Publicado em 4/01/2021 as 9:30pm
Coluna Camarim do BT
Tia Amélia, pianista e compositora Amigos, começando um novo Ano, cheio de Esperança....
Tia Amélia, pianista e compositora
Amigos, começando um novo Ano, cheio de Esperança. Recordar é viver.... Se você viveu nos anos 60 e 70, com certeza lembra da Tia Amélia, pianista e compositora extraordinária. Hoje em dia chamamos carinhosamente de “pianeiros” os pianistas que atuaram entre segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX no Brasil, até o surgimento da Bossa-Nova. Eles são um elo perdido na história da música popular brasileira. Pianistas como Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga são lembrados hoje em dia, porém se fala pouco em seus contemporâneos como Aurélio Cavalcanti, Chirol, Viúva Guerreiro, Arthur Camilo, Oswaldo Cardoso de Menezes e tantos outros.
Pouco também se fala dos pianeiros que já vivenciaram a era da gravação como Radamés Gnattali, Carolina Cardoso de Menezes, Gaó, Bené Nunes, Lina Pesce, Muraro e por aí vai. Tão grande foi meu impacto quando descobri, ainda jovem, que existia esse pianismo brasileiro, que imediatamente comprei todos os raros LPs que encontrei.
Percebi inúmeras qualidades nessa forma de tocar piano, mas uma em especial: todos tinham muito gingado e técnica! Pude também responder a uma questão que sempre tive, relacionada com o que aconteceu com piano brasileiro entre o Ernesto Nazareth e Dick Farney, ou seja, entre o início da música popular brasileira e a Bossa Nova. Nessa história entretanto há uma personalidade que consider muito especial e acho ainda mais incompreensível que seu legado esteja se perdendo: Amélia Brandão Nery, a Tia Amélia.
Tia Amélia era uma verdadeira gigante no choro! Uma pianista incrível! Tinha uma mão esquerda que era um verdadeiro um moto perpétuo. Fazia uma música muito alegre, viva e saltitante. Compunha choros lindos e interpretava com muita originalidade e maestria músicas de outros compositores, seja tocando solo ou com banda.
Um dos grandes nomes de nossa música e um dos grandes orgulhos para a cultura nordestina. Nascida em Jaboatão (PE), em 25 de maio de 1897, começou a ter contato com o piano aos 4 anos de idade. Seu pai era maestro da banda da cidade de Jaboatão, e também clarinetista e solista de violão. Sua mãe tocava piano.
Aos seis anos, Amélia começou a estudar música, mas, seu pai exigiu-lhe que se dedicasse aos clássicos. Com doze anos, ela compôs sua primeira música, a valsa Gratidão. Com 17 anos, ela se casou e seu esposo a impediu de seguir carreira como pianista, os planos que ela acalentava. Indo morar em uma fazenda nos arredores de Jaboatão, Amélia tocava somente nas festas de amigos. Ela aproveitou para estudar o folclore musical das cercanias da cidade. Com três filhos, e aos 25 anos, ela ficou viúva.
Para criá-los, ela abraçou a carreira artística profissionalmente. A Rádio Clube de Pernambuco a contratou. Lá, ela começou a fazer sucesso. Por volta de 1929, ela vai ao Rio de Janeiro resolver algumas questões de direitos autorais com a gravadora Odeon. Logo, é convidada a dar recital no Teatro Lírico, com grande êxito.
Era chamada de a coqueluche dos cariocas. Devido a esse sucesso, ainda se apresentou nas rádios Mayrink Veiga, Sociedade e Rádio Clube do Brasil. Ao voltar para Recife, continua na Rádio Clube de Pernambuco e retoma suas pesquisas sobre a música folclórica pelo interior do estado. Em 1930, vários intérpretes de nossa música popular gravaram composições suas: Elisa Coelho, Vicente Cunha, Elsie Houston, Alda Verona, Jararaca, Stefana de Macedo (pernambucana como ela) e Silene Brandão Nery (sua filha).
Voltaria ainda ao Rio de Janeiro para algumas apresentações, quando o Itamarati (em 1933), a convidou para excursionar pelas Américas ao lado de sua filha, Silene, para que elas apresentassem composições inspiradas no folclore brasileiro. Na Venezuela, o governo local a convidou para permanecer dois anos no país estudando o folclore venezuelano. Ela recusou o convite e partiu para os Estados Unidos, onde foi contratada por uma emissora de rádio de Schenactady, apresentando-se durante cinco meses sob o patrocínio da General Eletric.
Apresentou-se em Nova York e em New Orleans. EM Hollywood, ela e a filha foram convidadas para participar de um filme da RKO ao lado da orquestra de Rudy Vallee, mas não quis apresentar-se cantando e recusou.
Ela e a filha excursionaram pelo Brasil em 1939. Quando Silene se casou, ela resolveu abandonar a carreira, apresentando-se uma única vez no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, antes de se aposentar. Foi morar em Marília (interior de SP) e, depois, em Goiânia Lá, na casa de sua filha, conheceu a cantora Carmélia Alves, que era uma grande admiradora do talento de Amélia. Foi Carmélia quem a convenceu voltar a se apresentar.
Depois de 17 anos, ela voltava apresentando-se no Rio e em São Paulo, com um repertório de chorinhos de sua autoria, agora com o nome artístico de Tia Amélia. Apresentou-se nas grandes emissoras de rádio, como a Nacional, e na TV, em SP, nas emissoras Record, Tupi e TV Paulista. Voltou a graver discos (inclusive LPs) e a fazer apresentações em Recife.
Em 1960, a TV Tupi do Rio de Janeiro a contratou, onde ela fazia uma retrospectiva da época de ouro do choro brasileiro. Fez sua última gravação em 1980, aos 83 anos, pelo selo Marcus pereira, com o LP A Benção Tia Amélia, onde interpretava 12 composições inéditas, entre valsas e choros.
Nessa época, o historiador musical José Ramos Tinhorão escreveu sobre ela: "Assim, quando se ouve o som atual de Tia Amélia, pode-se dizer que é toda a história do piano popular brasileiro que soa em sua interpretação". Amélia Brandão Nery, a Tia Amélia, faleceu em Goiânia (GO), em 18 de outubro de 1983, aos 86 anos de idade. Happy New Year!
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