Publicado em 4/03/2013 as 12:00am
Veja como investir dinheiro para a faculdade dos filhos
Junto com a aposentadoria, poupar para a faculdade dos filhos é o tipo de iniciativa em que vale a fórmula: quanto antes, melhor.
Junto com a aposentadoria, poupar para a faculdade dos filhos é o tipo de iniciativa em que vale a fórmula: quanto antes, melhor.
As variações dos juros, da inflação e da renda do próprio investidor podem comprometer um projeto que tende a ser bastante caro.
A pedido da reportagem do UOL, quatro instituições privadas levantaram os orçamentos para dois dos cursos mais desejados pelos pais para seus filhos: Direito e Medicina.
Na Universidade Cruzeiro do Sul, o custo atual do curso de Direto soma pouco mais de R$ 46.675, considerando a matrícula (R$ 727,48) e dez semestres de aulas (custo de R$ 4.594,64 por semestre). Na Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, esse custo sobe para R$ 242.100, com base na mensalidade vigente.
Na Universidade de Mogi das Cruzes, o custo da faculdade de Medicina ultrapassa R$ 350 mil, levando em conta a matrícula (R$ 4.825) mais as mensalidades (R$ 4.825 cada uma) de um curso programado para seis anos. Já na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, o mesmo curso no mesmo período é orçado em R$ 316.800, com base nos valores deste ano.
Para fazer um plano de previdência e guardar dinheiro suficiente, uma simulação feita pela SulAmérica Seguros e Previdência aponta a necessidade de um investimento mensal de R$ 122 no caso do curso mais barato, e de R$ 914 no caso do curso mais caro, levando em conta uma aplicação com um rendimento de 6% ao ano e um prazo de 18 anos.
Esses valores são apenas aproximados. Primeiro, porque as mensalidades são reajustadas anualmente; segundo, porque consideram somente o uso da infraestrutura de cada faculdade. O custo de livros e outros materiais varia de faculdade para faculdade e não foi levado em conta.
As dificuldades pelo caminho
Hoje, esse projeto de investimentos de longo prazo enfrenta pelo menos duas dificuldades: pensar na inflação e lidar com uma trajetória descendente dos juros básicos (a taxa Selic, atualmente em 7,25% ao ano). Essa taxa influencia os ganhos da poupança, de CDBs e de vários fundos de investimentos.
Embora analistas não descartem uma eventual elevação da taxa básica de juros neste ano e em 2014, a perspectiva para os próximos anos é que a Selic fique mais baixa, talvez mal compensando a inflação futura.
"Essa trajetória dos juros não vai mudar não importa quem sejam os próximos governantes. Trata-se de um amadurecimento da nossa economia, e uma reversão desse cenário, por enquanto, não está no radar", diz Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos.
Bittencourt também lembra que o país sofre do que economistas chamam de "problema estrutural": quando a economia cresce muito, a inflação tende a subir, porque o nível de oferta (o que as empresas produzem de bens e serviços) dificilmente acompanha o nível de demanda (a procura dos consumidores e outras empresas por esses bens e serviços). Pela lei da oferta e da procura, é a receita para os preços aumentarem.
"O panorama mudou, e se o poupador que tem esse projeto de longo prazo não tomar cuidado vai ver o dinheiro que ele guardou corroído pela inflação ao longo do tempo", acrescenta o especialista da Apogeo.
O que fazer
Há três dicas básicas para quem poupa de olho na faculdade dos filhos: a) proteja o dinheiro contra a inflação; b) revise os investimentos periodicamente; c) avalie a aquisição de um seguro de vida.
"Cada vez mais, em projetos de longo prazo, o investidor tem que pensar em termos de juro real [a taxa de juros mais a inflação]", diz o planejador financeiro Alvaro Dias.
A ideia é buscar aplicações financeiras que protegem contra a inflação, de preferência, pagando uma taxa de juros a mais, a exemplo dos títulos do Tesouro Direto denominados NTN-Bs. Esse título da dívida corrige o dinheiro aplicado pelo índice de preços IPCA, além de uma taxa de juros, que varia conforme o prazo de vencimento.
