Publicado em 15/09/2011 as 12:00am
Entenda as diferenças entre a crise global atual e a de 2008
A economia mundial mal se levantou da queda em 2008 e já começa a cambalear. A crise que se avista agora no horizonte é a mesma que a anterior, é um reflexo dela ou é totalmente nova? Afinal, quais são as semelhanças e diferenças entre a crise de 2008 e a
A economia mundial mal se levantou da queda em 2008 e já começa a cambalear. A crise que se avista agora no horizonte é a mesma que a anterior, é um reflexo dela ou é totalmente nova? Afinal, quais são as semelhanças e diferenças entre a crise de 2008 e a de 2011?
Analistas concordam que as duas crises certamente não são isoladas. A crise global do momento é uma continuação --até mesmo um "efeito colateral"-- da crise de 2008.
Mas elas têm, sim, diferenças fundamentais.
A grande diferença é que, há três anos, o centro da crise eram os bancos americanos e europeus, ou seja, o setor privado. Desta vez, no entanto, o fantasma ronda os governos.
Na verdade, como definiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o "abacaxi" da economia passou do colo dos bancos para o dos Estados. Os governos, que ajudaram os bancos em 2008, acabaram "comprando" o problema para si. Em 2008, a crise do "subprime" Desde o início dos anos 2000, o governo norte-americano reduziu as taxas de juros, gerando uma oferta elevada de crédito, afirma Ricardo Humberto Rocha, professor de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Isso desembocou na chamada "crise do subprime", em 2008. Faltou crédito, o consumo caiu, e o desempenho das empresas foi duramente afetado. Para salvar os bancos, governos se endividaram Para evitar que esses bancos quebrassem e houvesse um possível dano maior à economia mundial, os governos realizaram uma operação de resgate, injetando recursos públicos nas instituições bancárias. "O sistema financeiro dos EUA foi praticamente estatizado, e o governo tornou-se sócio das instituições", diz Rocha. Com a "operação salva-vidas" dos bancos, os governos apostavam que a economia de seus Estados voltaria a se recuperar. Porém, a economia não cresceu na velocidade que se esperava. Com isso, o "remédio" do salvamento dos bancos surtiu apenas seu efeito colateral, mas não resolveu o problema em si. Situação agora é "menos ruim" e não falta crédito Agora, o setor privado está "numa boa", as empresas têm dinheiro em caixa, e vão bem, obrigado. O cenário de grandes quedas de PIB e recessão não é tão provável como em 2008, na opinião de Daniel Miraglia. Não há falta de crédito, nem de liquidez. Por enquanto, os bancos seguem com dinheiro em caixa e continuam emprestando, mas... "Se os empréstimos interbancários pararem, aí começa a ficar muito parecido com 2008." Por outro lado, ressalva o consultor, agora os Estados já estão com os juros bastante baixos e os governos não contam com essa opção --de baixar os juros-- para ajudar a economia. Diferença entre a crise da dívida nos EUA e na Europa: a moeda A crise que agora ronda EUA e Europa tem uma diferença essencial entre as duas regiões: a moeda na qual um país tem sua dívida. "Pela teoria econômica, um país que tem dívida em sua própria moeda, tem risco de moratória muito baixo", explica Miraglia. Isso porque o país pode decidir emitir mais moeda para pagar sua dívida, ainda que isso eleve um pouco sua inflação. Nesse caso, os Estados Unidos levam grande vantagem em relação à Europa. Nos EUA, 100% da dívida pública é em dólar, e o próprio país é responsável pela emissão da moeda. Já na Europa, os países fazem suas dívidas em euro, e a moeda é emitida pelo Banco Central Europeu. "A Grécia tem muito mais dívida em porcentagem do PIB do que a a Alemanha. Logo, a Grécia precisa de uma política fiscal diferente da Alemanha", explica o economista. Porém, com uma mesma moeda e a mesma taxa de juros, não dá para se fazer duas políticas diferentes. Mais diferenças entre EUA e Europa Uma solução sempre cogitada em períodos de crise é inflacionar o país para diminuir a dívida nominal em proporção do PIB, segundo a consultoria MB Associados. Entretanto, essa tática feita nas décadas