Coluna Wendel Stein

A TRAGÉDIA DA INDIFERENÇA

                No último domingo, assim como faço em todos os finais de semana, dirigi até a padaria para comprar pães para o café da manhã. Na saída da padaria, quase sempre, tem uma pessoa pedindo dinheiro. Nesta manhã, o pedinte estava sem máscara e começou a falar a distância comigo, eu tentei dispensar e ele se aproximou comentando:

            - Queria agradecer por me ouvir. Gostaria de pedir um pão para eu comer.

            Abri o saco e entreguei para ele, então fechei a janela do carro e fui para casa. No caminho, em uma praça, dezenas de pessoas e animais abandonados se amontoavam, no lugar improvisado como moradia. Logo eu estava em casa, com o café quente e o pão pronto para comer com manteiga. Em minutos já tinha esquecido do que tinha visto minutos atrás.       Isso o que aconteceu comigo é o mesmo o que acontece com muitas pessoas, que inconscientemente se acostumam com a miséria.

            Em 2014, perto da comemoração da quaresma, o Papa Francisco admitiu que a humanidade se acostumou a situações de miséria e o sofrimento humano. “Habituamo-nos à violência, como se fosse uma notícia diária normal; habituamo-nos a irmãos e irmãs que dormem na rua, que não têm um teto para se abrigar. Habituamo-nos a refugiados em busca de liberdade e dignidade que não são acolhidos como deveriam”, concluiu o pontífice.

            Uma das conceituações da pobreza é a privação do que se faz necessário para o bem-estar no aspecto material, notadamente alimentação, vestimentas, habitação e demais ativos. Mas também a pobreza em seus aspectos psicológicos, que faz das pessoas mais necessitadas, elementos mais vulneráveis a humilhação e mais distantes de todo tipo de participação da sociedade.

            Fenômeno semelhante a esse, são referentes a tragédias e epidemias, hoje ainda estamos no Brasil com cerca de mil mortes diárias causadas pela Covid19 e já vi conhecidos comentarem frases como estas “Uai, já tivemos 1500 mortes por dia, então está melhorando”. A imprensa falha em ser mais impactante nas informações, pois mil mortes por dia encheriam dois novos cemitérios por dia.

            A humanidade ainda está em busca de sua identidade, tentando se reencontrar, errando, acertando e errando novamente. Mas podemos ser a chave de ignição da mudança, não com dinheiro, mas com ideias que se transforma em ação para fazer a mudança, reduzir as injustiças e desigualdades sociais. Uma corrente do bem em prol da mudança, como foi a união mundial dos cientistas que em tempo recorde desenvolveram as vacinas contra a Covid19.

            O saudoso professor Piarluigi Piazzi disse uma vez em uma entrevista que “A humanidade tinha a tecnologia para desenvolver a borracha vulcanizada a muito tempo, mas só a criou quando foi preciso”, o que ele quis dizer é que podemos fazer a mudança, se a gente tiver consciência daquilo que queremos mudar.

            E aí, leitor, quem quer começar?

Wendell Stein é cineasta, jornalista e escritor profissional.

É colunista do Brazilian Times.

E-mail – wendellstein@me.com

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