Coluna Wendel Stein

XINGU E OS IRMÃOS VILLAS BOAS

Conheci um dos irmãos Villas  Boas, Orlando, em 1994 em uma noite quente e seca em Piracicaba, foi na Universidade Metodista durante a apresentação do grupo musical “Sagrado Coração da Terra”. Na ocasião passei quarenta minutos proseando com o simpático senhor, já beirando seus 70 anos e que tentava me esclarecer algumas dúvidas sobre o explorador inglês Percy Fawcett, lendário personagem que cruzou com ele durante sua procura pelo Lendário reino do El Dorado. Fawcett nunca retornou de sua expedição, anos depois de seu desaparecimento, Orlando encontrou os ossos que poderia ter pertencido ao explorador, que nunca foi confirmado. A família do britânico se negou a fazer o exame de DNA, preferindo a acreditar que Fawcett encontrou seu destino, o reino perdido do EL Dorado na Serra do Roncador, onde até hoje viveria com o mítico povo intraterreno, isso pelo menos de acordo com os familiares.

Muito tempo se passou, desde aquela noite de 1994 quando estive com Orlando, conversamos por telefone mais umas duas vezes e sempre ficou para o futuro, uma visita para uma longa entrevista, que nunca acabou se concretizando. Hoje me arrependo muito disso, era só ter agendado, pegado um ônibus até São Paulo e feito a reportagem.

  O Brasil sempre deu pouca importância para a história dos Villas Boas, desconhecida por boa parte dos brasileiros. Por isso, que louvo a iniciativa do diretor de cinema Cao Hamburger quando levou para as telas a história destes sertanistas, no filme Xingu. O filme, que já tem 10 anos, mesmo não sendo um documentário, teve o cuidado na reconstrução de cenas e objetos da época. Mesmo sendo difícil contar toda a história da criação do Parque Nacional do Xingu em menos de duas horas, foi até hoje a melhor tentativa já feita em prol de nossa história e cultura. O filme tem a delicadeza de mostrar os personagens não como heróis, mas como pessoas sujeitas a situações, erros e acertos, seres humanos com desejos carnais com as índias e impasses éticos até então nunca enfrentados.

O filme foi uma produção de Fernando Meirelles, Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck, com roteiro de Elena Soarez, Cao Hamburger e Anna Muylaert. Vale destacar a boa trilha sonora de Beto Villares. A  co-produção ficou a cargo da Globo Filmes e a distribuição feita pela Downtown Filmes, Sony Pictures e RioFilme. No elenco João Miguel (Claudio Villas Boas), Felipe Camargo (Orlando Villas Boas), Caio Blat (Leonardo Villas Boas), Maiarim Kaiabi (Prepori), Awakari Tumã Kaiabi (Pionim), Adana Kambeba (Kaiulu) Tapaié Waurá (Izaquiri), Totomai Yawalapiti (Guerreiro Kalapalo),  Maria Flor (Marina), Augusto Madeira (Noel Nutels) e Fabio Lago (Bamburra).

            Um dos focos do longa-metragem é mostrar como surgiu o Parque Nacional do Xingu, a maior reserva indígena do mundo e como os irmãos Villas Boas foram os principais responsáveis pela viabilidade do projeto. Tudo em uma época que não existia a consciência ambiental e ecológica e o índio era visto como um problema selvagem que deveria ser eliminado em prol do progresso na Nação.

Wendell Stein é jornalista, diretor audiovisual e escritor. E-mail: wendellstein@me.com

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