Publicado em 30/09/2020 as 7:30pm
Coluna Arilda Costa
Entrevista com a escritora Marcia Kambeba Márcia Wayna Kambeba pertence ao povo...
Entrevista com a escritora Marcia Kambeba
Márcia Wayna Kambeba pertence ao povo Omágua/Kambeba do Amazonas. Ela nasceu em uma aldeia Tikuna no Alto Solimões e saiu da aldeia com nove anos de idade para morar na cidade de São Paulo de Olivença para estudar. É graduada em Geografia, Especialista em Educação Ambiental e Mestrado em Geografia.
Já tem 2 livros publicados e o primeiro chama Ay Kakyri Tama - "Eu moro na cidade" (tradução) reeditado pela Editora Polén; e o segundo livro se chama O LUGAR DO SABER lançado pela Editora Leiria em 2018. Esse ano, em novembro será lançado pela Editora Jandaíra o livro "SABERES DA FLORESTA" sobre Educação Indígena (poesia e prosa). Ano que vem será a vez do livro "kumyça Jenó: Narrativas poéticas do seres da floresta" pela editora da Nereide Santa Rosa nos EUA. Além de escritora Márcia é compositora, fotógrafa, poeta, cantora, contadora de história, atriz, palestrante internacional de assuntos Amazônicos e indígenas. A escritora tem 41 anos e esta entre os ganhadores do prêmio internacional de literatura brasileira da Focus Brasil New York em 2020.
Há quanto tempo você se dedica a escrever livros?
Cresci na aldeia indígena Belém do Solimões ouvindo minha avó, Assunta, recitar para mim e eu com sete anos já recitava para turistas as poesias dela. Ali nascia meu amor pela poesia. Com 14 anos comecei a escrever poemas, mas foi depois do Mestrado que decidi transformar minha dissertação em poemas e publiquei de forma independente meu primeiro livro AY KAKYRI TAMA (EU MORO NA CIDADE) em 2013 e em 2018 reedito com a editora Polen que hoje se chama Jandaira. Desde então não parei mais de escrever poemas, texto em prosa, textos científicos, artigos, etc.
Qual a sua opinião de uma obra para conquistar seus leitores?
Creio que para conquistar o leitor a obra tem que apresentar um bom conteúdo atrativo dentro do estilo que a pessoa se propõe a escrever. Na poesia meus textos são voltados para o público em geral mas adentra a sala de aula, a Universidade etc. Meu trabalho tem um cunho educativo, reflexivo, político e a poesia é uma forma de expressar um eco amazônico, indígena e de resistência.
O seu tema favorito, o que te inspira?
Meu estilo favorito é poesia. O tema é diverso mas todos voltados a Amazônia e povos indígenas. No meu processo de escrita o que me inspira são as indagações, as dúvidas vindas das pessoas. Tento informar numa poética decolonial e de resistência mas com amorosidade. Mas me inspiro na natureza, numa folha que cai ao chão, nas mulheres que cedo do dia na aldeia descem a ladeira para tomar banho e dar banho nas suas crianças e o rio manso e caloroso já se prepara para receber numa relação de bem viver. A poética das aldeias está em cada canto nas particularidades.
O que você escuta quando escreve ou você prefere o silêncio?
Eu tenho facilidade para escrever, o barulho não me atrapalha. Se estou andando na rua e algo me inspira, pego a caneta e escrevo ali na rua encostada numa árvore. A ideia surge inesperada e o escritor precisa estar atento a esses sinais. Gosto de desafios então me desafio todo dia no ato de escrever. Esse ano entre março e abril fui acometida de Covid 19 e fiz do meu sofrimento literatura. Escrevi o KUMYÇA JENÓ nesse intervalo creio que em menos de um mês já tinha aprontado. Eu sinto prazer pelo que faço e a poesia me move.
Você aprendeu algo com alguma crítica? Se aprendeu isso mudou seu jeito de escrever?
Eu gosto das críticas. Escuto todas com atenção, filtro as que podem me ajudar. Tem aquelas que se referem a capa do livro etc. Mas até o presente momento não apareceu quem diga não gostar dos meus livros, ao contrário, tenho recebido muitos elogios sobre o conteúdo e análises ótimas vindo de crianças e adultos e esse é o que me move e motiva. É o pai que leu para o filho, a avó que presenteou o neto e por isso meu público leitor não tem um recorte é amplo.
Você tem alguma dica para quem quer seguir o sonho de ser escritor (a)?
Para quem quer ser escritor a minha dica é ser persistente, acreditar no seu potencial e escrever sem medo. Eu fortaleço essa confiança em mim todo dia. Escrevo um poema e leio com o olhar não da escritora mas com olhar de leitor. Quando comecei a escrever levei muito não de editora muitas diziam: "não publicamos ficção". A pessoas que busca ser escritor tem que aprender a ouvir um não sem desanimar. A gente fica triste mas é preciso acreditar que vai conseguir. E é preciso ler sempre e sempre mais. Ter hábito de escrita, eu escrevo sempre na madrugada quando a cidade fica em silêncio e as ideias começam a fluir então durmo muito tarde as vezes amanheço escrevendo quando a escrita ta fluindo não atrapalho. É bom ter inspirações literárias. Eu tenho poetas que me inspiram uma é Eliane Potiguara, Daniel Munduruku, Ailton Krenak, Cora Coralina entre outros.
De onde vem seus personagens? São inspirados em personagens reais ou fatos?
Meus personagens vêm das histórias contadas por meus avós, na maioria minha avó Assunta que me criou desde que nasci e nos anciões indígenas da aldeia Belém do Solimões. Acreditamos na existência da Matinta, Curupira etc mesmo sem que tenhamos visto esses entes da floresta. Mas também crio alguns personagens ou utilizo os que já existem como a Velha Golosa. Gosto de criar dar vida aos personagens e ver as crianças se deliciarem com as histórias, os adultos também. Ouvi muitas histórias e aprendi a amar todas e contar dando um toque especial meu. Roterizo as narrativas para que o professor, os fazedores de teatro consigam trabalhar como peça teatral e eu também pois quando conto uma história gosto de viver o momento. Me visto de Matinta e convido outros atores e damos vida aos personagens para as crianças assistirem.
Fale da sua participação no proximo evento do FOCUS BRASIL em NEW YORK?
Esse ano tive a alegria e honra de ser convidada para estar no evento internacional de literatura brasileira a convite da Fundação FOCUS BRASIL E DA EDITORA UNDERLINE PUBLISHING na pessoa de minha querida Nereide Santa Rosa. Estive entre os escritores participantes do painel do dia 12 de setembro e recebi a premiação do Prêmio Internacional de Literatura Brasileira. Para mim foi uma honra pois valoriza e põe em foco nossa Amazônia tão afetada por impactos mas que carrega uma rica cultura e um povo que produz uma literatura necessária para entendermos a vida nessa região. Esse prêmio fortalece a literatura indígena que busca apresentar pelo desenho do pensamento seus saberes numa conversa de mundos. Estar na Academia Internacional de Literatura Brasileira - AILB é importante pois levo comigo uma nação que canta e dança uma cultura milenar e que deve ser valorizada na sua singularidade.
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Fonte: Redação - Brazilian Times.