de 1940 e 1950 no pós-guerra ocorre como consequência de um período prolongado de crescimento. "Naquela época, os EUA eram o celeiro industrial do mundo e o crescimento junto com inflação permitiu que a dívida rapidamente diminuísse. Agora, não há esse horizonte para a economia americana", segundo relatório da consultoria. No caso europeu, a situação é ainda mais preocupante talvez porque a ideia de uma solução da crise hoje passa também por um ajuste fiscal prolongado. Mas o peso do setor público na Europa é muito maior e poderá significar uma desmantelamento de longo prazo do Estado do bem-estar social. "Não nos parece uma transição simples nem fácil de fazer", informa o relatório. Europa descartou criação de bônus em comum na zona do euro Os investidores tinham expectativas de que fossem criados bônus em comum da zona do euro, uma iniciativa que tornaria o custo da dívida dos países mais fracos mais administrável. Mas a possibilidade foi descartada pelos líderes da Alemanha, Angela Merkel, e da França, Nicolas Sarkozy, em reunião em meados de agosto. Por outro lados, os dois líderes defenderam a criação de uma taxa sobre aplicações financeiras e um imposto comum sobre empresas na zona do euro. Além disso, propuseram uma maior integração da região e rigor nos gastos públicos como fórmula para recuperar a confiança dos mercados diante da crise financeira atual. (Com informações da Reuters)
Os bancos emprestaram muito mais dinheiro do que tinham em caixa --eles estavam "alavancados" em mais de 20 vezes em seus valores-- sem se preocupar com uma situação futura pouco favorável, diz Daniel Miraglia, consultor da eyesonfuture e professor da Business School São Paulo (BSP).
E mais: os bancos tinham muitos papéis e empréstimos no setor imobiliário. Houve um exagero no endividamento dos cidadãos norte-americanos, que não tinham como pagar suas dívidas.
O dinheiro público usado para salvar os bancos foi o principal motivo do alto endividamento atual dos governos. "Nos EUA, a dívida pública subiu cerca de 20% em relação ao PIB (Produto Interno Bruto)", diz Miraglia.
"Em 2008, o sistema interbancário parou, os bancos não emprestavam dinheiro um para o outro, e até o sistema de linha de crédito para exportações foi paralisado. Parou o crédito no mundo", conta.
Além disso, na Europa cada país tem uma estrutura de dívida diferente, mas eles não têm o poder de emitir dinheiro.
Em 2008, a crise do "subprime"
Desde o início dos anos 2000, o governo norte-americano reduziu as taxas de juros, gerando uma oferta elevada de crédito, afirma Ricardo Humberto Rocha, professor de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Os bancos emprestaram muito mais dinheiro do que tinham em caixa --eles estavam "alavancados" em mais de 20 vezes em seus valores-- sem se preocupar com uma situação futura pouco favorável, diz Daniel Miraglia, consultor da eyesonfuture e professor da Business School São Paulo (BSP).
E mais: os bancos tinham muitos papéis e empréstimos no setor imobiliário. Houve um exagero no endividamento dos cidadãos norte-americanos, que não tinham como pagar suas dívidas.
Isso desembocou na chamada "crise do subprime", em 2008. Faltou crédito, o consumo caiu, e o desempenho das empresas foi duramente afetado.
Para salvar os bancos, governos se endividaram
Para evitar que esses bancos quebrassem e houvesse um possível dano maior à economia mundial, os governos realizaram uma operação de resgate, injetando recursos públicos nas instituições bancárias.
"O sistema financeiro dos EUA foi praticamente estatizado, e o governo tornou-se sócio das instituições", diz Rocha.
O dinheiro público usado para salvar os bancos foi o principal motivo do alto endividamento atual dos governos. "Nos EUA, a dívida pública subiu cerca de 20% em relação ao PIB (Produto Interno Bruto)", diz Miraglia.
Com a "operação salva-vidas" dos bancos, os governos apostavam que a economia de seus Estados voltaria a se recuperar.
Porém, a economia não cresceu na velocidade que se esperava. Com isso, o "remédio" do salvamento dos bancos surtiu apenas seu efeito colateral, mas não resolveu o problema em si.
