Publicado em 20/01/2021 as 12:30pm
Coluna Arilda Costa
Entrevista com o ator Roberto Rowntree Talento, dedicação e esforço marcam a carreira de um...
Entrevista com o ator Roberto Rowntree
Talento, dedicação e esforço marcam a carreira de um ator de prestígio, com passagens pela Rede Globo, papéis marcantes no cinema e com uma passagem inesquecível em papéis cômicos.
Lições de vida e carreira nesta entrevista exclusiva.
Como descobriu o ” ator ” em você?
Como eu descobri um ator em mim… é uma pergunta engraçada. Desde que eu era criança, eu ficava brincando de atuar, eu me vestia com fantasias que eram feitas com os ternos do meu avô, com o chapéu da minha avó, pintava o bigode com lápis da minha mãe e fazia personagens, fazia teatrinho, e quando a minha irmã nasceu, eu queria um irmãozinho e veio irmãzinha, aí eu botava bigode e barba nela pra fazer um outro mosqueteiro. Minha mãe era metida com o teatro, a minha mãe era atriz. Ela resolveu ser atriz quando eu era criança, começou estudar com o Ziembinski, também com a Tereza Raquel, enfim, eu a acompanhava.Tinha um grupo de teatro com a amiga dela, que eu gostava muito a Thelma Reston, com o Renato Prieto, que hoje é conhecido como um grande nome da dramaturgia espírita. E eu acompanhava desde criança, e me encantando cada vez mais, entrou no sangue. Mas eu fugi disso um tempo. Eu estreei no teatro aos 14 anos e tive uma decepçãozinha, me encantei com a música. Comecei a ser cantor de rock, me joguei nesse mundo por um tempo, mas acho que o destino estava traçado. Eu passei muito tempo cantando, viajei para fora do Brasil, por conta do Rock’n` rol, aonde eu aprendi a trabalhar com produção. Fui trabalhar na rádio por conta das músicas, comecei a fazer personagens e quando eu vi os convites começaram. Daí estava eu de volta aos palcos de outra maneira, não cantando. Minhas bandas eram performáticas, entre uma música e outra eu falava muito e contava histórias, enfim, o teatro estava no sangue o palco estava ali, não tinha como.
Você participou do humorístico Zorra Total na Rede Globo. Existe uma tendência a classificar talentos por gênero. Não temeu ser classificado apenas como comediante ?
Quando eu comecei a fazer personagens, era em um programa de rádio que eu criei, um programa de humor, abriu um caminho natural de eu ir para televisão, fazendo o programa de humor, veio o convite pro Zorra. Fiquei muito tempo classificado como comediante, que é um erro, pois o ator faz comédia e faz drama. Existe um preconceito, e eu sofri esse preconceito um tempo. Para as pessoas, eu era um comediante, e não sou, eu sou um ator. A comédia é muito mais difícil do que o drama. Mas eu fiquei muito tempo na comédia, foi no Zorra, foi no Didi, os espetáculos teatrais, comédia uma atrás da outra. Todo ano era dois ou três espetáculos de comédia, e muito tempo eu me especializei, estudei muito comédia. Eu estudei com os grandes, tive o prazer de trabalhar com o Paulo Silvino, Agildo Ribeiro, Renato Aragão, Dedé Santana, Ankito, Tutuca, Rogério Cardoso, enfim, grandes nomes da comédia. Muita gente boa, muita gente grande e maravilhosa. Aprendi muito com eles, e estudei muito com os grandes nomes , eu estudei muito Buster Keaton, Charlie Chapplin, os Três Patetas, O Gordo e o Magro, Abbott e Costello, Cantinflas, Oscarito, Grande Otelo, Mazzaropi, Louis de Funès. Eu estudava cada movimento e cada gesto, poxa o Jim Carrey é uma cópia de Jerry Lewis, eu estudei Jerry Lewis pra cacete, ele é genial, eu sou desse humor “careteiro”, depois eu aprendi muito desse humor Chapliniano e com o Duda Ribeiro, que foi um grande amigo que eu tive, mas quem faz comédia bem faz qualquer coisa.
