Publicado em 19/08/2020 as 12:30pm
Coluna Arilda Costa
Entrevista com a escritora brasileira Paola Giometti Minha entrevista esta semana é com a...
Entrevista com a escritora brasileira Paola Giometti
Minha entrevista esta semana é com a escritora brasileira Paola Giometti. Autora de livros como O Destino do Lobo, O Código das Águias e O Chamado dos Bisões (Elo Editora), onde histórias de vida selvagem são narradas num contexto por volta de 16.000 anos, quando a domesticação começou a acontecer, publicados em língua portuguesa. Ela foi convidada a gravar os audiolivros de O Destino do Lobo e O Código das Águias, sendo O Destino do Lobo um dos mais acessados na Ubook em 2016. Em 2018 lançou o livro Drako e a Elite dos Dragões Dourados (Lendari), sendo citado pela mídia como ''fantasia que reflete sobre as diferenças, ajudando jovens a superar pessimismo e problemas com autoestima'', livro que levou os 6 primeiros lugares do Alien Awards de 2018 por voto popular nas redes sociais, além de nomeá-la melhor autora nacional no mesmo ano. Em 2020 Paola fez o curso de Storytelling pela Pixar, além de lançar os livros Symbiosa e a Ameaça no Ártico e Noite ao Amanhecer (Elo Editora). Atualmente vive em Tromsø, na Noruega, um lugar inspirador para suas histórias, e dá continuidade a carreira literária com o lançamento de The Destiny of the Wolves (Underline Publishing) e Das Schicksal der Wölfe (Editora Gira Brasil-Alemanha).
Há quanto tempo você se dedica a escrever livros?
Escrevo histórias desde os sete anos, mas meu primeiro livro escrevi com nove. Ele se chama A Guerra no Deserto e tem até mesmo uma participação de Arnold Schwarzenegger como um dos heróis.
Qual sua opinião de uma obra para conquistar seus leitores?
Se você quer conquistar leitores então tem que escrever para eles. Quando aprendi isso, percebi que era muito mais fácil ser aceita no mercado editorial. Eu acredito que quase todas as histórias já foram contadas de uma maneira ou de outra. O ponto diferencial é a forma com que é contada, a linguagem direcionada para o público certo, seguindo uma ordem de fatos curiosos e distintos que se entrelaçam e que estejam envolvido com a evolução do seu personagem.
O seu tema favorito, o que te inspira?
Eu adoro me inspirar na natureza para escrever meus livros, quase sempre ela é o foco central dos livros, a busca por ela, pela ideia mística que ela nos oferece. A minha vida sempre foi uma caixa de inspiração, pois em meus livros coloco muito sobre as fases que vivi na minha infância e adolescência, principalmente as mais difíceis. O videogame também é uma fonte de pesquisa e inspiração para criar personagens e cenários. Adoro natureza e videogame.
Qual o seu ritual no processo de criação dos seus textos?
Eu adoro escrever isolada, onde nada possa tirar a minha concentração. Também escrevo ouvindo música, crio uma pasta cheia delas para cada livro, pois me ajudam a dar o tom das histórias. Costumo escrever todos os dias, pelo menos um capítulo ou cenário. Gosto muito da fase de descanso que dou entre uma cena e outra, pois isso me faz digerir as ideias para a próxima cena. Adoro desenhar diagramas de fatos de modo que isso possa deixar as histórias mais interessantes para mim e para o leitor.
O que você escuta enquanto escreve ou você prefere o silêncio?
Dependo do estilo que estou escrevendo. Se escrevo sobre natureza, as músicas são mais leves e místicas, como as da Loreena Mckennitt e músicas nativas norte-americanas (ouvi muito enquanto escrevia O Destino do Lobo, O Código das Águias e O Chamado dos Bisões). Também escuto muito os soundtracks dos games que gosto. Por exemplo as do Skyrim, Oblivion, Diablo, costumo ouvir para escrever tons mais medievais e Ori para momentos mais emocionantes e singelos. Também gosto de escrever no silêncio, e geralmente faço isso quando leio o livro criticamente antes de enviar para um editor. Essa é uma das etapas que eu mais escrevo (corrigindo) os problemas do livro.