O investidor pode programar compras periódicas desse título, optando pelo papel que vence no ano previsto para o início da faculdade do filho.
Mas ele não precisa ficar restrito ao campo das aplicações de renda fixa.
Em projetos de longo prazo, a recomendação básica é também colocar uma parte do dinheiro em renda variável, como ações ou fundos de ações.
Em tese, eventuais perdas na Bolsa de Valores podem ser compensadas em um horizonte de tempo mais estendido. Uma possibilidade também é escolher um fundo multimercado (que mistura renda fixa e variável).
Acompanhe as mudanças do país e do seu bolso
A economia do país deve mudar ao longo do tempo; a renda do poupador vai mudar ao longo do tempo. Somente por esses dois motivos o investidor já deveria se sentir obrigado a revisar suas aplicações periodicamente.
Independente do investimento, "o acompanhamento da rentabilidade em comparação com os indicadores do mercado vai ter que ser uma preocupação constante de todo o investidor", diz Adriana Nannini, da gerência de Produtos Vida e Previdência da SulAmérica.
"Um projeto como esse tem que levar em conta, por exemplo, a própria evolução profissional do casal, considerando que eles devem ganhar mais ao longo dos anos", diz o planejador Alvaro Dias.
Em um projeto de investimento que mistura produtos de renda fixa (como CDBs) e renda variável (como ações), também é necessário fazer um balanceamento.
"Quando o objetivo está se aproximando, a parcela do dinheiro aplicado em renda variável tem que necessariamente diminuir", afirma o planejador financeiro.
"Eu acredito que, pelos primeiros 15 anos, o investidor pode ser mais agressivo [enfatizando aplicações em renda variável], mas no tempo restante, a ordem é ser mais conservador [enfatizando a renda fixa]", diz Bittencourt, da Apogeo.
A lógica por trás dessa estratégia é que, perto do momento de sacar o dinheiro, preservar o dinheiro acumulado é muito mais importante do que fazer os recursos renderem. E investimentos em renda variável têm maior risco de perdas do que uma aplicação mais conservadora, como um fundo de renda fixa ou um fundo DI.
Dias também reforça a necessidade do poupador avaliar a compra de um seguro que garanta a faculdade do filho.
"Um seguro de vida tem que fazer parte de qualquer planejamento financeiro. Em finanças, todo mundo pensa no risco do investimento, mas quase ninguém pensa no risco próprio do investidor", diz ele.
A opção da previdência privada
O mercado de previdência privada (que oferece VGBLs e PGBLs) já desenvolveu toda uma linha de produtos para os pais previdentes, elaborados para bancar o pagamento do ensino superior dos filhos.
São aconselhados principalmente para aqueles que não possuem a disciplina de poupar com regularidade, já que obrigam, por definição, o investidor a fazer contribuições mensais (na maioria dos casos).
Existem produtos voltados para todos os perfis, desde o conservador (que aplica a maior parte do dinheiro em renda fixa, como títulos da dívida pública) ao agressivo (que enfatiza o investimento em ações, por exemplo).
Um produto como um PGBL também oferece uma vantagem fiscal: as contribuições para o plano de previdência dos filhos podem ser descontadas na declaração de Imposto de Renda de um dos pais.
A desvantagem de produtos como VGBLs e PGBLs está nos custos: ambos possuem taxas de carregamento (descontadas das contribuições mensais) e taxas de administração (descontadas do total do dinheiro guardado), que podem ser mais altas que um fundo de investimento tradicional.
Paulo Bittencourt, da Apogeo Investimentos, sugere que o investidor, mesmo que opte por guardar sozinho o dinheiro para a faculdade dos filhos, avalie a opção de plano de previdência, mesmo que apenas para uma parte do esforço mensal de poupança.
"Esses planos têm a vantagem de pagar rapidamente os beneficiários. No caso dos fundos de investimentos, o dinheiro tem que entrar em um inventário, o que pode demorar um pouco. Com a previdência complementar, o investidor vai ter a tranquilidade de garantir que sua família não fique desamparada caso ele venha a faltar", afirma.
Fonte: Brazilian Times