: “Se o seu processo cair na minha vara, tiro a criança de vocês na hora”, ouviu Marcelo Rayes, também advogado.

A opção pela gestação por substituição veio por acaso, durante um almoço, quando Taíse viu uma reportagem sobre o ator Paulo Gustavo, que havia recorrido à barriga de aluguel nos EUA. O que parecia distante da realidade brasileira tornou-se uma possibilidade concreta.

Taíse então iniciou pesquisas e entrou em contato com uma agência especializada. Descobriu que o processo envolvia uma série de etapas legais, logísticas e médicas — e um custo elevado, que pode variar de US$ 50 mil a US$ 120 mil, dependendo do número de tentativas e do país onde o procedimento é realizado.

O processo do casal teve início em Los Angeles, com a coleta do material genético. A fertilização dos embriões ocorreu na Índia, em laboratório especializado, e os embriões foram enviados de volta aos Estados Unidos, onde foi selecionada a mulher que gestaria o bebê.

 

Critérios rigorosos e primeira tentativa frustrada

A seleção da portadora gestacional seguiu critérios rigorosos: era necessário que ela já tivesse filhos, estivesse em boas condições de saúde física e mental, e passasse por uma série de avaliações. Três mulheres foram entrevistadas até a definição final.

Na primeira tentativa, no entanto, houve divergências. Apesar de o contrato prever a transferência de dois embriões, a gestante autorizou a implantação de apenas um — que não resultou em gravidez. “Ela ficou arrasada. Disse que, pela primeira vez, compreendia a dor que eu sentia há anos”, relembra Taíse.

A segunda tentativa foi mais próxima do plano original. Dois embriões foram transferidos e um deles se desenvolveu. A gravidez foi confirmada, mas a ansiedade persistia.

 

Expectativa e nascimento nos EUA

Acompanhando a gestação à distância, Taíse enfrentou o desafio de lidar com diferenças culturais e médicas. “Nos EUA, exames como o ultrassom são mais objetivos. Se não há problemas, não se fornecem imagens — algo que nos deixa inseguros”, conta.

Com seis meses de gestação, o casal viajou aos Estados Unidos e pôde ver o bebê em um ultrassom 3D. Já nos últimos dias de gravidez, Taíse se instalou em Chattanooga, no Tennessee, à espera do parto. Em agosto de 2019, recebeu a mensagem da gestante: “Estou indo para o hospital”.

Chegou a tempo de assistir ao nascimento e cortar o cordão umbilical. “Foi tudo muito rápido. Chorei tanto que o médico perguntou: ‘Quem é essa pessoa?’ A irmã da gestante respondeu: ‘É a mãe’”, lembra emocionada.

 

Burocracia e insegurança jurídica

Mesmo com contrato assinado e exames de DNA, a legislação do Tennessee exige que a mulher que deu à luz declare em juízo a entrega voluntária da criança. Nos documentos hospitalares, ela é inicialmente registrada como mãe legal, mesmo sem vínculo genético com o bebê.

“O medo existia. E se ela mudasse de ideia? Esse é um dos motivos pelos quais, geralmente, não se recomenda que a gestante mantenha contato com o bebê após o parto”, explica Taíse. Ainda assim, a mulher pediu para que seu filho mais velho conhecesse o recém-nascido. A advogada, por gratidão, aceitou.

Nos dias seguintes, Taíse chegou a buscar o leite materno diretamente na casa da gestante, pagando por isso. Quando o bebê apresentou refluxo, a mulher ofereceu um medicamento que já possuía. “Ela veio até minha casa, segurou o bebê, trocou a fralda e se despediu. Foi um gesto humano que jamais esquecerei”, conta.

A oficialização da filiação ocorreu dias depois, em audiência com o juiz. “Ela declarou: ‘Sim, é o filho deles. Eu recebi para fazer isso’. O juiz bateu o martelo. ‘It’s done’. Foi o maior alívio da minha vida”, diz Taíse.

 

Gratidão além do contrato

Apesar de se tratar de um serviço remunerado, Taíse faz questão de ressaltar o envolvimento emocional. “É um processo técnico, mas também profundamente humano”, afirma. Como forma de agradecimento, presenteou a gestante com um colar de ouro em formato de coração.

Hoje, ela e o marido são autores do livro “Por uma Chance”, disponível na Amazon, que narra a trajetória até a chegada de Arthur. A obra também levanta um debate sobre a burocracia da adoção no Brasil. “Queremos chamar a atenção para o fato de que muitas crianças seguem em abrigos, enquanto casais desistem diante da lentidão e da falta de acolhimento do sistema”, defende.

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