Publicado em 30/07/2020 as 10:30am
Coluna Arilda Costa
Entrevista com a advogada Vitorias Pinhas Nos últimos meses estamos reunindo aqui...
Entrevista com a advogada Vitorias Pinhas
Nos últimos meses estamos reunindo aqui Brasileiros de destaque e sucesso como Vitória Pinhas para saber sobre a aventura que os fez sair do País de origem para vir para os Estados Unidos.
Vitória Pinhas é advogada nos Estados Unidos (Nova York) e no Brasil, e representa clientes nos dois países. Sendo também uma imigrante nos EUA, Vitória naturalmente se interessou pelas leis de imigração e os direitos dos imigrantes. Portanto, o foco do seu trabalho é a prestação de serviços advocatícios para as comunidades brasileira, portuguesa e latino americana. Nas horas vagas, Vitória se dedica à sua paixão de viajar e conhecer novos lugares, museus e culturas.
- Qual sua origem no Brasil, estado, cidade?
Eu nasci em Brasília/DF, mas depois minha família se mudou para Goiânia/GO. Eu passei minha vida toda entre estas duas cidades maravilhosas.
- Como foi para você esta mudança de país? Foi uma coisa planejada ou aconteceu na sua vida?
A oportunidade de me mudar para os EUA foi uma surpresa. Eu nunca tinha pensado em sair do Brasil, pois eu era concursada no Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, e estudava para concurso de juiz. Um dia conheci meu marido quando ele fez uma viagem de negócios em Goiânia, e começamos a namorar. Na época meu marido estava abrindo um negócio em Goiânia. Porém, os planos mudaram de repente e ele teve que voltar para os EUA. Então, nós decidimos ficar noivos e eu acabei me mudando pra cá.
- Como você viveu este processo de adaptação?
A fase de adaptação é sempre cheia de altos e baixos, porque há muitas coisas maravilhosas aqui nos EUA e tudo é novidade. Porém, a gente sente muitas saudades do Brasil, da família, da comida, do estilo de vida, do clima, de tudo! Mas ao mesmo tempo, eu estava em Nova York, que é uma cidade fascinante, com muitas opções de espetáculos, shows e apresentações culturais. Então, eu procurava me manter ocupada com os eventos culturais. Aproveitei bastante e conheci pessoas maravilhosas! Na época o Consulado de Nova York promovia sessões de filmes brasileiros todas as sextas-feiras. Conheci muita gente bacana nos eventos culturais do nosso Consulado.
- O que você mais gosta do lado profissional e pessoal morando aqui nos EUA?
Profissionalmente eu adoro a praticidade dos EUA. As transações são bem mais simplificadas. Isso facilita a vida do profissional e dos clientes. Especificamente em relação à prática do Direito, os processos também são muito mais simplificados e rápidos, quando comparados ao Brasil.
Do lado pessoal eu diria que conhecer a trajetória dos imigrantes é algo que sempre me fascina. Eu tenho a oportunidade de conhecer pessoas dos quatro cantos do mundo. Todos neste país têm estórias de superação. São estórias lindas! Por exemplo, eu tenho uma grande amiga Croata que veio para os EUA nos anos 90 fugindo da Guerra da Bósnia. Ela também é advogada e fala 8 idiomas fluentemente. É uma mulher fascinante! Além do mais, existe uma fraternidade entre imigrantes. É um sentimento que nos conecta imediatamente, independente da nacionalidade.
- Do Brasil, quais são as lembranças melhores?
A natureza, as fazendas dos meus tios em Goiás, as cachoeiras, as praias, os churrascos para 50 pessoas nas casas dos amigos, as festas de família, e o carnaval. Eu adoro carnaval!
- Uma das experiências inesquecíveis que você já viveu aqui?
O Metropolitan Museum. Um dos meus lugares favoritos. Eu sou fascinada pelas artes! E estar dentro daquele museu, que possui peças seculares e milenares do mundo inteiro, é algo que sempre me causa uma emoção indescritível. Eu tenho a sorte de ter uma amiga que é guia do Metropolitan. Já perdi as contas de quantas vezes fui àquele museu. E irei quantas vezes puder!
- Uma situação inesquecível que você viveu por ser advogada nos EUA?
Em 2018, graças aos trabalhos voluntários que prestei na Associação das Advogadas Mulheres de NY (NYWBA), fui convidada para participar de um evento no Palácio de Buckingham, em Londres, promovido em prol das vítimas de ataque de ácido. Para mim foi uma surpresa descobrir que a Colômbia é o país americano com o maior número per capita de ataques com ácido contra mulheres. Foi um evento importantíssimo, promovido pelas organizações ASTI (https://www.asti.org.uk), Brigham Women’s Hospital (BWH), Harvard Medical School e Fundación Ven-seremos (https://www.facebook.com/fundacionvenseremos/), para gerar maior conscientização global sobre o assunto.
- Um pouco do seu trabalho como advogada Brasileira nos EUA. Qual o seu conselho para os imigrantes em geral?
