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Publicado em 18/07/2022 as 8:30am

Coluna Saúde da Mulher

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Endometriose - A Dor Silenciosa de Muitas Mulheres

O silêncio, a falta de compreensão e apoio são companheiras constantes de centenas de milhares de mulheres que sofrem de endometriose, doença que afeta uma em cada dez mulheres no Brasil. A cantora Anitta declarou que agora faz parte do grupo de portadoras que lutam contra esse mal enquanto buscam por  respeito, tratamento e cura.

Durante duas semanas a Coluna Saúde da Mulher vai tratar de um assunto muito importante que tem circulado nas redes e nas mídias sociais, a endometriose. Por isso convido a você leitora para acompanhar e compartilhar com sua rede de amigas e assim poder ajudar outras mulheres.

No dia 8 de julho a cantora e empresária Anitta, de 29 anos,  fez uma declaração em uma de suas redes sociais que aguarda para ser submetida a cirurgia após ter sido diagnosticada recentemente com endometriose.  Ela ainda completou dizendo, que por cerca de nove anos sofre com os sintomas dessa doença e que muitas das vezes teve que cumprir com a agenda lotada de shows mesmo sofrendo de dores intensas. Para entender melhor o que é endometriose e como muitas portadoras enfrentam o preconceito e falta de apoio, vamos tratar desse assunto que é extremamente necessário para saúde de todas nós mulheres.  Mas desde já faço um convite especial para você assistir ao encontro de bate-papo sobre endometriose e estigma que envolve a depressão nas redes sociais da @acalentar, na quinta-feira, dia 14 de julho, às 19h (Brasília), 20h (Boston).

Entendendo melhor o diagnóstico de Anitta.

Segundo a cantora, Anitta chegou ao diagnóstico quase que por “acaso”, enquanto acompanhava o pai em uma consulta durante um tratamento de câncer no pulmão. Durante a consulta, Anitta comentou com a médica de seu pai que sofria de dores intensas, principalmente durante o período menstrual, mas que não tinha noção da causa. Anitta então, foi encaminhada para fazer um exame de ressonância magnética que detectou sinais da endometriose.

Após nove anos de sofrimento, Anitta agora aguarda o dia da cirurgia para tratar a doença. Não sabemos ainda que tipo específico de endometriose e qual o grau do caso da cantora, mas com certeza devido ao sucesso e influência de Anitta aumenta a esperança de poder fortalecer as vozes de tantas mulheres portadoras.

Anitta ainda completou: "Minha cirurgia está marcada e aqui fica o meu apelo por mais informações para mulheres. Mais acesso, mais interesse geral em cuidar do corpo feminino para que a gente possa ser livre e conseguir se cuidar”.

Além de Anitta, a jornalista e apresentadora do programa Encontro, Patrícia Poeta, com 45 anos e também a influenciadora que leva o mesmo nome, Patrícia Ramos, de 22 anos, também são portadoras da endometriose. Após a revelação de Anitta, várias outras celebridades e profissionais da mídia afirmaram sofrer do mesmo mal. O que nos leva acreditar que precisamos pedir o apoio público de cada uma delas para que se unam as vozes de milhões de portadoras que não possuem a mesma visibilidade.

“Dor não é normal. Precisamos ser ouvidas pelos médicos”.

Anoan S. Santana (portadora)

O que é endometriose e quais são os principais desafios para o tratamento adequado?

A endometriose é uma doença crônica que afeta mulheres em idade reprodutiva e que está cercada de tabus e muito preconceito. O surgimento de inflamação no tecido que envolve o endométrio, que reveste o útero mas que pode atingir vários órgãos,  provoca dores intensas tanto durante quanto após o período menstrual mas também ao urinar e durante o ato sexual.  A inflamação pode, entre outras coisas, variar tanto de intensidade quanto do grau de gravidade, além da localização da área afetada. Somente através de um diagnóstico preciso é possível determinar o tipo e tratamento adequado para cada portadora.

