Publicado em 12/11/2021 as 3:30pm
Coluna Arilda Costa
Entrevista com o Professor e escritor Mauro Rosa Esta semana a minha entrevista é com o...
Entrevista com o Professor e escritor Mauro Rosa
Esta semana a minha entrevista é com o escritor e doutor em literatura de língua portuguesa Mauro Márcio de Paula Rosa.
Mauro Rosa é um professor brasileiro nascido em Caeté, Minas Gerais, no ano de 1963. Acompanhou a família na mudança para Belo Horizonte em 1971. Construiu toda a sua trajetória escolar na capital mineira, do Grupo Escolar ao doutorado.
Começou sua atividade de professor e escritor também em BH. Hoje, vive e leciona no Rio de Janeiro.
Há quanto tempo você se dedica a escrever livros?
Meu primeiro trabalho foi publicado em 1995, pela Academia Brasileira de Letras. Foi um ensaio de Crítica Literária de cerca de 50 páginas sobre as relações da obra de Machado de Assis com o teatro de William Shakespeare. São, portanto, 26 anos escrevendo sobre os principais escritores brasileiros. No mesmo ano, publiquei minha dissertação de Mestrado, com 160 páginas. Esses trabalhos estão esgotados.
Qual sua opinião de uma obra para conquistar seus leitores?
A esse respeito, aprendi muito com Edgar Allan Poe, com Shakespeare, Machado de Assis e Olavo Bilac. Explico: esses autores escreviam com o cérebro. Acreditavam que a boa escrita exige um projeto anterior à obra, isto é, que o escritor deve planejar os rumos da obra, a tipologia dos personagens, o colorido que o texto terá, os propósitos da obra, seu interesse “ideológicos” e uma porção de outros aspectos. Também penso assim. A verdadeira conquista do leitor, entretanto, não se dá apenas pela forma de trabalho, mas principalmente pelo conteúdo do texto. E o conteúdo que conquista é aquele que serve de espelho para o leitor, que fala dos problemas humanos, das nossas angústias, nossos dramas, valores, amores, erros e acertos. Portanto, o escritor que quer cativar o público deve, principalmente, produzir identificação e catarse. Em outras palavras: nossos personagens devem ter músculos, sangue, alma e paixões. Mais: devem ser universais e atemporais. O leitor norte-americano, o polonês, o italiano ou brasileiro de qualquer tempo deve sentir que os personagens da obra sofrem e purgam as nossas dores e dramas.
O seu tema favorito, o que te inspira?
Meus temas favoritos são as mazelas humanas e as nossas grandezas e nobrezas de caráter. Eu escrevo como quem quer contribuir com a reflexão moral do leitor. Acredito que principalmente hoje, com o crescimento da esquerda globalista, os escritores conservadores como eu devem se voltar para as reflexões em torno da alma humana. Em função disso, o que mais me inspira são as pessoas boas da vida cotidiana e as pessoas muito perversas e más que passaram pela minha vida.
Qual o seu ritual no processo de criação dos seus textos?
Eu escrevo como o Padre Matias (risos). Padre Matias é um personagem de um conto de Machado de Assis. Ele é um misto de Antônio Vieira, Rui Barbosa, Shakespeare, Moliére e Machado. Quero dizer o seguinte: ele escreve racionalmente, como disse acima, e pensando que a escrita é um processo que exige descanso, ou seja, o escritor precisa descansar do texto de tempos em tempos para poder voltar a ele criticamente, encontrando e corrigindo os erros e incoerências narrativas. Tudo precisa fazer sentido, precisa ser verossímil e impactante. Por isso citei Edgar Allan Poe. Este gênio escrevia primeiro a última estrofe dos poemas. Só depois de criar o ponto máximo e culminante da obra ele criava o início e dirigia tudo racionalmente até aquele final previamente planejado. Dessa forma ela dava sentido e coerência a tudo e gerava um crescendo e uma progressão que prendia e encantava o leitor. Veja só: quando digo que escrevo como esses grandes autores que menciono, não quero dizer que sou tão grande quanto eles. Claro que não sou. Quero apenas dizer que me esforço para ser racional e para escrever de modo organizado e expressivo. Isso significa que não acredito em intuição, em algo que venha de fora. Acredito em trabalho, planejamento, esforço e resultado planejado.
O que você escuta enquanto escreve, ou você prefere o silêncio?
