Publicado em 20/01/2021 as 9:30pm
Coluna Wendel Stein
O FIM DA BANCAS DE JORNAIS Eu lembro dos anos 80 e 90 de maneira muito...
O FIM DA BANCAS DE JORNAIS
Eu lembro dos anos 80 e 90 de maneira muito feliz. Recordo das músicas, jogos e brincadeiras como pega-pega, queimada, pega-ladrão, empinar pipas e soltar piões, mas existe uma coisa que sinto muitas saudades, as bancas de jornais.
E este assunto veio à tona no começo deste mês, quando fechou a última banca de jornais que conhecia e que se localizava no Shopping Center, Parque Dom Pedro na cidade de Campinas em São Paulo. Sei que ainda existem outras bancas pelo país, mas que também estão dando os últimos suspiros. Era algo esperado, pois há quase cinco anos, as editoras e gráficas reduziram em mais 95 % seu volume (comparado a década passada). Gigantes como a Editora Abril pediram concordata. Jornais fecharam as portas e milhares de demissões ocorreram. Foi o preço pago pela tecnologia, onde o digital foi substituindo o papel e os costumes.
Mas nos anos 90, principalmente, entrar em uma banca de jornal era mergulhar em um mundo mágico, encontrar dezenas de histórias em quadrinhos diferentes, revistas das mais variadas, Monica, Pato Donald, Capitão América, coleções intermináveis da Planeta Di Agostinin e uma variedade de álbuns de figurinhas de se tirar o chapéu. Tinha também aquelas revistinhas proibidas para menores, que sempre os adolescentes davam um jeito de um adulto comprar, além das clássicas Playboy, Elle & Ela e a Revista VIP. Era o jeito, pois a internet ainda iria levar um bom tempo para surgir no Brasil.
E o dono da banca de jornal, este sim era um cara respeitável. Geralmente lia todos os jornais do dia e conhecia tudo que tinha em seu estoque. Era quase um mestre Jedi em conhecimento, além de saber da vida e fofocas de toda a cidade. Com a autorizações de nossos pais, a gente podia até comprar os gibis fiado na banca, para pagar todo o final do mês. Eu confesso, que eu sempre fui o fã número um de uma banca de jornais, conhecia até as maiores, localizadas no centro da cidade de São Paulo. Achei que já tinha visto de tudo, mas quando fui estudar inglês na Califórnia em 1999, durante um passeio na cidade de Pasadena, entrei na livraria Barnes and Nobles e quando encontrei a seção de revistas e quadrinhos, quase tive um treco. Foi uma das experiências mais bacanas que já tive, acho que foi a mesma sensação que Indiana Jones teve quando encontrou a Arca da Aliança. Era muita coisa, tinha até revistas para criadores de gansos.
Memórias a parte, o mais importante deste texto é deixar nossa homenagem a todas estas pessoas, que direta ou indiretamente gerenciaram bancas de jornais, atravessando décadas de trabalho, enfrente tempos bons e ruins, e encarando com dignidade a extinção deste meio que foi tão importante para a disseminação da informação, cultura e lazer ao redor do planeta. A vocês nossa gratidão.
Wendell Stein é cineasta, jornalista e escritor profissional. É colunista do Brazilian Times. E-mail wendellstein@me.com