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Publicado em 27/07/2022 as 7:00pm

Coluna Arilda Costa

Coluna Arilda Costa

Entrevista com a escritora Thereza Christina Rocque da Motta

Esta semana, conversei com a poeta, editora e tradutora  Thereza Christina Rocque da Motta. 

Ela nasceu na cidade de São Paulo, em 1957. Formou-se em Direito no Mackenzie, em 1981. Foi chefe de pesquisa do Guinness Book, o Livro dos Recordes em 1992. Participou do II Encontro de Escritoras, em Rosário, Argentina, em julho de 2000 e da Conference on World Affairs, na Universidade do Colorado, em Boulder, em 2002, 2003 e 2005. Membro da Academia Brasileira de Poesia, do PEN Clube do Brasil e da Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil (ACILBRAS). Jurada de Tradução do Prêmio Jabuti, em 2018.

Publicou mais de 20 livros de poesia, que fazem parte da Poesia Reunida 40 anos, lançada em 2020, pela Ibis Libris. Recebeu a Medalha Chiquinha Gonzaga da Câmara Municipal por seus serviços culturais prestados à Cidade do Rio de Janeiro, em 18 de agosto de 2021. Publicou, em fevereiro, seu primeiro livro de contos Sheherazade: Novas lendas das 1001 noites e três já conhecidas, seu sexto livro em prosa. Acabou de participar do 32º Festival Internacional de Poesía de Medellín, como única poeta brasileira convidada. Fundou a Ibis Libris Editora em 2000.

Há quanto tempo tem se dedicado a escrever livros?

Comecei a publicar meus poemas que escrevia desde os 15, aos 22 anos, quando fiz uma antologia de poetas da Universidade Mackenzie, o Ensaio I, em janeiro de 1980, até o Ensaio V em 1982. A ideia era cada um publicar seu livro individual, o que aconteceu em 1982, quando lancei meu primeiro livro de poesia, Joio & trigo, aos 25 anos de idade.

Qual sua opinião de uma obra para conquistar seus leitores?

A inspiração não é algo que se compre, mas se pode aprender a escrever melhor lendo outros poetas e entendendo o seu próprio processo de criação. Entre os 15 e 19, escrevi 100 poemas, que foram lidos por Hilda Hilst quando eu já estava na Faculdade de Direito do Mackenzie. Ela me disse que eu tinha “fraseado poético” e que estava no caminho certo, e chegaria lá sozinha. Eu não sabia o que isso queria dizer, mas ela deu seu aval antes de qualquer outra pessoa. O que veio depois, corroborou o que Hilda disse.

Qual seu tema favorito, o que a inspira?

Uma vez me disseram que escrevo sobre o amor, por causa dos meus poemas confessionais. Também escrevi sobre outros assuntos. Mas o amor, a paixão é o meu tema mais constante.

Qual o seu ritual no processo de criação dos seus textos?

Em geral, escolho um tema para poder escrever, seja histórico, seja literário, seja pessoal. Também escrevo em inglês, ou verto meus poemas para o inglês desde 1992.

O que escuta enquanto escreve, ou prefere o silêncio?

Silêncio, por favor. Gosto de música clássica, mas quando ouço música, é só música. A leitura ou a escrita precisam de silêncio.

De onde vem sua inspiração?

De tudo que me cerca. As ideias vagam soltas na mente e, de repente, se precipitam. Às vezes, um assunto fica dentro de mim por muitos anos, como a história de Abelardo e Heloísa, um casal que infringiu todas as regras de comportamento no século XII. Essa história me acompanhava desde os 13 anos de idade quando assisti a uma peça sobre eles.

Houve depois um filme, e um livro com as cinco cartas que eles trocaram em latim, traduzidas para o inglês. Então, encontrei, ao acaso, um romance sobre Astrolábio, o filho deles, escrito por uma autora alemã, Luise Rinser, casada com Carl Orff, compositor de “Carmina Burana”. Pouco tempo depois de ler esse livro, escrevi em 15 dias os 12 sonetos ingleses epistolares entre os dois, pois esse diálogo poético continuava existindo dentro de mim.

Quanto tempo leva para escrever um livro?

Já levei três horas e meia para escrever 22 poemas (Lilases), ou uma hora para fazer 21 poemas curtos (2ª parte de Sabbath), um mês para fazer O jardim de jacintos de Madame Sosostris, ou nove meses para escrever e publicar As Liras de Marília, que me levou a Ouro Preto para fotografar a cidade onde viveu a musa de Tomás Antônio Gonzaga. Cada livro tem o seu tempo.

Como seus defeitos interferem no que escreve?

Você quer dizer manias. Eu escrevo com precisão. Pesquiso antes de escrever sobre um tema, como futebol ou a Inconfidência Mineira que estudei por 20 anos antes de fazer As Liras de Marília. Em 2000, decidi escrever sobre homens históricos do ponto de vista feminino. E me perguntei: “Quantas mulheres são necessárias para se fazer um grande homem?” Fiz uma lista de homens que eu admirava e comecei a estudar para saber quem eram as mulheres ocultas na vida deles.