Quando estou me sentindo preguiçoso, escuto Beethoven. Principalmente os concertos para piano, as sonatas e as sinfonias. Beethoven é um compositor que fundamenta suas obras numa bitematização tensa; tensão essa que nunca se resolve. Esse clima beethoveniano me estimula, me empurra para o trabalho. Mas quando preciso escrever algo muito nobre (falo de nobreza de alma) ou muito poético, escuto dois compositores sacros brasileiros que quase ninguém conhece: Lobo de Mesquita e José Maurício Nunes Garcia. O primeiro é um mineiro do período da Minas Gerais do período colonial; o segundo é um carioca (o maior compositor barroco da América Latina, o Mozart Brasileiro). Quando quero dar um tom nacionalista à obra ou trecho de obra, escuto Villa-Lobos. Mas também gosto do silêncio. Aprecio muito o silêncio e a solidão na hora de escrever.
De onde vem sua inspiração?
Vem de dentro. De dentro e de fora. De dentro, porque são as minhas impressões da realidade que me movem à redação; de fora, porque são as ações humanas mais impactantes que me levam a escrever. Normalmente são as vivências dolorosas ou as indignações com o que está errado que provocam a vontade de escrever. A escrita e a ciência são atos decorrentes de fenômenos aporéticos: escrevemos e fazemos ciência porque algo de fora nos leva à vontade de conhecer ou a vontade de produzir catarse.
Quanto tempo você leva para escrever um livro?
Depende do livro. Os últimos quatro livros que escrevi são acadêmicos (um sobre Camões, um sobre Machado de Assis, outro sobre Tópicos de teoria da argumentação e o último sobre Os Lusíadas, que completará 450 anos da primeira publicação em 2022). Gastei um ano para escrever e corrigir cada um destes livros. Em dezembro, deve sair um romance meu cuja redação demorou 14 anos. Meu livro de contos foi escrito e corrigido em 4 anos. Quando a obra é literária, ela exige mais tempo que a obra acadêmica. A construção dos elementos de literariedade de um texto exige muito tempo e dedicação. Machado de Assis gastou, segundo entendo, cerca de 19 anos para escrever Dom Casmurro. Mas normalmente esses grande gênios são muito mais velozes que autores como eu.
Como seus defeitos interferem no que você escreve?
Interferem de duas formas: primeiro, porque costumo usar minhas próprias mazelas e pequenezas como temas ou subtemas, inserindo as em algum personagem; segundo, porque minhas falhas comoescritor acabam me obrigando a rever e repensar continuamente os textos, querendo que eles fiquem cada vez mais trabalhados e esteticamente refinados.
Você aprendeu algo com alguma crítica? Se aprendeu, isso mudou o seu jeito de escrever?
Ainda não aprendi com nenhuma crítica. Entenda: vivo no meio universitário. Sou professor da UFRJ. Minha escrita acadêmica tenta instrumentalizar o aluno a ser humanista. A academia dos dias atuais é desconstrucionista e progressista. Graças a isso, as críticas que sofro são simplesmente destrutivas; um destrutivo que não constrói, que não aponta caminho para melhorar o que está ruim. Guardadas as distâncias, meus alunos e colegas progressistas fazem comigo o que a imprensa fez com Trump e faz com Bolsonaro: ataques e destruições sem razão de ser. Mesmo assim, interpreto uma coisa positiva nisso tudo: devo estar no caminho certo: se estou incomodando a esquerda, devo estar fazendo a coisa certa. Isso mudou meu jeito de escrever sim: antes eu era um covarde (parafraseando Nelson Rodrigue, que tem um conto com esse tema) agora, sou um Ex-covarde (nome do conto do Nelson Rodrigues).
Você convive fraternalmente com alguém que, em público ou particular, declarou não gostar dos livros que você escreveu?
Sim, convivo com os alunos e professores progressistas da UFRJ, embora eles olhem para mim com ares e grunhidos de cães raivosos (risos).
Qual será seu próximo livro?
É um romance que terá uma edição trilingue (português, inglês e alemão). Chama-se O coronel. Está pronto e em fase de preparação editorial. O livro conta a história de um “Coronel-Prefeito” dos anos 1920, 1930 e 1940. Era um homem perverso que dominava a política de uma certa região de Minas Gerais. Esse prefeito comprava pessoas, mandava matar inimigos políticos com emboscadas cruéis e praticava atos inimagináveis para obter e manter o poder político que tinha. O narrador da obra é um industriário contratado por uma companhia luxemburguesa que se instalou em Minas na primeira metade do século XX.