Para entender melhor como ocorre e quais são os principais desafios precisamos entender algumas coisas como:

  1. Sistema reprodutor feminino - é o sistema  do corpo da mulher formado por: dois ovários, duas tubas uterinas (popularmente conhecida como trompas), útero, vagina e vulva. Também conhecido como aparelho reprodutor feminino, os órgãos citados acima são responsáveis pela reprodução humana e a regulação do ciclo menstrual.
  2. Causas da endometriose - ainda é um mistério para ciência o que causa a endometriose mas existem algumas teorias como: a)genética e imunológica, pois possui relação de maior possibilidade da mulher vir a desenvolver a endometriose caso tenha outros casos na família, assim como em relação alguns povos e raças. b) regurgitação - existe uma comunicação entre a nossa cavidade abdominal com o endométrio e por isso, os especialistas que defendem a teoria da regurgitação acreditam que a endometriose ocorre devido a passagem das células endometriais através das trompas. Essa passagem então acabam envolvendo outros órgãos pélvicos além os que estão na cavidade abdominal e assim atingindo outras áreas do corpo feminino. No entanto, como muitas outras mulheres não são afetadas, como as portadoras da endometriose, os especialistas que não concordam com essa teoria não apostam com a teoria da regurgitação como a causa para essa doença. c)Metaplasia do epitélio celômico - eita nome difícil! Mas para descomplicar, essa teoria afirma que a responsabilidade da endometriose seria a inflamação  dos tecidos devido a transformação de células que recobrem os órgãos abdominais, assim como o endométrio. d)Embolização hematológica ou linfática - como já citado anteriormente, a endometriose pode atingir outros outros do corpo, como o pulmão e segundo essa teoria isso ocorre devido a passagem do tecido endometrial pelos vasos linfáticos ou sanguíneos atingindo então o pulmão.

“ A endometriose afetou minha vida profissional, social, sexual e não me permitiu ser mãe.”

Mônica Strege (portadora)

Mitos e verdades que envolvem a endometriose

A falta de informação tanto para nós que somos leigas no assunto mas também e até mesmo para os profissionais da área médica acaba provocando a propagação de vários mitos sobre a endometriose, o que só prejudica as portadoras dessa doença terrível. Alguns desses mitos e verdades são:

  • Não é dor é frescura - esse sem sombra de dúvida é o mais grave e mais prejudicial de todos os mitos pois fere e machuca ainda quem sofre dessa doença. A grande maioria das mulheres que são portadoras da endometriose relatam experiências diversas enfrentadas por causa do preconceito e descaso, tanto dos parentes e amigos quanto dos médicos que deveriam estar dando suporte e acolhimento. Sim, a dor é real assim como a falta de diagnóstico precoce e acesso ao tratamento é fundamental. Sim, várias mulheres ficam incapacitadas de exercerem atividades diárias e muitas ficam acamadas por anos, como Maria Helena Nogueira, Presidente e fundadora da AMO Acalentar (Associação Nacional de Endometriose Infertilidade e Dor Crônica do Brasil), ao qual tenho a honra e alegria de fazer parte do quadro de Embaixadora. Apesar de sofrer por décadas com esse mal, Maria Helena além de não se render a doença ainda luta bravamente pelos direitos das portadoras da endometriose enquanto apoia diretamente centenas de vítimas que buscam por socorro e atendimento imediato. Assim como Maria Helena milhões de mulheres sonham não só com a cura dessa doença mas também em poder ver seus gritos de socorro sendo transformados em: projetos de leis que apoiam e garantam os direitos das portadoras, acesso gratuíto e de qualidade de tratamento, o fim do preconceito sofridos diariamente e descoberta da cura para endometriose.
  • Endometriose pode provocar infertilidade - segundo a ginecologista, obstetra, Dra. Helizabet Salomão, Vice Presidente da SBE. Sociedade Brasileira de Endometriose, cerca de 20% a 50% das causas de infertilidade estão relacionadas à endometriose. Mais um motivo de que além do apoio psicológico, é fundamental o diagnóstico assertivo o quanto antes que possam aumentar as chances da mulher que deseja engravidar. Além disso, a Dra. Helizabet também afirmou, durante a participação no programa É de Casa, no dia 9 de julho de 2022, que quanto mais cedo a portadora iniciar o tratamento menor é a chance dela sofrer com os sintomas da endometriose mesmo durante a menopausa.
  • Tratamento cirúrgico é a única opção disponível para vencer a endometriose - Procedimentos cirúrgicos não são aplicados para todos os casos. Somente o médico pode determinar se a portadora pode ser beneficiada através da cirurgia que pode aliviar muito os sintomas mas que não garante o fim do sofrimento provocado pela endometriose. É o caso da moradora da cidade de São Paulo, Anoan Souza Santana, de 29 anos. Anoan, que além de ser portadora da endometriose é também Embaixadora da Acalentar, conta que recebeu o diagnóstico em 2019. Em fevereiro deste ano, Anoan, que também sofre de adenomiose; doença que provoca o espessamento dentro das paredes do útero causando dores; foi submetida ao tratamento cirúrgico e que até o momento teve uma melhora de 60% mas que por sofrer de adenomiose ainda sofre com cólicas.
  • A endometriose pode provocar cânceres - apesar de existir uma relação entre o desenvolvimento de certos tipos de cânceres, como de ovários e endometriose, ainda não existe base científica suficiente que possa associar de fato que lesões de endometriose tornam-se cancerosas. Por ser raro os casos, a ocorrência de portadoras que desenvolvem cânceres é muito baixa levando a crer que outros fatores de riscos podem ser os principais responsáveis.
  • A endometriose é sexualmente transmissível - mais um mito que rodeia na cabeça de pessoas mal informadas pois a endometriose não é uma IST (infecção sexualmente transmissível). Assim como o preconceito, as portadoras são frequentemente alvo constante de acusações injustas, incluindo por seus próprios parceiros sexuais. Mas um motivo de que mesmo que você não sofra de endometriose, temos o dever de apoiar as portadoras e ajudar a divulgar informações corretas sobre essa doença.