Situação agora é "menos ruim" e não falta crédito
Agora, o setor privado está "numa boa", as empresas têm dinheiro em caixa, e vão bem, obrigado. O cenário de grandes quedas de PIB e recessão não é tão provável como em 2008, na opinião de Daniel Miraglia.
Não há falta de crédito, nem de liquidez.
"Em 2008, o sistema interbancário parou, os bancos não emprestavam dinheiro um para o outro, e até o sistema de linha de crédito para exportações foi paralisado. Parou o crédito no mundo", conta.
Por enquanto, os bancos seguem com dinheiro em caixa e continuam emprestando, mas... "Se os empréstimos interbancários pararem, aí começa a ficar muito parecido com 2008."
Por outro lado, ressalva o consultor, agora os Estados já estão com os juros bastante baixos e os governos não contam com essa opção --de baixar os juros-- para ajudar a economia.
Diferença entre a crise da dívida nos EUA e na Europa: a moeda
A crise que agora ronda EUA e Europa tem uma diferença essencial entre as duas regiões: a moeda na qual um país tem sua dívida.
"Pela teoria econômica, um país que tem dívida em sua própria moeda, tem risco de moratória muito baixo", explica Miraglia. Isso porque o país pode decidir emitir mais moeda para pagar sua dívida, ainda que isso eleve um pouco sua inflação.
Nesse caso, os Estados Unidos levam grande vantagem em relação à Europa. Nos EUA, 100% da dívida pública é em dólar, e o próprio país é responsável pela emissão da moeda. Já na Europa, os países fazem suas dívidas em euro, e a moeda é emitida pelo Banco Central Europeu.
Além disso, na Europa cada país tem uma estrutura de dívida diferente, mas eles não têm o poder de emitir dinheiro.
"A Grécia tem muito mais dívida em porcentagem do PIB do que a a Alemanha. Logo, a Grécia precisa de uma política fiscal diferente da Alemanha", explica o economista.
Porém, com uma mesma moeda e a mesma taxa de juros, não dá para se fazer duas políticas diferentes.
Mais diferenças entre EUA e Europa
Uma solução sempre cogitada em períodos de crise é inflacionar o país para diminuir a dívida nominal em proporção do PIB, segundo a consultoria MB Associados. Entretanto, essa tática feita nas décadas de 1940 e 1950 no pós-guerra ocorre como consequência de um período prolongado de crescimento.
"Naquela época, os EUA eram o celeiro industrial do mundo e o crescimento junto com inflação permitiu que a dívida rapidamente diminuísse. Agora, não há esse horizonte para a economia americana", segundo relatório da consultoria.
No caso europeu, a situação é ainda mais preocupante talvez porque a ideia de uma solução da crise hoje passa também por um ajuste fiscal prolongado. Mas o peso do setor público na Europa é muito maior e poderá significar uma desmantelamento de longo prazo do Estado do bem-estar social.
"Não nos parece uma transição simples nem fácil de fazer", informa o relatório.
Europa descartou criação de bônus em comum na zona do euro
Os investidores tinham expectativas de que fossem criados bônus em comum da zona do euro, uma iniciativa que tornaria o custo da dívida dos países mais fracos mais administrável. Mas a possibilidade foi descartada pelos líderes da Alemanha, Angela Merkel, e da França, Nicolas Sarkozy, em reunião em meados de agosto. Por outro lados, os dois líderes defenderam a criação de uma taxa sobre aplicações financeiras e um imposto comum sobre empresas na zona do euro. Além disso, propuseram uma maior integração da região e rigor nos gastos públicos como fórmula para recuperar a confiança dos mercados diante da crise financeira atual. (Com informações da Reuters)
Por outro lados, os dois líderes defenderam a criação de uma taxa sobre aplicações financeiras e um imposto comum sobre empresas na zona do euro.
Além disso, propuseram uma maior integração da região e rigor nos gastos públicos como fórmula para recuperar a confiança dos mercados diante da crise financeira atual.
(Com informações da Reuters)
Fonte: UOL.COM.BR