Publicado em 1/12/2014 as 12:00am
Brasileiro quer levar a marca Orlando City para o mundo
O empresário brasileiro que comprou o clube Orlando City Flávio Augusto da Silva falou sobre a aposta no futebol norte americano e também sobre a contratação do meia Kaká
Com atraso. É que o empresário brasileiro Flávio Augusto da Silva, como típico empreendedor de sucesso, viu muito antes, o que muita gente no mundo do esporte ainda não enxergou: o futebol já é uma paixão americana, principalmente entre os mais jovens, o que aponta uma grande projeção de crescimento nos próximos anos.
Após vender por quase um bilhão de reais a franquia de escolas de inglês Wise Up, Flávio comprou o Orlando City e definiu um projeto: fazer do clube um marca global e torná-lo o segundo clube dos brasileiros. Segundo Flávio, conhecido no mundo dos negócios por ter começado como funcionário de uma escola de inglês, o projeto é viável. “Quando existe uma distância entre a realidade e a percepção da maioria, surge uma oportunidade”, diz o empresário. “Acredito que em oito anos a MLS entre nesse circuito para contratar os melhores jogadores no seu auge”, declarou.
Flávio, o futebol cresce a passos largos nos Estados Unidos e o público médio do MLS já é maior que o do Brasileirão. Como você projeta a expansão do futebol na América do Norte nos próximos anos?
Há quatro anos, a MLS pagava para seus jogos serem transmitidos. No primeiro contrato assinado, a liga recebeu US$ 17 milhões por ano. Um valor ridículo, mas melhor do que pagar. Era um primeiro reconhecimento de que aquilo tinha algum valor. Esse contrato vence em 2014. Para 2015, já foi assinado o novo contrato anual, com valor de US$ 140 milhões (ESPN, Fox, NBC e Univsion). Uma prova da grande valorização do mercado interno. Daqui a oito anos, fala-se em um contrato de US$ 600 a 800 milhões por ano, o que resultaria num contrato total de US$ 4 a 6 bilhões. Ou seja, será nessa hora que vamos ter dinheiro para contratar os melhores jogadores do mundo. Acredito que em oito anos a MLS entre nesse circuito para contratar os melhores jogadores no seu auge.
Orlando é uma das cidades mais visitadas por brasileiros, por conta dos parques temáticos. Você acha que essa relação é favorável ao crescimento do futebol nos EUA?
Sim, Orlando é a cidade mais visitada do mundo atualmente, recebe quase 60 milhões de turistas por ano. Como comparação, o Brasil inteiro recebe 6 milhões. É uma cidade internacional, com potencial imenso de transformarmos o Orlando City em uma marca global e, consequentemente, o futebol daqui.
Desde que comprou o Orlando City, você tem projetos e metas definidas, como fazer do time americano o time dos brasileiros nos EUA. Que outras metas e ideias você tem para o Orlando?
Dentro de campo vamos montar uma equipe forte e competitiva. Em termos de elenco e comissão técnica, temos totais condições de vencer a MLS logo no primeiro ano. Existem variáveis emocionais e desafios, claro, mas se chegarmos ao menos nos playoffs já será uma grande vitória. Nossa meta conservadora é essa. Fora de campo, é como já disse, ser uma marca global e, claro, o segundo time de coração dos brasileiros.
Qual a importância da vinda de um jogador como o Kaká para o futebol norte-americano? É verdade que ele é seu amigo pessoal?
Kaká é um jogador especial e, claro, alavanca a audiência interna. Mais do que isso: atrai a audiência do mundo inteiro. Na atualidade, é o atleta mais seguido em redes sociais dos Estados Unidos, à frente até de astros da NBA, como Michael Jordan e LeBron James (Kaká tem 20,8 milhões de seguidores no Twitter, contra 14,7 milhões de LeBron e 1,94 milhão de Jordan). Foi o melhor jogador do mundo, conquistou tudo: Copa do Mundo, Champions League. Desde muito jovem, não se mete em confusão. Inteligente, diferenciado, Kaká foi garoto-propaganda da WiseUp, rede de escolas que fundei, desde lá mantivemos uma relação bastante amigável.
Duas vezes já foi ensaiada uma grande expansão do futebol nos EUA. O Cosmos contratou grandes jogadores como Pelé e Benckenbauer e chamou a atenção do mundo; a Copa de 94 também jogou luz sobre o esporte bretão em solo americano. E o momento atual, do que ele difere dessas duas tentativas de popularização do esporte?
A Copa de 1994 foi muito importante. Dois anos depois, a MLS foi criada. Um começo difícil, muitas franquias fecharam as portas. Tinha que colocar uma bela grana no negócio. Mas a liga foi crescendo, até chegar num ponto de viabilidade. A entrada do David Beckham também deu uma alavancada na Costa Oeste. E agora chegou a um estágio perceptível. Era um processo desenhado. Minha decisão de compra foi antes disso. O americano já era apaixonado por futebol, mas esse fenômeno ainda não acabou. Até 24 anos de idade, o futebol é o segundo esporte mais assistido dos Estados Unidos, só perdendo para o futebol americano, e o mais praticado no país entre jovens de até 17 anos (cerca de 24 milhões).
Como começou o seu interesse pelo futebol nos EUA. O que chamou sua atenção e até a coragem de investir?
Morei em Orlando entre 2009 e 2012 e lá observei que o futebol já era um fenômeno, mas o mundo ainda não tinha percebido. Quando existe uma distância entre a realidade e a percepção da maioria, surge uma oportunidade. Fiz algumas pesquisas, que comprovaram isso. O futebol já era o esporte mais praticado nos Estados Unidos. Também observei uma enorme quantidade de crianças participando dos torneios. Essa oportunidade me dava alguns benefícios, como ganhar muito dinheiro e investir num projeto muito legal. Foi como descobrir uma fonte de água mineral infinita no Deserto do Saara.
Você é um empresário nato, pois começou realmente “do nada”. Quais as dicas você daria a dirigentes dos clubes brasileiros que afundam em dívidas e parecem investir pouco no aprimoramento técnico e tático do futebol nacional?
É impossível eu dar uma dica. São formatos diferentes. Seria como eu dar dicas sobre como gerir um restaurante e você ser dono de uma petroleira. No Brasil os clubes não têm um dono. Se tivesse, ninguém faria dívida. Se o Orlando City tiver US$ 100 milhões de dívida, quem tem que pagar sou eu. Os presidentes dos clubes brasileiros não pensam no negócio. Estão mais preocupados em se eleger. São mais políticos do que gestores. Acho esse modelo ruim, o que também explica porque investi nos Estados Unidos. Eu sou o maior interessado em que o clube não dê prejuízo.
O Brasil tem cultura de futebol, mas não tem organização esportiva. Os Estados Unidos são o contrário. Que lição o futebol nos EUA tem para dar ao brasileiro? E que contribuição nós podemos dar para eles?
O Brasil sempre vai ser um celeiro de grandes talentos para o futebol, essa é a sua maior contribuição. Além da torcida, claro, pois estamos nos preparando para receber da melhor maneira possível os torcedores brasileiros que forem a Orlando assistir a um jogo nosso. Já o contrário, já que em termos de gestão, pela diferença dos modelos, a comparação é injusta, acredito o marketing esportivo norte-americano deve ser um exemplo para o Brasil e para o mundo. Eles sabem como vender seu produto, como entreter, mas claro, pra isso, eles também investem alto para que o produto seja de qualidade.
Fonte: Da Redação