Três coisas que ainda estão na sua lista de desejos:
Primeira: Aprender bem a língua grega (tenho apenas algumas noções básicas) e o alemão (não sei nada); segunda: gravar o meu roteiro de filme que conta as histórias de Dom Pedro II, Machado, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa; terceira: morar ao menos um ano nos Estados Unidos e conhecer o país de Norte a Sul.
Quem você diria que são seus antepassados literários - aqueles de quem você aprendeu mais?
Essa é uma pergunta muito difícil de ser respondida. Sinto-me pequeno (literariamente falando). Como disse, tento aplicar as regras, táticas e estratégias dos grandes Machado, Shakespeare, Allan, Poe, Vieira e Moliére. Mas se for preciso me colocar ao lado de algum escritor, me colocaria ao lado de Manuel Antônio de Almeida (quem me dera alcançar a grandeza desse pouco conhecido escrito brasileiro) . Mas como ele é autor de um romance só e não viveu o bastante para fazer uma obra volumosa, eu me colocaria “ao lado” dele (ele é o autor de Memórias de um sargento de milícias).
Qual o melhor treino intelectual para quem quer ser escritor?
Ler os grandes modelos! Ler os clássicos da literatura universal! Os clássicos ensinam tudo. Nenhum curso de escrita criativa ensina mais que ler os clássicos.
Qual o livro da literatura mundial que você gostaria de chamar de seu?
Dom Casmurro.
O que seus textos trazem como inspiração para outras pessoas?
A vontade de ser sempre digno e íntegro (ao menos é isso que pretendo quando sento para escrever)!
Quais foram seus livros publicados até agora?
Os que foram publicados são: a) Teatro e tragédia na produção romanesca de Machado de Assis (crítica literária), b) Identidade e alteridade como lugares ontológicos do trágico em Machado de Assis (crítica literária), c) Contos de Espanha (ficção), d) Tempo e memória em Dom Casmurro e Genio y figura (crítica literária), e) Camões para ser lido e ouvido (antologia poética), f) Machado de Assis em Long Play (narrativa de formação de acervo), g) Tópicos de teoria da argumentação (didático), h) O coronel (que será publicado no final deste ano).
Algum projeto na gaveta para um futuro próximo?
Sim: o roteiro de cinema sobre a transição do Brasil imperial para o Brasil Republicano, com destaque para Dom Pedro II, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Barão do Rio Branco e Rui Barbosa e os dois romances que completarão uma trilogia com O coronel. O roteiro de cinema e os dois romances da trilogia já estão prontos.
Qual é a parte mais fácil e a parte mais difícil de escrever um livro?
A mais fácil é começar; a mais difícil é terminar (risos).
B
O imprescindível é conseguir criar o Agon, a dor, a luta, o obstáculo que ele deverá romper. Protagonista é exatamente isso: pro + t +agon + ista; é aquele que luta para transpor um obstáculo que seu opositor ou forças opositoras colocarão diante dele. Isto é fundamental!
Você poderia antecipar uma história que você gostaria de escrever, mas ainda não escreveu?
Sim: estou reescrevendo a história de Capitu. Estou recontando a vida dessa personagem machadiana. A diferença (além do fato de Machado ser gigante e eu ser pequeníssimo) é que no meu romance a narrativa está nas mãos da Capitu. No Dom Casmurro, a narrativa está nas mãos de Bentinho.
Qual a importância da capa do livro para você?
Esse é o tipo de preocupação que importa mais para os donos das editoras. Mas peço apenas que as capas sejam representativas dos conteúdos dos livros. Se a capa for antecipadora do conteúdo, já fico feliz.
Você tem uma dica para quem quer seguir o sonho de ser escritor?
Tenho duas: a primeira dica é ler, ler, ler e ler. A segunda é a de não ter pressa para terminar.
Cita o melhor momento da sua carreira como escritor até hoje?
O momento atual. Acho que a atualidade é sempre a melhor hora de colheita dos esforços anteriores. É a quarta estação. A quarta estação da vida, a da colheita, é sempre a melhor (quando de fato tivemos uma vida de esforço e dedicação).
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