E comecei por Marco Polo, o comerciante italiano, que foi até a China na época de Kublai Khan no século XIII. Mas, se não fosse a Princesa Azul, ele, o pai e o tio não teriam voltado para a Itália. Só sabemos de suas aventuras por causa dela e porque escreveu um livro em Gênova, onde ficou preso por dois anos depois de retornar a Veneza, após 23 anos de viagem. 

Marco Polo e a Princesa Azul é um dos livros mais queridos do meu catálogo, prefaciado por Afonso Henriques Neto e é bilíngue, depois que participei da Conference on World Affairs, da Universidade do Colorado, em Boulder. Foi escrito entre 2002 e 2005, vertido para o inglês e lançado em 2008, no Brasil. Por estar escrito em inglês e português, foi o primeiro Kindle brasileiro a ser vendido na Amazon, porque, nesse período, ainda não vendiam ebooks em português e espanhol.

Aprendeu algo com alguma crítica? Se aprendeu, isso mudou o seu jeito de escrever?

Aprendi com grandes poetas que me acompanharam desde o início. Mas sempre abri meu caminho por mim mesma. Aprendi com a minha experiência que livros de poesia não podem ter muitas páginas, senão ninguém lerá.

E não admito escrever um livro que alguém não consiga ler inteiro. Então, são obrigatoriamente pequenos, com 12, 15, 22, 44 ou 55 poemas apenas, para que ninguém possa dizer que não conseguiu lê-lo todo. Mas já infringi essa regra também ao fazer antologias, coletâneas e a minha Poesia Reunida com quase 800 páginas.

Como percebeu essa sua vontade e entendeu que seu destino era ser escritora?

Decidi ser poeta aos 15 anos de idade, depois de ter lido tudo que li desde os oito anos, graças à minha mãe e minhas professoras. Tive uma educação exemplar. A literatura sempre foi um ponto alto no ensino. E minha mãe percebeu que eu sabia escrever desde os 7 anos quando fiz uma pequena redação no primário. Contei a história de Rei Artur em cinco linhas. Mamãe, ao ver isso, pensou: “Tamanho poder de concisão, só sendo poeta. Tenho uma poeta em casa”.

E passou a me dar poesia para ler. Ela era uma grande leitora de poesia, de Gabriela Mistral a Guilherme de Almeida. Quando completei 8 anos, minha mãe me chamou junto à estante, pegou um minilivro e me disse: “Há um poeta que escreveu um poema para seus oito anos de idade. Se ele escreveu um poema sobre isso, quer dizer que a idade que você está fazendo hoje é muito importante”. E leu para mim “Meus oito anos” de Casimiro de Abreu, cuja obra estava naquele livro diminuto. Isso me impactou imediatamente.

Quais eram os passatempos que a levaram a querer contar histórias?

Ler, ouvir histórias quando eu era criança foram fundamentais para criar mundos imaginários. Meus pais eram grandes leitores. Minha mãe era arquiteta e meu pai, diplomata. Ler era fundamental. Eles me davam muitos livros e me contavam histórias o tempo todo.

De onde vêm os seus personagens? São inspirados em pessoas reais ou em fatos?

Tudo é fato ou ficção. Os personagens vêm do que li e do que vivi.

Qual será seu próximo livro?

“O jardim de jacintos de Madame Sosostris” será lançado em dezembro deste ano para comemorar o centenário de lançamento de A Terra Devastada, de T.S. Eliot.

Três coisas que ainda estão na sua lista de desejos.

Tenho livros inéditos que ainda não consegui publicar, mas que estão esperando o momento para serem lançados. Há alguns grandes homens sobre quem que ainda não consegui escrever: Leonardo Da Vinci é um deles, e outros que escrevi em parte, como Colombo e Shakespeare.

Quem você diria que são seus antepassados literários – aqueles com quem aprendeu mais?

Sem ordem de importância, porque todos são importantes: Fernando Pessoa, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, T.S. Eliot, Shakespeare, Paul Éluard, André Breton, Emily Dickinson, Elizabeth Barrett Browning, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Murilo Mendes, Walt Whitman, Khalil Gibran, W. H. Auden, Dylan Thomas, Rainer Maria Rilke, Edgar Allan Poe, John Keats, Percy e Mary Shelley, Lorde Byron, Clarice Lispector, Sylvia Plath e Machado de Assis.

Existe alguma obra específica como treino intelectual para quem gostaria de ser escritor?

Todos os livros que puder ler. Leia bons livros de autores nacionais. Não leia más traduções. Se possível, leia os clássicos, com boas traduções. E também autores estrangeiros, no original.

Qual o livro da literatura mundial que gostaria de chamar de seu?

O Pequeno Príncipe. Aprendi com Exupéry que simples é mais, e menos é melhor. O essencial é primordial.

O que seus textos trazem como inspiração para outras pessoas?