Quanto tempo você leva para escrever um livro?
Depende do público-alvo para quem estou escrevendo. A série Fábulas da Terra é composta por livros sobre animais e que eu procuro atingir a todos os públicos (mas que gostam de animais) com uma linguagem simples. Cada livro eu levo uma média de um ano para finalizar. Já o Drako e a Elite dos Dragões Dourados, eu levei 3 anos, já que ele foi escrito na transição da minha adolescência para a fase adulta e muita coisa mudava dentro de mim. Eu tenho livros com temas medievais inspirados no folclore nórdico que eu levei 8 anos para terminar devido o nível de dificuldade que foi criar todo ele (e que pretendo publicar em breve).
Como seus defeitos interferem no que você escreve?
Eu sou muito crítica comigo mesma, exigente e me cobro demais. Tem noites que acordo com essa cobrança e ela vai embora só quando escrevo ou resolve o que está pendente. Isso já me fez reescrever o Drako, por exemplo, 3 vezes. O livro que eu levei 8 anos para fazer foi reescrito 4 vezes. Hoje, com mais experiência na escrita, fazendo meus diagramas e tudo o mais, eu consigo sanar isso para ser reescrito apenas 1 vez mais.
Você aprendeu algo com alguma crítica? Se aprendeu, isso mudou seu jeito de escrever?
Demais. As críticas me ajudaram a me tornar mais profissional, mais seletiva com o que eu escrevo, e aprendi a “errar” menos com elas, facilitando muito o processo de criação. Não existe uma formula certa e outra errada. Só existem modos que facilitam e que complicam o processo de criação, correção e a história como um todo.
Você convive fraternalmente com alguém que, em público ou particular, declarou não gostar dos livros que você escreveu?
Eu sei que não vou agradar todo mundo, mas costumo não misturar meu sentimento com quem critica minhas obras, afinal, cada um tem um entendimento do que é bom ou ruim, mesmo não existindo uma fórmula para isso. Costumo tratar os leitores críticos fraternalmente, afinal são meus leitores e quero que continuem sendo. Somente uma vez um homem veio pessoalmente me dizer que O Destino do Lobo era ruim demais, mas tão ruim, que ele levaria anos para editar. Ao mesmo tempo ele me questionou quem eu pensava que era para falar de lobos. Estava claro que ele não queria criticar a obra em si.
Como você percebeu esta sua vontade e entendeu que seu destino era ser escritora?
Eu perguntava para minha mãe, aos seis anos, quando eu iria aprender a escrever, pois queria contar histórias. Essa vontade eu percebi quando ia às papelarias e recebia um caderno novo ou um pacote de sulfites. Para mim, esses eram os melhores presents que eu poderia ganhar. Eu sentia quanta coisa eu poderia criar com um pacote de sulfites. Com dez anos cheguei a ter um livro ata enumerando vários livros que eu estava planejando escrever. Aos doze anos eu já tinha 30 livros escritos, todos eram histórias com personagens animais onde suas vidas eram contadas.
Quais eram seus passatempos que te levaram a querer contar histórias?
Brincar de aventureira na floresta (fiz muitas trilhas escondida da minha mãe, pois morava em uma reserva de Mata Atlântica); jogar videogame; brincar com minha irmã de dinossauro e que também que vivíamos no fundo do mar e cantávamos as canções da Pequena Sereia e O Rei Leão. Era muito legal e sinto falta dessa época.
De onde vêm os seus personagens? São inspirados em pessoas reais ou em fatos?
Gosto de pegar as características psicológicas e comportamentais de pessoas que conheci, mas, O Destino do Lobo, por exemplo, todos os lobos do livro foram inspirados em comportamentos e manias dos cães que tive. Personagens com comportamentos realistas dão mais veracidade à história e acredito que o leitor se entrega muito mais à ela.
Qual será seu próximo livro? Será o Segundo livro da saga Drako intitulado Drako e o Enigma da Árvore, que conta a história de um dragão vermelho que, logo após se tornar um Magiquímico numa importante sociedade de dragões, passa por uma grande perda e entra em depressão. Motivado a mudar seu destino, dedica-se ao estudo de uma árvore que possa ajudar a melhorar o dia de todos. Mas nem sempre todos querem ver o nosso progresso, e Drako terá que enfrentar até mesmo uma maldição nele colocada, para que isso atrapalhasse a sua motivação na magiquímica (essa maldição foi inspirada na doença fibromialgia).