Como imigrante, é preciso ter um bom planejamento para o curto, médio e longo prazo. Por exemplo, ter alguma poupança, fazer seguro de vida, fazer testamento, fazer uma procuração para alguém de confiança, preparar um "health care proxy" (procuração para questões de saúde), preparar a designação de guarda temporária de menor, guardar cópias dos documentos em lugar seguro, etc. Para todas estas providências nem é preciso ter status imigratório regular. Os transtornos que podem ser evitados com estas medidas são enormes. Vale a pena contratar um advogado para preparar alguns destes documentos. E é mais barato do que muita gente pensa.
- O que está mudando e o que é importante saber em tempos de pandemia?
Para quem tem qualquer requerimento perante o Serviço de Imigração dos EUA, é importante saber que as regras têm mudado com mais frequência. E também que o quadro de funcionários foi reduzido. Portanto, alguns requerimentos estão demorando mais. É preciso ter ainda mais paciência com o período de tramitação.
- Qual o conselho você daria para aqueles que vivem aqui numa situação irregular e também para aqueles que estão regulares mas com muita incerteza do que pode vir por aí.
Em primeiro lugar, não se apavorem com as notícias sensacionalistas sobre Direito de Imigração. Por exemplo, recentemente foi anunciada uma mudança nos requisitos dos Vistos de Estudante durante a pandemia. A notícia era que muitos estudantes seriam deportados. Porém, em menos de 1 semana a regra foi derrubada pelo próprio governo, e a comoção caiu por terra. Além disso, muitas vezes a notícia é divulgada de maneira exagerada. O exemplo foi quando o governo anunciou a proibição da entrada de pessoas vindo do Brasil. Porém, há tantas exceções à regra, que muitas pessoas continuam viajando tranquilamente do e para o Brasil. Portanto, mais do que nunca é preciso estar bem informado por fontes seguras. O site da Associação dos Advogados de Imigração (www.aila.org) é uma excelente fonte! Nem sempre as postagens nos grupos de mensagens e nas redes sociais refletem a verdade. Além disso, o que pode ser aplicável para uma pessoa, não cabe para outra, por mais que o caso pareça semelhante.
- Entendi lendo um artigo que saiu no Brasil sobre como aumentou os brasileiros que estão fazendo testamentos. Como você explica esta mudança de comportamento?
Muita gente tem o desejo de preparar um testamento, mas não é prioridade dentro das atividades cotidianas. Com a pandemia as pessoas se assustaram com uma ameaça tão próxima da morte, e muitos procuraram os serviços para preparar e formalizar estes documentos. A grande maioria dos clientes são pessoas que não têm familiares próximos aqui nos EUA. Portanto, existe uma grande preocupação sobre quem irá cuidar dos filhos menores até que saia uma decisão na justiça sobre a guarda permanente desses menores. E quase todos os clientes designaram um parente no Brasil como o tutor permanente. Além da preocupação com filhos menores, um testamento é importante para reduzir o tempo e o custo com o processo de inventário, que em inglês se chama "probate". É muito aconselhável ter um testamento, mesmo para pessoas que não possuam bens imóveis, porque no testamento é possível fazer a distribuição de outros bens (pertences de família, jóias, etc.) e designação de questões importantes, como determinações sobre funeral, por exemplo.
- Você ainda está conquistando ou já realizou seu "big dream" na América?
Felizmente eu posso dizer que me sinto bastante confortável. O meu "big dream" é o pacote família-profissão-amigos. Durante os anos eu construí uma rede sólida de amigos e contatos, que me dão o suporte necessário pra eu me sentir "em casa" aqui nos EUA. Eu realmente sinto que tenho duas casas: o Brasil e os EUA. E isso é um grande privilégio, pois são dois países maravilhosos!
- Neste período na América, quais foram as lições mais importantes que a vida te ensinou?
Aprendi que a conexão entre as pessoas é a riqueza mais preciosa. Os laços de amor da família e dos amigos, nem a distância, o tempo ou os contratempos podem desfazer. É maravilhoso perceber, depois de anos fora do Brasil, as amizades que continuam vivas e fortes! Ao mesmo tempo, aqui nos EUA, a união e a solidariedade entre imigrantes que se conectam para construir e ajudar. Com as conexões certas as distâncias geográficas ficam curtas, as crises econômicas passam mais rápido, e a vida segue mais leve. Porém, sempre lembrando de cuidar da parte prática da vida, pegando os recibos, assinando bons contratos, pagando o seguro de vida, fazendo o testamento, etc., pois os documentos existem para proteger os nossos direitos.
- Como você gostaria de ser lembrada no futuro Vitória?
Gostaria de ser lembrada como uma boa representante do povo brasileiro nos EUA. Para mim o(a) brasileiro(a) é uma pessoa que não desiste nunca, que procura trabalhar bem, que é gentil e amiga, e que sempre tenta ajudar o próximo. Estes são os valores que procuro seguir na vida.
Fonte: Redação - Brazilian Times.