Um dia, uma amiga me disse: “O seu poema respondeu à minha pergunta”. Eu me surpreendi, porque não sabia qual era a pergunta, como eu poderia tê-la respondido? Aí, compreendi que poesia é resposta. Eu não sei as perguntas, mas tenho as respostas. Escrevemos para responder às perguntas que as pessoas se fazem e não encontram respostas. Não sei para quem estou escrevendo, mas eu sei as respostas. Para isso serve a literatura, para responder às ansiedades e questionamentos humanas.

Algum projeto na gaveta para um futuro próximo?

Há alguns livros inéditos esperando eu ter tempo e dinheiro para fazê-los. E alguns para serem terminados, como a biografia do meu tataravô, que foi o primeiro presidente civil eleito por voto direto no Brasil, em 1894, Prudente de Moraes. Quero contar coisas que as biografias deixaram de fora.

Qual é a parte mais fácil e a parte mais difícil de se dedicar à literatura?

Ter tempo para fazer tudo é o mais difícil. O mais fácil não existe. Tudo é complicado. Mas ter essa experiência não tem preço. Aprendemos com os tombos e quedas.

Quando cria um protagonista para o seu enredo, quais as características imprescindíveis?

Não sou romancista. Não crio personagens irreais. Escrevo sobre personagens reais ou literários. Só tenho uma novela, chamada “Capitu”, em que dei voz à personagem mais injustiçada da literatura brasileira, por não ter podido se defender. Ela não existiu como Heloísa, que viveu no século XII, mas a mulher que inspirou a Capitu de Machado existiu, mas essa é outra história.

Este foi meu primeiro livro em prosa, inspirado em “Dom Casmurro”, seguindo a narrativa em tempo real do romance, como se fosse um diário de Capitu, ela falando consigo mesma, desde a infância até a vida adulta. Tem 22 capítulos. Como na poesia, não faço livros que não possam ser lidos inteiros por qualquer pessoa.

Poderia antecipar uma história que gostaria de escrever, mas ainda não escreveu?

Tenho um projeto sobre escritores que escreveram em cárcere ou exílio. Grandes obras da literatura foram feitas quando seus autores estavam na prisão ou exilados de sua terra natal. Situações extremas conduziram essas criações. São obras que indicam superação ou genialidade. Tenho a pesquisa pronta, mas ainda não sentei para finalizar o livro.

Cada hora descubro mais um autor que escreveu quando estava exilado ou preso. E todos são importantes para a literatura. O ser humano consegue escrever melhor em situações extremas. Esse é o fulcro da literatura: a sobrevivência.

Tem algum hábito de trabalho? Um horário específico do dia que a inspira mais?

Não. Escrever é um hábito em si. Tudo gira em torno disso. Não é uma parte do dia. As outras coisas que giram em torno da escrita. Se me deixarem, eu não como, não durmo, enquanto não termino de escrever ou revisar algum texto.

Não sinto cansaço nem sono. Só paro quando termino. Sou obrigada a parar para almoçar, jantar e dormir. Mas meu dia e minha noite são dedicados integralmente à escrita, que paro para fazer outras coisas que se tornam necessárias.

Quando termino de escrever, coloco a data e a hora do poema, crônica ou conto que escrevi, e assim podem ver que escrevo em todos os horários, de manhã, de tarde, de noite e de madrugada. Não tenho hora para a inspiração.

Qual a importância da capa do livro para você?

É o coeficiente de aquisição da obra. Uma boa capa é 50% de chance de alguém pegar meu livro e, se pegar, tenho certeza de que vai comprar, porque o conteúdo eu garanto.

Tem uma dica para quem quer seguir o sonho de ser escritor?

Escreva. Leia. Escreva de novo. Não desista. Leia tudo o que puder sobre o assunto que deseja escrever. Não existem dois livros iguais sobre o mesmo assunto. Nem tudo já foi escrito. Acredite.

Cite o melhor momento da sua carreira como escritora até hoje?

Uma carreira literária começa sem pensar que faremos uma carreira literária. Mas foi Claudio Willer, prefaciador do meu primeiro livro, “Joio & trigo” que me alertou sobre a necessidade de criarmos uma obra. E uma obra não se cria do dia para a noite. É preciso muita persistência e coerência no que se faz, mesmo inconscientemente. Aquilo que fiz no meu primeiro livro existe até hoje no 22º livro que lancei. O melhor momento da minha carreira aconteceu agora, no dia 18 de julho de 2022, quando li meus poemas no 32º Festival Internacional de Poesía de Medellín. Ser a única poeta brasileira no evento teve suma importância.

Não sabia que me conheciam na Colômbia. Foi a primeira vez que falei meus poemas para o mundo. Eu não ter desistido ao longo de 42 anos de carreira literária me trouxe esse reconhecimento como prêmio. Vou lançar a 4ª edição do meu primeiro livro de poesia, “Joio & trigo”, em outubro. Um livro que lapidei de tal forma, que não mudo nada nele até hoje. Eu sabia o que estava fazendo e foi isso que me levou a Medellín. Como disse Khalil Gibran, o nosso melhor poema é o próximo.



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