Três coisas que ainda estão na sua lista de desejos? Dentro dos meus desejos está o de poder levar meus livros para outras várias línguas; poder um dia tornar meus livros cinematográficos e montar um escritório bem aconchegante e que possa ser também a minha biblioteca de trabalho.
Fale por gentileza da sua participação no próximo evento do Focus Brasil em Nova York?
Ao lado de outros escritores eu irei conversar sobre o tema Janelas Abertas na Literatura, enfatizando o “dar asas” à literatura brasileira no exterior.
O que seus textos trazem como inspiração para outras pessoas?
Como meu público-alvo é diverso, acabo recebendo feedback de não só de crianças, mas principalmente de adultos. Eu acredito muito que por meus livros trazerem verdades sobre nossas dificuldades diárias, acaba sendo fácil se identificar com os personagens. Não digo que meu livro é um desses de auto-ajuda que passa fórmulas para superar os problemas. Penso que um leitor que se identifica num personagem com problemas verdadeiros pode facilmente se inspirar e até aprender alguma coisa com ele.
Quais foram seus livros publicados até agora?
Noite ao Amanhecer, O Destino do Lobo, O Código das Águias, O Chamado dos Bisões, Drako e a Elite dos Dragões Dourados, Symbiosa e a Ameaça no Ártico, Post Mortem.
Algum projeto na gaveta para um futuro próximo?
Estou trabalhando nos meus livros medievais de folclore nórdico. Desses vão nascer pelo menos dois livros: um com animais escandinavos e outro com conteúdo mais sombrio e adulto. Também estou escrevendo o novo livro da série Fábulas da Terra, e o protagonista será um urso-pardo. Enfim, tem outros mais, mas gostaria de falar deles em outra oportunidade.
Qual é a parte mais fácil e a parte mais difícil de escrever um livro?
Antes eu pensava que a parte mais difícil era publicar. Mas hoje eu percebo que a parte mais difícil é escrever algo que realmente valha a pena ser publicado.
Quando você cria um protagonista para o seu enredo quais as características imprescindíveis? Ele tem que ter algo a ver comigo, sem dúvida, e a história dele ou dela tem que ter uma relação com a minha história.
Você poderia antecipar uma história que você gostaria de escrever, mas ainda não escreveu? Um romance que conta as dificuldades da minha infância e como isso prejudicou meus relacionamentos ao longo da vida, além de correlacionar com o rigoroso inverno do ártico e as bétulas que envergam com o peso da neve e avalanches, mas não quebram. E por mais que o verão chegue radiante e quente, ela nunca mais terá a mesma forma de antes.
Você tem algum hábito de trabalho? Um horário especifico do dia que te inspira mais?
De noite, quando está tudo silencioso e eu estou sozinha é o melhor horário. Mas nem sempre isso é possível.
Qual a importância da capa do livro para você?
Eu já comprei livro com capa recortada no sebo, e foi um dos que mais gostei. Era o História Sem Fim. Mas hoje o mercado exige uma capa mais bonita e chamativa, de modo que atraia o leitor. Se ele viu o livro no meio de tantos e o pegou na mão para olhar, já é um sucesso.
Você tem uma dica para quem quer seguir o sonho de ser escritor (a)?
Ler muitos livros dedicados ao público-alvo para que você quer escrever, estudar algumas técnicas de escrita e reler o seu livro antes de entregar para o editor, perguntando-se se tudo o que você escreveu é necessário estar ali e por quê.
Quais são seus autores preferidos?
Philip Pullman, J. K. Rowling, Rick Riordan, Dan Brown, Bernard Cornwell, Regina Drummond, Helena Gomes, Clarice Lispector.
Cita o melhor momento da sua carreira como escritora até agora?
Este é o melhor momento da minha carreira onde estou produzindo muito e publicando bastante no Brasil, publicando no exterior, colhendo muitas sementes que plantei e aos mesmo tempo, as espalhando por aí.
Fonte: Redação - Brazilian Times.