Tratamentos contra a endometriose

Somente após o diagnóstico é possível determinar qual é o melhor tratamento para cada paciente. É necessário que a portadora receba acompanhamento de uma equipe multidisciplinar até que se identifique como e onde tratar a portadora. Uma equipe formada por ginecologistas, médicos especializados em tratar dores crônicas, nutricionista, especialistas em saúde mental e etc… são os principais responsáveis pelo tratamento e acompanhamento personalizado em prol de contribuir para o fim desse sofrimento. Existem casos, porém, que somente o tratamento medicamentoso é necessário para controlar os sintomas, enquanto outros é preciso outros tipos de atenção específica. Lembrando que cada caso é um caso e cada dor é única, mas que quando nos unimos podemos alcançar uma força muito maior que leva a capacidade da portadora não se deixar abater mesmo diante de tantos desafios.

Um dos inimigos da endometriose é a falta de esperança que muitas sentem por não acreditarem que a sua dor possa ser amenizada. Essa sensação, que é real na mente de muitas portadoras, pode levar ao desespero, pois além de terem que conviver com dores intensas diariamente muitas vivem a mercê da falta de paciência e descaso de muitos envolvidos. A falta de esperança tem levado muitas mulheres à autodestruição. Muitas portadoras lutam contra pensamentos suicidas mas que no fundo elas não querem morrer, mas sim poder ter a chance de viver de verdade sem dor.

Mesmo sabendo que recentemente o Brasil determinou que a endometriose é, sim, uma doença relacionada à saúde pública, ainda estamos longe de poder garantir o direito de toda mulher o acesso tanto ao diagnóstico precoce quanto ao tratamento digno e de qualidade. Devemos lembrar que o direito à saúde pública é um direito de todas e todos, pois é um direito humanitário.

Quando o governo de qualquer país garante o acesso ao sistema gratuíto de saúde não está fazendo um favor mas sim um dever. É dever do governo, de todas as esferas garantir o acesso ao tratamento adequado que possa proporcionar o fim do sofrimento de pessoas que contribuem através do pagamento de impostos, assim também como para o crescimento e fortalecimento da economia do país.

A mulher com endometriose não só deseja ser respeitada mas também poder ter o direito de viver plenamente. Portadoras não sonham em passar uma vida travada em cima de uma cama por causa das dores intensas que chegam até tirar a vontade de viver, elas almejam com o dia de poder se sentir inteira novamente, sem impedimento algum que venha impedir conquistar seus objetivos na vida.

Se você foi tocada por esse assunto, procure colaborar com outras mulheres que buscam se juntar a outras vozes, como a sua, de forma a gritar ainda mais alto por socorro. Você pode participar desse movimento de apoio às portadoras da endometriose de várias maneiras, como: se informando mais sobre a doença, perguntando uma portadora como você pode apoiá-la, fazendo doações financeiras para organizações de apoio a mulheres com endometriose como a Acalentar @acalentar, cobrando os representantes locais responsáveis tanto por legislações como do gerenciamento das verbas destinadas ao tratamento, pedindo diretamente mulheres portadoras que tem destaque em outras áreas, como Patrícia Poeta, Patrícia Ramos e Anitta para que abracem campanhas existentes e futuras de apoio. (@patriciapoeta, @patriciaramos @anitta, @acalentar.

Termino agradecendo a todas as Embaixadoras que contribuíram para a construção desse texto. Meu respeito, admiração e apoio. Você não está sozinha.

Fonte: Lídia Ferreira

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