O cinema parece ser o veículo que mais aproveita você. Fale sobre isso.
Na verdade, não é que o cinema seja o veículo que mais me aproveita, eu trabalhei 10 anos na TV Globo, fiz um personagem numa novela da Record, pequeno mas eu fiz. Na TV Globo, eu tive 3 personagens coadjuvantes que cresceram. Eu fiz várias participações, enfim, não somente em novelas, como em séries de TV fechadas, e fiz várias participações a pouco tempo em séries da Fox, AXN, Warner. O cinema, eu escolhi, digamos assim, eu percebi que havia um nicho ali, o cinema independente brasileiro. Precisava de experiência e garra e eu tinha essa garra. Eu queria trabalhar, queria botar a cara, tinha experiência de produção e podia ajudar, então eu comecei a fazer a diferença. Estar ali levantando as mangas e vestindo a camisa. Poxa, fiz 19 curtas e depois vieram 11 longas até o momento, que já não eram tão independente assim. Os filmes vieram maiores, participei e vou em todos os festivais. Participei de mesas de debates, fui apresentador, jurado, enfim eu vesti a camisa, me engajei digamos assim, no cinema nacional. E assim como eu abracei o cinema o cinema me abraçou.
Quais filmes contemporâneos tem chamado a sua atenção?
Filmes contemporâneos que chamam a minha atenção é difícil citar um só.Eu gosto muito do cinema de entretenimento americano, que é puro entretenimento, eu gosto e sou um fã assumido de Blockbuster. Gosto muito do cinema europeu que é uma linha bem diferente e eu tenho assistido muitas coisas boas do cinema espanhol, cinema Italiano, francês e alemão. O cinema indiano é maravilhoso e algumas coisas do cinema coreano. Cinema japonês, eu gosto de filmes de gênero, de terror, de ação.O bacana é esse crescimento absurdo do cinema em todo mundo, e as pessoas fazerem cinema, que é uma forma de arte espetacular. Sem falar mal da televisão, que faz coisas maravilhosas também, mas o cinema tem mais conteúdo sabe, artístico, interpretativo, fotográfico, estético, é maravilhoso e sou apaixonado.
A música, que papel teve na sua vida.
A música é um alimento da alma que a gente tem. Tive 17 bandas, eu estudei canto no conservatório Brasileiro de Música, fiz parte do coral de lá, me apresentei com o coral durante alguns anos. Tive muitas bandas, cantei rock, cantei Hard Rock, Heavy Metal, e cantei outros estilos. Fiz alguns covers e também compunha muito, mas a música é tudo, a música é vida. Eu gosto muito de música erudita, gosto muito de jazz, gosto muito de rock, gosto de samba, forró, sertanejo. Todos de raíz, eu gosto das músicas de raíz. Eu acho que essas músicas que modernizam transformam tudo na mesma merda. Agora todas e todos os estilos, tem letras do Funk, empobreceram as letras, todas são a mesma coisa, todo mundo mexe a bunda e toma cachaça,e acabou aí sabe. Não tem conteúdo, não tem letra. Infelizmente o Funk se deteriorou. O Funk era um movimento tão bonito quando começou, eu participei e cheguei a trabalhar com o MC Mascote, MC Marcinho, enfim as rapaziadas das antigas. Conheci o Funk antes disso, no tempo do Soul. O Monsieur Lima, Ademir Lemos e Maia Funk eu conheci essa galera pessoalmente e trabalhei com eles. Trabalhei na Rio Elétrico, aquela empresa que lançou o Tim Maia, Sandra de Sá e a Banda Black Rio. Eu conheci o funk americano antes disso. O funk brasileiro, com letras bonitas, que falavam da luta do cara que morava na comunidade, do amor e agora vem essa coisa que só fala “bunda desce, bunda sobe, bunda desce, bunda sobe, bunda desce, porra não tem o menor sentido né cara?
Crédito das fotos: Jade Dubeux