Publicado em 12/11/2013 as 12:00am
'O Crash de 1929' relata os bastidores da crise financeira
'O Crash de 1929' relata os bastidores da crise financeira
O último ano da década de 1920 colocou fim em um período de euforia financeira dos EUA. A quebra da Bolsa de Nova York não prejudicou apenas os norte-americanos, mas fez o mundo mergulhar em uma crise financeira. Em "O Crash de 1929", o autor neozelandês Selwyn Parker narra os bastidores da depressão econômica.
"As pessoas que presidiam a Bolsa em 1929 eram os grandes do mercado e, como seus predecessores, operavam-na com total independência do governo", conta Parker. "De fato, assim o haviam feito desde seu estabelecimento, situação com a qual Washington estava razoavelmente satisfeita. Nem todos, porém, apreciavam o arranjo".
Com prefácio do economista Antonio Corrêa de Lacerda, "O Crash de 1929" apresenta uma página da história do capitalismo mundial e uma ferramenta para compreender nosso tempo.
Abaixo, leia um trecho escrito por Corrêa de Lacerda.
DE 1929 A 2009 - AS CRISES, SUAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
O SE DEBRUÇAR SOBRE AS ORIGENS E CONSEQUÊNCIAS do crash, deflagrado em 1929 e que permeou toda a década de 1930 até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o autor oferece um panorama analítico de um dos mais polêmicos e complexos períodos da história do século XX.
Mas o que vai chamar atenção e prender o leitor é o estilo direto e leve do autor, que transforma um tema árido em um texto agradável e interessante. Outra virtude do livro é oferecer não apenas um amplo painel da história econômica, mas também as referências de qualidade da história das ideias econômicas. Grandes economistas como John Maynard Keynes, Joseph Schumpeter e John Keneth Galbraith têm suas ideias comentadas, assim como se discute o papel histórico de cada um.
"Quem não conhece a história está condenado a repeti-la", lembra o autor, citando Marx, em uma das passagens. Quem lê o livro, oitenta anos depois daquela crise, quase que inevitavelmente fará uma analogia com a atual. Oriunda da bancarrota do mercado subprime norte-americano em 2008, a nova crise, dessa vez, reflete o abalo da confiança no sistema financeiro, que se propaga por todo o mundo. Sua profundidade e extensão ainda trazem muita incerteza e permanecem como ponto de discussão aberta.
A crise de 2009, diferentemente da de 1929, se dá sob a égide da globalização financeira, um fenômeno novo, manifestado no último quarto do século XX. A sofisticação dos fundos mútuos, de pensão e de hedge e os mercados de capitais, de câmbio, de private equity, de derivativos, entre outros, criaram um mundo novo. Em complemento, as inovações tecnológicas fizeram diminuir acentuadamente os custos de transação, agilizando o fluxo de informações.
Os mercados cada vez mais interligados, funcionando on-line 24 horas por dia, passaram a determinar um quadro de liquidez e volatilidade sem precedentes na história econômica mundial.
Esse quadro, sob a clara supremacia do dólar norte-americano, viabilizou o financiamento da globalização comercial e produtiva, ao mesmo tempo em que potencializou a volatilidade e a instabilidade dos mercados financeiros globais. Diante da fraqueza imposta pelas novas circunstâncias às instituições multilaterais pós-Bretton Woods, especialmente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, criou-se um vácuo de referência no sistema financeiro internacional. A alternativa aos países não emissores de moedas conversíveis foi adotar uma clara estratégia de acumulação de reservas cambiais. Destaque-se que parcela significativa dessas reservas financia o déficit externo norte-americano por meio das aplicações em títulos do Tesouro.
O cenário tornou-se bastante favorável aos EUA. Como emissores exclusivos da principal moeda de referência internacional, puderam se dar ao luxo de manter a economia em crescimento, abastecendo-se de manufaturas oriundas da China. O déficit externo decorrente pôde ser financiado a taxas de juros reais baixas, pela crescente demanda por títulos norte-americanos, absorvedores da liquidez global. A economia norte-americana goza do privilégio de ser emissora exclusiva do dólar, ainda a moeda de referência internacional que concentra cerca de 75% de todas as transações mundiais e em torno de 65% das reservas cambiais dos bancos centrais dos demais países, estimadas em US$ 7 trilhões. A despeito da crise, o dólar e os títulos emitidos pelo Tesouro norte-americano seguem exercendo o papel de refúgio para as aplicações. Isso significa um importante trunfo para a recuperação da crise norte-americana.
A desinflação e a liquidez propiciaram aos EUA financiar-se a taxas de juros reais baixas. Os ajustes finos na calibragem das taxas de juros conduzidos por Greenspan e depois por Bernanke, após o estouro da bolha da "exuberância irracional" na Bolsa de Nova York de 2000-2001, viabilizaram o aumento da liquidez global. Muitos lembram, com certa razão, que a correção de crises via redução de juros é um estímulo ao risco, uma vez que incentiva o moral hazard (risco moral, em tradução literal), o que na prática equivaleria a estimular os comportamentos altamente especulativos porque, quando a crise se aproxima, o banco central baixa os juros.
"O Crash de 1929"
Autor: Selwyn Parker
Editora: Globo Livros
Páginas: 448
Quanto: R$ 24,50 (preço promocional*)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
Fonte: www.uol.com